Praticamente todo mundo já sabe que a música consegue provocar fortes emoções, tanto que é chamada de “a linguagem das emoções”. No entanto, você já se perguntou como somos capazes de realizar essa façanha de reconhecer as emoções compartilhadas pelas canções?
Claramente, essas emoções não são transmitidas por meio das letras, já que as reconhecemos até mesmo em composições estritamente instrumentais. Até mesmo pessoas sem nenhum treinamento musical podem reconhecer emoções em músicas, o que nos dá a entender que nascemos com essa habilidade.
Ao longo deste artigo, abordaremos as descobertas de dois estudos que tentam explicar as nuances por trás disso.
As diferenças entre músicas “alegres” e “tristes”
Muitos estudos têm tentado classificar os fatores que diferenciam as músicas consideradas “tristes” daquelas tidas como “alegres”. Os cientistas geralmente fazem isso ao comparar as propriedades acústicas de peças musicais que são consistentemente classificadas pelos ouvintes nessas duas categorias distintas.
Eventualmente, os resultados de tais análises forneceram algumas constatações interessantes. Por exemplo, um estudo sugere que as músicas de ritmo lento e que utilizam escalas menores costumam despertar um sentimento de tristeza nos ouvintes. Por outro lado, canções mais rápidas e que fazem o uso de escalas maiores parecem mais felizes aos ouvidos humanos.
Você mesmo pode notar que uma música como “Waka Waka” da Shakira, que transmite um certo sentimento de otimismo, tem um andamento mais rápido e usa tons maiores em comparação com “My Heart Will Go On” de Celine Dion, aquela canção do filme “Titanic” capaz de deixar qualquer ouvinte com lágrimas nos olhos.
Na prática, esses resultados sugerem que nossos ouvidos diferenciam emoções em peças musicais usando certas propriedades acústicas fixas. Talvez isso aconteça porque as mesmas características acústicas da linguagem evocam emoções felizes ou tristes em nós.
As respostas cerebrais às emoções de músicas alegres e tristes
Como você pode ver, as peças musicais são distinguidas como alegres ou tristes no nível auditivo, mas será que o cérebro responde aos dois tipos de música de maneiras diferentes?
Um estudo recente que analisou a atividade cerebral descobriu que músicas tristes e alegres provocam respostas diferentes no cérebro. Os participantes deste estudo tiveram seus cérebros escaneados enquanto ouviam músicas “tristes” e “alegres”.
Os resultados mostraram que as músicas alegres deram origem à atividade nas regiões do cérebro ligadas à “dopamina”, um neurotransmissor (uma substância química do cérebro) liberado em resposta a estímulos prazerosos.
A dopamina, quando liberada no cérebro, nos deixa felizes e eufóricos, melhorando nosso humor. Dito isto, a dopamina não apenas torna prazeroso comer seu doce favorito, mas também o simples ato de ouvir sua música favorita!
Por outro lado, as músicas tristes aumentaram a atividade em regiões do cérebro ligadas ao processamento de emoções, como a amígdala. Esta é uma estrutura em forma de amêndoa no cérebro que nos ajuda a sentir uma ampla gama de emoções, como tristeza e medo. Em outras palavras, a mesma amígdala que sinaliza para você fugir de uma cobra também pode fazer você chorar ao ouvir uma música triste.
Em resumo, o cérebro fornece “prazer” em resposta à música alegre e nos torna “emocionais” ao ouvir música triste. Portanto, embora nossos ouvidos façam uma classificação primária das emoções na música, a resposta definitiva vem do cérebro.
Uma palavra final
A música em geral é frequentemente classificada como “feliz” ou “triste” pelos ouvintes, mas raramente foi questionado sobre como reconhecemos essas emoções na ausência de indicações específicas, como letras. Ainda assim, descobertas de estudos recentes sugerem que nossa habilidade de reconhecer emoções na música é uma extensão de nossa habilidade de sentir emoções na fala.
As características acústicas da fala humana que consideramos “tristes” ou “felizes” também são encontradas nas músicas. Isso tem levado os cientistas a acreditar cada vez mais que a capacidade exclusivamente humana de apreciar a música e sentir as emoções nela se originou como resultado de nossa capacidade de sentir entonações na fala, conhecida como “prosódia”.
No fim das contas, tudo isso indica que a música é, de certa forma, “um feliz acidente” que ocorreu na jornada evolutiva do desenvolvimento da linguagem humana.