[Resenha] A Autoestrada

Redação

A Autoestrada faz parte de um grupo de quatro obras conhecidas como Os Livros de Bachman. Escritas por Stephen King sob o pseudônimo de Richard Bachman, essas histórias são bem diferentes do estilo King de criação. Sim, Bachman é a voz mais visceral de King, sem firulas e sem muitas preocupações com finais felizes ou mensagens de esperança. Aqui a realidade é (bem) mais cruel que nas obras assinadas por SK.

De luto pela morte de seu único filho, desempregado e vendo o casamento desmoronar, George Dawes se agarra à casa em que mora, onda as lembranças da infância e do filho ainda lhe trazem algum conforto. Isso até que sua esposa decide vender o imóvel para uma construtora, que por sua vez pretende demoli-la para a construção de uma autoestrada.

Desnorteado e sem nada a perder, Dawes entra em uma loja para comprar duas armas, muita munição e todo tipo de material explosivo disponível. Aí tem início uma implacável jornada cujo foco é destruição das obras da rodovia, sua inimiga declarada. (Resenha: A Autoestrada – Stephen King)

Escrito em 1981, A Autoestrada é um livro insano em que acompanhamos detalhadamente o processo doentio que transforma o protagonista Bart Dawes de uma pessoa comum a um louco sem limites. Antes disso, porém, vale lembrar que a obra se passa num Estados Unidos da Guerra do Vietnã e do governo de Richard Nixon, ou seja, um período de grandes tensões sociais e políticas. O processo pelo qual Bart Dawes passa deve ser encarado não só pelo lado humano com todas as características do personagem, mas também pela perspectiva de uma sociedade inquieta com os rumos de seu país.

Ao ler A Autoestrada, coloque-se no lugar de seu protagonista e imagine que de um dia para o outro decidam construir uma rodovia que passa exatamente no lugar onde se encontra a sua casa. Isso mesmo! Aquela casa que você adquiriu com o suor do seu trabalho e na qual viveu inesquecíveis dias de sua vida. Junte a isso o fato de que seu filho pequeno faleceu a pouco tempo e a casa guarda lembranças que trazem dor, mas também representam suas mais fortes ligações com o garoto. Para completar, seu casamento não vai nada bem e a separação parece inevitável. Pronto! Temos o diagnóstico exato do processo que vai corroer a mente de Bart Dawes e que Stephen King vai nos mostrar de forma meticulosa, em detalhes viscerais e minuciosos.

A Autoestrada segue o estilo Bachman de escrita, esse alter ego sem piedade que mostra o lado mais cruel do mestre do horror. Para acompanhar a obra, é preciso ter paciência. Nada aqui acontece por acaso e não existe pressa. Bart Dawes é construído com calma e os leitores são levados a acompanhar todo o processo de insanidade que vai se desenrolar. O detalhamento da obra é fundamental para entendermos e, até certo ponto, concordarmos com as atitudes extremas do personagem. A marcha que se coloca em curso no livro é a de um homem no último grau de equilíbrio emocional possível contra o “progresso”, personificado na figura da rodovia.

Mergulhar nessa obra é ir fundo nos meandros da mente humana. Até que ponto uma pessoa é capaz de ir quando tudo que ela tem de referências na vida pode ruir ou ser tomado? Richard Bachman responde a essa pergunta de forma doentia, e nos conduz para um final inevitável, óbvio, mas mesmo assim chocante. Percorra essa autoestrada! Você não vai se arrepender!

Curiosidades

Os quatro Livros de Bachman são: Fúria (com publicação proibida por King), A Longa Marcha (fora de catálogo no Brasil), A Autoestrada, e O Concorrente.

Stephen King publicou outros livros como Richard Bachman. Mesmo após confirmar a “morte” do pseudônimo, eventualmente algum manuscrito dele é encontrado por sua viúva. O último foi Blaze, publicado em 2007 e ainda inédito no Brasil.

R$ 56,00
Amazon.com.br
Compartilhe Este Post
Follow:
Goutyne, curiosidade e conhecimento! explore o mundo sem sair do sofá. Vamos explorar!