[Resenha] O Mistério do 5 Estrelas

Redação

Poucas coisas na experiência humana se igualam ao momento em que descobrimos o prazer por trás do ato da leitura. Se entregar aos encantos de um livro, mergulhar em sua história, desconectar do mundo ao redor e viajar, sonhar, extrapolar os limites do real e, em certo aspecto se aventurar junto aos personagens por mistérios, universos e romances.

Ter a oportunidade de esbarrar em um livro que conquiste sua atenção e a partir dele desperte o hábito e o gosto pela leitura, ainda criança, é, na minha opinião, tirar a sorte grande na vida.

Um homem é assassinado no apartamento 222 do Emperor Park Hotel. O único que viu o corpo foi Léo, o mensageiro. Mas ninguém acredita em suas histórias, a não ser seus amigos Gino, Ângela e Guima. Léo é apenas um garoto e seus inimigos são ricos e poderosos. Sem ter provas nenhuma contra elas, acaba perdendo o emprego e sendo procurado pela polícia, achando que tem problema de cabeça. Quem conseguirá desvendar o mistério do cinco estrelas? (Resenha: O Mistério do 5 Estrelas – Marcos Rey)

Durante algumas décadas, a partir dos anos 1970, a literatura infanto-juvenil brasileira foi presenteada pela imortal Coleção Vaga-Lume. Em meio às joias publicadas nesta coleção se encontra um daqueles livros fundamentais na minha formação como fã do suspense. Entre as muitas publicações de Marcos Rey, O Mistério do 5 Estrelas é um daqueles livros que fisga a atenção de qualquer criança e a leva num caminho sem volta para o mundo da leitura. E, décadas depois, ainda tem a capacidade de fascinar um adulto e trazer para o rosto aquele sorriso prazeroso de se reencontrar com memórias da infância.

A história do garoto que acha ter testemunhado um assassinato e decide ir a fundo para investigar o caso, lutando contra alguém poderoso e influente tem ares, inicialmente, de se desenrolar da forma mais simples e banal possível. Na inocência dessa aventura encontramos, porém, uma trama bem elaborada com inúmeros desdobramentos e reviravoltas para ninguém por defeito.

O trio de personagens, com um destaque absurdo para Gino, o cadeirante fã de xadrez que faz as melhores jogadas na investigação, é a síntese do que toda criança de interior lá nos anos 1980 idealizava de aventura para suas brincadeiras. Longe das modernidades tecnológicas que povoam a vida de hoje, O Mistério do 5 Estrelas traz um suspense juvenil recheado da adrenalina que motivou muitos de nós na infância a sonhar.

Quantos aí nunca sonharam ou brincaram de ser detetive, polícia e ladrão, ser o mocinho que frustra os planos do vilão? E quantos mistérios já não foram criados e solucionados na criatividade que só a imaginação infantil é capaz? São esses ingredientes que fazem a obra de Marcos Rey permanecer forte e encantadora décadas depois, mesmo em uma realidade de país totalmente diferente.

Na busca pela solução de um mistério, o protagonista Léo vai esbarrando em situações cotidianas, comuns e até problemáticas desse Brasilzão. A diferença de classes entre ele e a menina por quem é apaixonado, o ricaço que parece flutuar acima da lei e é respeitado justamente pelo dinheiro que possui, a polícia que desconfia do mais pobre, mas há também a solidariedade de vizinhos e amigos, as pessoas dispostas a correr riscos para ajudar o outro, a alegria sem fim e o otimismo, mesmo frente à dificuldade. No fundo O Mistério do 5 Estrelas camufla o cotidiano em uma aventura deliciosa.

Reeditando toda a obra de Marcos Rey, a editora Global traz dois presentes aos apaixonados por livros. Primeiro ao dar a oportunidade de mais pessoas desvendarem, e se viciarem, nesse mundo das letras, e segundo por permitir a leitores como eu se reencontrar com essas histórias e redescobrir o prazer que se esconde por trás de cada página de um livro.

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