[Resenha] O Plano Perfeito Para Dar Errado

Redação

Aquela linha tênue entre o amor e a amizade. Quer dizer, quase não tão tênue assim. Porque em uma amizade há muito amor. Amor de amigo, amor fraterno. Mas e quando esse amor se transforma em algo mais? Quem nunca se encontrou nesse dilema? Arriscar perder um(a) amigo(a) ao dizer o que sente ou preservar aquilo que já tem e é tão especial? Por que não simplesmente confessar os sentimentos e, quem sabe, ser ainda mais feliz ao lado da pessoa certa? Cameron Lund nos traz a sua visão sobre relacionamentos na adolescência em O Plano Perfeito Para Dar Errado, publicado aqui no Brasil pela Faro Editorial.

Na trama, Keely se vê constrangida ao saber que sua última amiga virgem não é mais virgem. Ao mesmo tempo que não quer ser a única na turma com esse status, ela também não quer que isso aconteça com qualquer um, de qualquer jeito. Só tem um detalhe: Keely mora numa cidade pequena e conhece praticamente todos os meninos desde que nasceu, o que dificulta um pouco as coisas, ainda mais quando ela é obrigada a ouvir certas coisas e depois de já tê-los visto em seus piores momentos. Até que ela encontra Dean, um cara sexy, mais velho, já na faculdade. O problema é que Keely é muito insegura e apavorada com a possibilidade de estragar a sua primeira vez com Dean. Por isso, decide que a melhor solução é perder a virgindade com Andrew, seu melhor amigo. Assim, ela se sentiria segura e eles poderiam continuar sendo amigos. Será?

O Plano Perfeito Para Dar Errado é aquele clichê que a gente adora. A velha premissa de melhores amigos que precisam lidar com os próprios sentimentos. Impossível não sentir uma certa nostalgia (para quem, como eu, já passou da adolescência há algum tempo – ouch) e não ser envolvida pela trama que lembra os nossos clássicos maravilhosos no estilo Sessão da Tarde. O que me chamou mais atenção na obra foi a escrita de Cameron Lund. Porque ela não menospreza seus leitores nem seus personagens. A autora possui uma escrita objetiva e natural, representando bem os tons e as nuances da adolescência, com toda a sua intensidade, seus medos e receios. Ela não romantiza este período. Pelo contrário. Inclusive, em alguns momentos, achei até bastante dura a representação e não tão agradável, contudo, verdadeira.

Keely poderia ser qualquer uma de nós. Absorta em sua própria bolha de insegurança, é incapaz de enxergar a si mesma da maneira como os outros lhe veem e inconscientemente – ou, até mesmo, de forma consciente, às vezes – aceita a autosabotagem a que se submeteu. Desesperada para seguir os padrões impostos, é capaz de passar por cima de suas próprias vontades para ser aceita por pessoas com as quais ela nem se importa, de fato. A não ser Andrew. A amizade dos dois é uma delícia de acompanhar. A maneira leve e jovial com que um lida com o outro, como eles se conhecem perfeitamente e comos ambos conseguem mostrar suas verdadeiras essências quando estão juntos. Eu adorei a química e a dinâmica entre eles. Porque  um conhece não apenas as qualidades, mas os defeitos um do outro. E tudo bem. Eles se aceitam do jeito que são.

Toda a história do plano de Keely chega a ser até um pouco absurda, mas nada que pareça tão impossível assim (eu acho). Às vezes, tive que abrir um pouco a mente para entender as atitudes da idade e do contexto, mas nada que prejudicasse a minha leitura. No geral, todos os personagens têm seus dilemas, embates e bagagens emocionais para enfrentar. Alguns um pouco mais irritantes do que outros, mas, né, impossível ter unanimidade, principalmente quando se trata de adolescentes.

O Plano Perfeito Para Dar Errado, mais do que qualquer coisa, é uma espécie de aviso. De debate. Sobre aceitação. Sobre como estamos dispostos a nos enganar para não sermos “diferentes”. Não só com Keely e Andrew (que também tem seus fantasmas e usa a sua “máscara”), mas com praticamente todos os personagens da trama, Cameron traz à tona a questão de como temos uma urgência em aceitar padrões e seguirmos certos conceitos, mesmo que isso nos machuque, nos transforme como pessoas. Neste livro, ninguém está livre disso, muito menos sai impune. Porque, quando você vai contra a sua própria essência, isso traz consequências. Deixa marcas. Algumas mais fundas, capazes de mudar a sua vida. O Plano Perfeito Para Dar Errado mostra que essa busca por status, por uma suposta perfeição, envolve muito mais do que perder a virgindade ou ser a menina mais popular da escola. Envolve amor próprio, verdade. E isso vale não apenas para os adolescentes, tá? Fica a dica.

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