[Resenha] Noite sem Fim

Redação

Esqueça os detetives à caça de pistas e os muitos suspeitos com seus segredos e comportamentos estranhos. Noite sem Fim traz uma Agatha Christie bem diferente da fórmula clássica que consagrou suas obras. O clima de mistério, no entanto, vai sendo construído normalmente e reserva uma boa surpresa para os leitores.

“Toda noite e todo amanhecer/ Alguns nascem para sofrer./ Toda manhã e todo anoitecer/ Alguns nascem para o doce prazer,/ Alguns nascem para o doce prazer, sim./ Alguns nascem para uma noite sem fim…”. Os versos da canção que o impetuoso Mike adora ouvir sua doce Ellie entoar simbolizam o contraste insuperável entre pobreza e riqueza, felicidade e cobiça, paixão e traição que Agatha Christie espalha entre as pistas falsas deste romance publicado em 1967.

Um lugar amaldiçoado, uma cigana que cospe impropérios e um grupo de personagens ambíguos e ambiciosos agregam outras sombras ao mistério de uma morte súbita. Novato ou veterano, o leitor de Christie sempre descobre que nada é o que parece. Disfarçada de autora inofensiva, a escritora primeiro cativa e, quando já é tarde demais, anuncia que nesta caixa de belos bombons alguns estão envenenados.  (Resenha: Noite sem Fim – Agatha Christie)

A princípio, Noite sem Fim é um despretensioso livro sobre um romance entre dois apaixonados. A trama chega a ser lenta tamanha falta de ação ou de elementos que movimentem a narrativa sobre a paixão do pobre Mike pela milionária Ellie. O inusitado, porém, é o que vai guiar os desdobramentos da história. A ambição de Mike por um terreno que, dizem, ser amaldiçoado soma-se a pragas e previsões sinistras feitas por uma velha cigana.

Ao passear pelos ermos do lugar ele conhece Ellie. Isso mesmo. A jovem ricaça simplesmente está ali, nos entornos desertos do local que ele cobiça. Amor à primeira vista que se concretiza em casamento e na compra do famigerado lugar. Nasce assim o lar dos dois pombinhos ainda envolto nos mistérios ciganos.

Até a história se desenrolar para uma inexplicável morte, já próximo da metade final, Noite sem Fim não reserva nada aos leitores além de descrições de passeios, cenas do cotidiano do casal e encontros familiares. Esse é o ponto frágil do livro, já que falando bem francamente a trama não seduz ou cativa nossa simpatia. A bem da verdade, acostumados como estamos à autora, ficamos sempre na expectativa de que algo aconteça para balançar o ritmo. Mas isso demora muitos capítulos e quando, enfim, temos o óbito, a sequência é ágil a ponto de o livro terminar poucas páginas depois. Justiça seja feita, a reviravolta que conduz ao desfecho é bem inesperada, ou talvez todo o marasmo da obra como um todo tenha servido justamente para desviar nossa atenção.

Das obras independentes escritas por Agatha Christie – aquelas que não trazem seus detetives como protagonistas, Noite sem Fim é um livro curioso, mas fraco. Uma boa leitura, mas que a depender do seu gosto e da lista de livros que você tenha na fila, não vale a pena investir seu tempo nele.

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