[Resenha] Viva para contar, de Lisa Gardner

Redação
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Assim que vi a frase Às vezes, os crimes mais devastadores são aqueles que acontecem mais perto de nós. na capa do livro sabia que eu não ia sossegar enquanto não lesse esse livro. Acabei comprando ele na última Bienal do Livro aqui em São Paulo por uma pechincha: só 16 dilmas! Acabei descobrindo que ele fazia parte de uma série quando pesquisei mais sobre ele em casa. Tudo que eu posso dizer antes de começar essa resenha é que esse foi um dos poucos livros que eu li esse ano que superou as minhas expectativas.

“Quando uma pessoa abre mão de algumas partes de si mesma, nunca mais consegue recuperá-las.” – pág 22

Logo no começo somos apresentados a um crime que nos subúrbios de Boston: uma família inteira foi assassinada e a polícia suspeita que foi uma chacina seguida de tentativa de suicídio. O principal suspeito? O pai da família que está internado na UTI. Entra em cena então a protagonista da série: D. D. Warren, sargento que está cuidando do caso. Ela é descrita como uma mulherona, na casa dos 40, solteira e ainda em busca eterna por um parceiro. A personagem é decidida, racional, inteligente, determinada e tem um senso de humor incrível e foi muito fácil eu me apegar a ela.

A narração do livro é dividida entre três mulheres: a sargento D. D. Warren, Danielle e Victoria. Danielle Burton é uma super dedicada enfermeira na ala psiquiátrica (e infantil) de um hospital. Ela é a única sobrevivente de uma tragédia que aconteceu com a sua família. Seu trauma do passado, porém, não se foi completamente e ela carrega a culpa do sobrevivente: “por quê todos se foram e eu fiquei?”. Ela se afunda em trabalho para tentar se esquecer do seu próprio passado quando o aniversário de 25 anos da tragédia se aproxima, mas os dias ficam cada vez piorem de aguentar. Já Victoria Oliver tinha uma vida profissional ótima e uma família. Agora ela é mãe em tempo integral e nem se lembra mais do que é ter uma vida normal. Uma mãe que faz o possível e o impossível para que seu filho seja feliz e para protegê-lo, mesmo sendo ameaçada dentro de sua própria casa.

“Você se esforça quando é pai ou mãe. Você ama além de qualquer defeito. Você luta além de qualquer dificuldade. Sua esperança vai muito além de qualquer decepção. Mas você nunca pensa, até o último minuto, que tudo isso pode não ser o suficiente.” – pág 108

No começo da minha leitura eu gostei muito das três tramas, mas não conseguia imaginar como a autora iria juntar todas elas em algum ponto em comum mais para a frente no livro. Pouco a pouco os segredos vão sendo revelados e o leitor começa a compreender que a trama é muito mais pesada do que a gente imagina ao pegar esse livro pra ler. Lisa aborda um tema muito pouco explorado em thrillers como esse, que são as crianças psicóticas. Para mim, como mulher, foi um grande exercício mental de questionamento ler esse livro. É muito difícil julgar as atitudes das personagens sem tentar se colocar no lugar delas nem que seja por um simples momento. Acredito que a abordagem desse tema foi dos motivos desse livro ter me impressionado tanto. Já é difícil aceitar/entender um assassino adulto com ideias formadas e seus propósitos. Mas ler a descrição da frieza de crianças com menos de 12 anos foi além de tudo que eu já tinha lido em thrillers policiais.

“- Garotos normais não sorriem daquele jeito, sargento. Garotos normais não lambem as mãos ensaguentadas.” – pág 81

Lisa Gardner dá profundidade aos personagens e os sentimentos conflitantes dele. Nas narrações em primeira pessoa, por muitas vezes, me sentia como se estivesse dialogando com D. D., Danielle ou Victoria. Como se elas fossem amigas que estivessem contando seus problemas do dia a dia com as suas respectivas famílias, ou falta de, ou ainda como se estivesse presente nas agoniantes cenas de terror e suspense junto com elas. A autora atinge o seu objetivo, levando o leitor pra dentro da história. Eu mesma quase perdi meu ponto do ônibus algumas vezes enquanto estava lendo esse livro.

Apesar de esse ser um livro com uma temática pesada, a personagem de D. D. trás momentos de escapes com algumas piadinhas sobre a vida pessoal da sargento e acredito que isso deva ser um traço que vem dos primeiros livros da série. Infelizmente a série saiu fora da ordem por aqui (eu odeio quando fazem isso!). Viva para contar é na verdade o quarto livro publicado na série D. D. Warren. Mas como os casos são independentes uns dos outros, não há nenhum problema em ler fora de ordem. Acredito que a única coisa que “perdemos” é o crescimento da personagem principal ao longo dos livros.

“Todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua própria maneira.” – pág 416 (frase que aparece no livro é na verdade uma citação de Anna Karenina)

A Novo Conceito já confirmou que mais três livros da série estão na lista de publicação: “Hide”, “The Neighbor” e “Love You More”; respectivamente os livros 2, 3 e 5 da série de livros com D. D. Warren. Ainda não há data de lançamento prevista para nenhum deles. Agora é torcer pra que não demore muito!

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