[Resenha] Metamorfose?, de Gail Carriger

Redação
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Depois de amar e devorar Alma?, eu estava ansiosa por esse segundo volume da série O Protetorado da Sombrinha, que despertou novamente meu interesse pelo gênero steampunk. Contudo, a leitura mostrou-se decepcionante, não no sentido de ser ruim, mas apenas por não conseguir me cativar tanto quanto a anterior. A primeira metade de Metamorfose? é bem arrastada e morna, não conseguindo manter o ritmo eletrizante e apaixonante de Alma?. A narrativa da autora não prende tanta a atenção nesse volume e, apesar de continuar com seu tom divertido, a ironia e provocação dos diálogos soam um tanto forçados nesse livro. Também senti que, em vários momentos, Gail Carriger estendeu cenas além do necessário, sendo que elas soam desconexas, sem propósito para a trama como um todo, por boa parte da leitura.

E isso demonstra o que, para mim, foi o ponto mais negativo do livro, a história. Na primeira metade de Metamorfose? a autora parece não saber muito bem para onde está indo. Ela insere vários personagens novos que, apesar de interessantes, deixam o texto muito cheio de informação e, logo, lento. Como em Alma?, Carriger aposta em uma trama com acontecimentos malucos que misturam comédia, drama, mistério e ação, mas não tão inesperados quanto pretendiam ser. Eu já tinha uma ideia bem clara do desfecho de Metamorfose? umas boas 50-60 páginas antes do final, o que, felizmente, não deixou o encerramento do livro menos chocante e emocionante. Na segunda metade da obra, a autora consegue costurar os acontecimentos dispersos da primeira metade em um conflito principal e secundários que fazem sentido, mas que não compensam pela leitura arrastada até ali. O desfecho movimentado de Metamorfose? me deu esperanças para continuar lendo a série, mas confesso que fiquei bem frustrada por ele interromper brutalmente a história, deixando uma gigantesca ponta solta para o livro seguinte.

OS PERSONAGENS

Nossos personagens favoritos voltam ainda mais eles mesmos em Metamorfose?. Alexia continua sendo aquela mocinha sem noção, dona do próprio nariz e que encara qualquer coisa, nos fazendo rir muito no processo. Amei suas interações com a melhor amiga e a irmã mais nova, assim como seu novo lado de Alfa da alcateia do marido. E, falando nele, senti falta de mais cenas de Alexia e Lorde Maccon, eles passam o livro se desencontrando, tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Há muita fricção entre o casal em Metamorfose?, o que me deixou um pouco triste, já que imaginei que a fase “lua de mel” dos dois, presente no final do último livro, continuaria por mais tempo. Mas, felizmente, Lorde Maccon ainda é um lobisomem charmoso e mal-humorado, e ele e Alexia ainda fazem um par fofo e do qual jamais vou me cansar.

Compensando menos cenas do nosso casal favorito, a autora introduz outro par romântico bem inesperado, mas igualmente hilário, envolvendo a melhor amiga de Alexia. Apesar de ter me irritado com o drama amoroso demasiadamente dramático da srta. Ivy Hisselpenny, fiquei feliz por ver mais dela e de seus chapéus ridículos em Metamorfose?. Apesar de que, confesso, achei que a autora perdeu a mão em determinados momentos, forçando a Ivy como alívio cômico em cenas que poderiam ser completamente sérias sem tirar o aspecto divertido do livro como um todo. 

Dos novos personagens introduzidos, adorei conhecer o Gama da alcateia, Major Channing Channing. Ele é irritante na mesma medida em que é charmoso, e espero vê-lo mais nos próximos volumes do Protetorado da Sombrinha. Contudo, minha aquisição favorita a trama foi Madame Lefoux, a brilhante e misteriosa inventora francesa. Apesar de ter minhas críticas quanto a personagem ser muito masculinizada por um motivo clichê, gostei de sua personalidade e já prevejo que sendo tão atraída para confusões com sobrenaturais, ela provocará boas risadas e emoções em histórias futuras da saga.

A EDIÇÃO

Metamorfose? segue o mesmo estilo da excelente edição de Alma?. A tradução está perfeita e a diagramação traz alguns detalhes fofos, como um desenho de polvo na numeração das páginas. Não gosto da capa desse livro também, acho-a forçada e pouco atraente. Mas, pelo menos a capa de Metamorfose? combina com a história (especialmente por causa do dirigível ao fundo) e com a capa de Alma? e demais volumes da série.

CONCLUSÃO FINAL

Se fosse um livro único, independente do resto da série ou até mesmo o primeiro volume dela, Metamorfose? teria sido uma experiência bem mais positiva para mim. Mas, sendo a continuação de Alma?, uma obra apaixonante, emocionante e hilária, é impossível não fazer comparações e considerar que Metamorfose? não alcança o mesmo nível de criatividade e envolvimento do seu antecessor. Ressalto: o livro não é ruim, mas é apenas uma sombra do que poderia ser.

Ao introduzir personagens novos em uma história, que, a princípio, parece desconexa, a autora não consegue prender ou cativar muito o leitor. Com uma leitura lenta durante metade do livro, mesmo o final emocionante e chocante de Metamorfose? não é o suficiente para retirar aquela sensação de que a autora poderia ter feito mais – ou feito melhor. A grande ponta solta no final do livro foi uma jogada de mestre, no sentido de deixar qualquer um curioso para ver o que virá a seguir. Mas, mesmo com a leitura morna de Metamorfose?, continuo adorando a mocinha da saga e esperançosa de que os próximos livros do Protetorado da Sombrinha conseguirão alcançar a glória do primeiro volume.

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