O livro consiste numa compilação de cartas escritas para o aprendiz Vermebile pelo seu tio e tutor Fitafuso. Nestas cartas o demônio Fitafuso instrui seu sobrinho ao ofício da tentação humana.
O mais intrigante é que por meio dessas instruções acabamos conhecendo ainda mais a mente humana. Imagine só, um demônio sabe mais sobre você do que você mesmo.
Fitafuso reprime diversas vezes seu inexperiente aprendiz, e usa uma linguagem formal e polida em seus escritos. É um livro intrigante, inteligente, mas principalmente divertido.
As previsões e sugestões do tutor são bem contextualizadas, muitas vezes acompanhadas de ironia e sarcasmo e por falar em contexto o momento histórico cuja estória acontece é a segunda guerra mundial. A ironia e sarcasmo faz com que o livro seja divertido, atribuindo a este uma certa leveza apesar do tema ser pesadíssimo. O modo como o tema divino/profano é levado me lembra um pouco o Auto da Barca do Inferno.
Escrito em forma de cartas, as quais apareceram pela primeira vez no The Guardian e só vieram a ser compiladas e publicadas em 1942, como um livro, Cartas de um diabo a seu aprendiz se trata de uma das obras mais famosas de C.S Lewis.
Na escrita epistolar, acompanhamos os conselhos de “Maldanado”, um poderoso demônio, para seu sobrinho, “Vermelindo”, ainda iniciante na arte de fazer humanos cair em pecado. A partir disso, somos expostos às diversas táticas ensinadas ao jovem monstro para como conduzir o “paciente” para longe do “Inimigo”, Deus.
De forma descontraída e inteligente, Lewis cria uma espécie de abordagem singular e curiosa sobre os caminhos de um cristão e suas atitudes no relativo às tentações.
Nesse contexto, o ponto de vista, como já mencionado, do lado mau da força, traz consigo uma diversidade incrível de falhas pessoais, as quais dificilmente perceberíamos no dia a dia se não nos fosse demonstrado a estratégia adversária. Dessa maneira, acaba por ser uma espécie de debate entre o leitor e o demônio, no qual, o humano que acompanha a obra entende, passo a passo as táticas do perseguidor e muitas vezes pensamentos precipitados pessoais, os quais nos afastam de Deus.
Tudo isso, com um bom humor latente, capaz de suavizar a dureza a qual poderia tonalizar a obra, mas que deixa de estar presente em face da fluidez da escrita e da caricatura de certas atitudes e expressões ditas por Maldanado.
Cartas de um diabo a seu aprendiz é um livro divertido, inteligente e propositivo, capaz de perscrutar diversas ideias, as quais teríamos grande dificuldade de entender, se não pela ótima maneira com a qual o autor as coloca durante as páginas.
A escrita do livro é bem clara e fluida, como já sabemos que é a escrita de C.S. Lewis desde As Crônicas de Nárnia. Como são várias cartas, é fácil se localizar no livro, dá para ler carta por carta (geralmente cada uma traz um assunto diferente das demais) sem se perder. Como lí em pdf pelo celular, me perdi várias vezes nas tentativas de voltar para reler um trecho anterior (usei adobe reader, não recomendo).
No prefácio o autor faz uma declaração sobre a não continuidade das cartas de Fitafuso. E algumas críticas sobre sua própria obra.Após o esclarecimento a respeito do fim das cartas somos presenteados com um bônus. O autor cedeu ao Saturday Evening Post um discurso feito pelo diabo Fitafuso.Por fim, recomendo fortemente esse livro à todos de todas as religiões e todas as idades. Apesar de Lewis ter sido cristão, suas obras foram escritas de maneira tal que cativa a todos por não serem obras apelativas. Vale comentar que o livro foi dedicado “para J.R.R. Tolkien” seu grande amigo, escritor de O Senhor dos Anéis, e ateu.