[Resenha] O Senhor das Moscas

Goutyne
By Goutyne

Quando se fala em clássicos da literatura universal O Senhor das Moscas é um dos livros menos lembrados pelos leitores brasileiros. O romance de estreia do autor britânico William Golding é um dos livros mais fluidos e fáceis de ler dessa leva de clássicos do século XX, afinal sua trama é de fácil interpretação, mas que também carrega tantas outras para serem analisadas.

Na trama um avião com vários meninos, entre 6 e 12 anos, cai em uma ilha deserta. Sem rastro do avião e de qualquer adulto de inicio esses meninos acreditam que irão viver uma aventura, semelhante há tantos livros de ilha perdida (como Robinson Crusoé), e um desses meninos percebe de imediato que eles precisam se organizar para conseguirem viver ali até serem resgatados.

Porquinho, como passa a ser chamado, se torna a única voz da razão naquele lugar onde começa uma disputa de líderes. Ralph, acaba se tornando o líder eleito do grupo, mas quais responsabilidades tem crianças para votar? Ele se prende a ideia de que o grupo precisa manter uma fogueira acesa caso um navio passe, uma esperança que ele carrega durante toda a narrativa.

Todos os conflitos da história, de modo geral, acontecem justamente por essa fogueira, já que o grupo de Jack acredita que a maior necessidade dos meninos é de comer carne. Claro, os conflitos são resumidos nesses dois aspectos mas o maior de tudo é a clara disputa dos dois meninos para liderar, a necessidade de ter uma posição de respeito em meio a outros. Em meio ao conflito de sobrevivência do grupo um monstro assusta as crianças menores, medo esse que com o passar do tempo irá assombrar também os maiores.

O problema quando você é o chefe é que precisa pensar, dizer a coisa certa. Aí a ocasião chega e você precisa tomar uma decisão. Por isso é que você tinha que pensar; porque o pensamento é uma coisa valiosa, que produz resultados…

Em um primeiro momento eu não gostei do livro. Algumas partes são confusas e outras acontecem muito rápido, mas conforme a leitura vai avançado é mais fácil de entender as decisões do autor para a  história. Em uma ideia de colocar dois meninos disputando uma liderança, mesmo que até certo momento isso não seja óbvio, o autor acaba fazendo essas crianças perdendo toda a sua inocência e os leitores perdem ali sua fé na humanidade, já que ao mostrar esses meninos que deveriam se ajudar brigando por algo superficial naquela situação incomum nós percebemos que a natureza humana não é isso que vemos na sociedade e que aqui ela fica apenas mascarada pelas nossas leis, regras, senso comum, e tudo mais. Ao usar crianças para provar essa ideia parece que ele quer fazer com que fiquemos até depressivos e odiando a humanidade, mas de certa forma não deixa de ser verdade. Nós podemos ver, como exemplo, alguns reality shows que mostram o homem na natureza, ou até mesmo em uma casa de luxo onde o pior de alguns ficam a mostra e que a situação só não é pior porque alguns dias da semana há influencia externa.

Com um elemento de fantástico na ilha há um monstro, que desde o primeiro dia é comentado pelos meninos. Após algumas páginas esse monstro fica na cabeça de uma porca que foi dada como sacrifício a ele, rodeado de moscas o livro apresenta o então Senhor das Moscas, também conhecido como Belzebu, um dos demônios mais poderosos do inferno. À partir dai parece que a história vai se tornar algo de terror, mas isso não acontecer. Apesar da entidade conversar com um dos meninos e atormentar tantos outros, mesmo que indiretamente, pouco ela é citada depois. Ao falar que ela não é citada não significa que ela não faz parte da história, pois os garotos sempre citam seu medo da ilha. Acho que de certa forma eu queria algo mais explicito sobre a criatura, mas é interessante tê-la somente como um elemento importante na cabeça dos meninos.

Acho importante falar sobre os personagens, pois eles transmitem toda a ideia do livro. Para mim Porquinho é o melhor, não apenas por ser a voz da razão, mas ele é inteligente e subestimado pelos outros. Um menino de 12 anos que tem asma e deixa de fazer as coisas porque a doença é muito grave. Apesar de eu achar um pouco improvável ele ficar ali tanto tempo sem um ataque ainda assim é um garoto que demonstrou coragem até quando morria de medo. Ralph é altruísta, acho que esse é o único adjetivo que consigo dar a ele.

Claro, ele não é perfeito, chega um momento em que ele briga e de certa forma ele tem a necessidade dessa liderança, mas ainda assim ele sempre tentou pensar no coletivo com as limitações dele. Sua fixação com o fogo pode ser um tanto quanto idiota, mas é a única esperança que ele tem de salvar o grupo no caso de um navio passar por ali. Inclusive, o próprio fogo/fogueira é um personagem da história, tamanha a sua importância. Se pensarmos na representatividade do fogo para a história da humanidade faz todo o sentido ser aquilo que os garotos mais necessitam.

Jack já é aquele que alguns podem considerar um vilão, mas assim como Ralph e Porquinho ele é apenas uma criança. Para ele a maior necessidade do grupo é o alimento, a carne, e por ser a necessidade que todos mais sentem ficou fácil para ele se provar. Apesar de odiar suas atitudes ainda acho importante seu antagonismo na história.

O livro não entrou na minha lista de favoritos, mas com certeza é um livro que irei reler novamente em alguns anos. A forma como ele pode ser interpretado, além do que foi dito aqui, vai sempre mudar de acordo com cada leitor. Alguns podem falar sobre religião, outros sobre inicio da humanidade, há também que já usou o livro para falar de politica. Então esse é um dos livros que eu tenho que dizer: leia, tire suas conclusões. Depois me diz se gostou ou não.

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