Quando eu soube do lançamento de uma fantasia nacional pela editora Intrínseca, meio que dancei em cima da mesa. Nunca desde que me assumi como viciada em leitura de livros e passei a tentar entender um pouquinho mais sobre como funciona a edição e publicação de livros e o mercado editorial, nunca vi a Intrínseca publicar uma fantasia nacional. Então, acho que a minha euforia ao saber do Ordem Vermelha – Filhos da Degradação, escrito por Felipe Castilho, é bem compreensível.
Assim que a sinopse do livro foi liberada, eu passei a roer as unhas para o lançamento. Felizmente, as minhas unhas roídas foram recompensadas, porque eu adorei a história.
Vamos a um resuminho! Ordem Vermelha – Filhos da Degradação nos leva para Untherak, a última região habitada do mundo — pelo menos, até onde se sabe —, onde vivem humanos, anões, kaorshs — você deve estar se perguntando que raio de bicho é esse, mas calma que eu também não sabia até ler o livro, então vai lá —, sinfos, gnolls e bichinhos fofos e simpáticos como betouros — o “fofos e simpáticos” foi sarcástico, okay?
O povo é comandado pela deusa Una, que é o cão chupando manga. O objetivo dela é fazer a galera sofrer e ser louvada como soberana divina e absoluta.
Entretanto, quando surge uma figura misteriosa, que passa a ser conhecida como Aparição, e começa a bagunçar a coisa toda, a ditadura de Uma começa a se abalar. Tudo vira uma grande festa quando Aparição junta um grupinho rebelde, que resolve ajudá-la a tacar fogo no circo de Una. E é isso aí…
Nem sei por onde começar a falar. Acho que vou iniciar com os personagens principais, que estão muito bem montados. Cada um deles têm uma personalidade marcante e muito pessoal, mas o que me chamou a atenção é que eles são contraditórios e isso funciona muito bem. A kaorsh Raazi, por exemplo, é incrivelmente forte, mas é também muito apaixonada; o humano Aelian consegue ser altruísta e até fofo, embora se comporte como um moleque de vez em quando; o anão Harun é muito rabugento e implicante, mas também é como um paizão que protege todo mundo; o sinfo Ziggy é o cara mais legal e desencanado da história inteira, mas ele também consegue ser bem perigoso quando quer; e tem outros personagens importantes que eu não posso comentar aqui, porque poderia estragar alguma surpresa. Essa construção dos personagens se mantém até o final e é um dos elementos que dá concretude à obra.
O universo criado para a história do Ordem Vermelha me parece totalmente fictício e saído da cabeça do autor, mas é bem feito e sem pontas soltas — eu, pelo menos, não encontrei nenhuma.
Tem muitas reviravoltas, muitas surpresas, muitos mistérios, sangue e lágrimas. Sem falar que a mensagem que o livro passa é bem interessante.
Se você quer saber que mensagem é essa, sugiro fortemente que leia o livro. O final é deixado totalmente em aberto e com muitas expectativas para a continuação — que eu espero que venha logo, tipo… amanhã. Tem muitas, muitas coisas que eu gostaria de abordar aqui sobre a estrutura e a história do Ordem Vermelha, mas acho que se eu fizesse isso, terminaria no meu linchamento, porque eu teria que dar alguns spoilers e estragar algumas surpresas.
Então, acho melhor eu ficar quieta e apenas dizer para que leia o livro. No entanto, acho que é seguro dizer que o que, sem sombra de dúvidas, me chamou mais a atenção e foi o grande motivo para eu ter gostado tanto desse livro foi a escrita do autor. A impressão que me deu foi que ele realmente sabe o que está fazendo, ele conhece a língua portuguesa e sabe como usá-la muito bem.
Essa, ao meu ver, é a maior arma que o escritor pode ter. Sabendo usar o seu principal instrumento de trabalho — porque a língua é a principal ferramenta do escritor, né —, não importa se o escritor narrar uma história que já teve mil versões, se ele souber fazer bom uso da língua e souber como montar um texto, não tem como não ser interessante.
E eu senti essa habilidade na escrita do autor de Ordem Vermelha. Quanto ao trabalho da editora, está excelente. Normalmente, a Intrínseca apresenta livros sempre muito bonitos e bem feitos e, dessa vez, não deixou a desejar. A arte da capa está ótima — dá para ver que foi feita justamente para esse livro, o que conta muitos pontos a favor — e o trabalho interior do material está muito, muito bom também — adorei que tenham colocado um mapa com folha tripla bem no meio do livro. A editora está de parabéns!
Eu admito que, julgando pelas matérias, entrevistas e vídeos que vi pelas redes sociais, esperava encontrar artes ligadas à história ao longo do livro, mas não tem nenhum — além do mapa sensacional. Então, estou meio que ansiosa para ver essas artes e onde elas se encaixam.
Eu tinha grandes expectativas para o Ordem Vermelha e, felizmente, essas expectativas foram até superadas. Acho que os fãs de fantasia vão gostar muito desse livro. E eu não sei se eu tenho o direito de me sentir assim, mas ver um livro nacional tão bem feito me deixou um pouco orgulhosa.