[Resenha] A Rebelde do Deserto

Redação

Amani é uma órfã que vive com sua tia e marido e um amontoado de primos vivendo num cubículo sob condições precárias e indignas. Não sentir identificação com ela imediatamente é impossível, visto que não existe leitor que não vai sentir empatia por alguém tão sofrido assim. Então a partir desse ponto esperamos que Amani consiga o que quer: sair da Vila da Poeira e ir para um lugar melhor. 

Logo de cara, nem é preciso dizer que a história se passa no universo do oriente, porque não existe um leitor que não vai identificar as referências. Deserto, sheema, djinni, poligamia, sociedade machista… a narração toda tem um ar quente, árido e de pó. Porém, Amani ainda é uma garota diferente das que existem em Vila da Poeira. Ela se mete em concursos de tiros num lugar feito para homens, quando a descoberta disso poderia custar sua vida. Mas mesmo assim ela faz e não tem medo. 

Ela é ignorante sobre o mundo sendo que ela não cresceu em outro lugar a não ser na Vila da Poeira, mas ela é esperta, irônica, dotada (porque vamos combinar que não é qualquer um que pode sair atirando por aí), e de certa forma corajosa. De certa forma, porque tem um momento que ela deixa de ser corajosa para agir como as protagonistas egoístas que estão rodando por aí; aquelas que pensam em se safar em primeiro lugar e que se danem os outros. Já conheci uma Mare, Adelina, e agora Amani, que por um momento dão uma de bitch. Só reflete ao que estamos vivendo e indo viver onde o “olho por olho e dente por dente” impera, e isso me frustra e me decepciona. 

Logo no primeiro capítulo conhecemos Jin, o nosso candidato a par romântico, e claro que ele seria misterioso, apaixonante e super confiante. Não existe coisa pior do que um leitor se provar certo sobre alguma teoria, e à medida que eu ia lendo eu podia apostar uma coisa envolvendo o Jin. Só que foi no clímax que eu me senti sem graça pela minha suspeita estar errada. Ainda assim passou por cima do que eu esperava, mas conseguiu me surpreender. Aleluia! 

Só de ter uma personagem forte em algum livro, que seja a protagonista ou de destaque, eu já intitulo o livro como feminista. Mas aqui em A Rebelde do Deserto a autora quis passar tanta autoridade para a Amani que em algum momento Jin deixou de ter voz. Só acho que, para mostrar poder a mulher, não precisa enfraquecer um homem. E para quem reclama de poucas mulheres de destaque e relevância não poderá reclamar desse. Tem uma general e outras garotas realmente demais. 

Sobre o romance de Jin e Amani: perfeito! Meu tipo de romance envolvendo aventura é exatamente esse. Tem um pozinho de romance ao ponto de não enjoar e querer mais. Nada de amores escandalosos e declarações surreais. Num segundo livro o desenvolvimento do relacionamento dos dois nem vai estar esgotado, porque ele vai estar se desenvolvendo pouco a pouco, e isso é incrível. 

Foi uma leitura realmente gostosa acompanhar a jornada de Amani. Isso o que é um livro de aventura e ação, rico em cenários, fantasia e mitologia. Só que mais da metade para o final, o livro que seria cinco estrelas para mim, se tornou três, apenas pelos eventos que a autora decidiu tomar no clímax e o desfecho. Definitivamente senti como se um balde de água fria fosse jogado na minha cabeça. 

Está aí X-Man, Estilhaça-me, Rainha Vermelha, Jovens de Elite, e mais livros contendo show de poderes. Não sei se foi porque eu cansei dessa temática, mas isso me frustrou, embora depois eu tenha quebrado a cabeça procurando antecedentes que me fizesse adivinhar qual o poder que certo personagem teria. Não conseguir adivinhar e me surpreendi ao descobrir do que se tratava, e achei demais. Me frustrou outra descoberta meio desconexa, que “como estatisticamente ela foi descobrir isso?”. E de repente Amani tem um momento altruísta camuflado de egoísmo, que legal! Acho que avacalharam o livro todo pelo clímax. Santa tropeçada!

Abre parênteses. Não que nesse livro tenha isso, mas estou saturada do conceito “escolhido”. Acho que todas as pessoas podem fazer a diferença, mesmo não tendo poderes e destino para isso. Fecha parênteses. 

É possível achar um livro mediano e ainda assim favoritá-lo? Sim, é possível. Eu simplesmente me encantei com a escrita da autora e me envolvi com a narração. E definitivamente a narração de Alwyn Hamilton vou levar como modelo para a vida toda.

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