[Resenha] Jo Nesbø – A casa da dor: 4

Redação

Desde que li “A Estrela do Diabo” – quinto livro protagonizado pelo detetive Harry Hole – tenho vontade de conferir “A Casa da Dor”, livro que o antecede e que prepara o terreno de alguns eventos que vi no meu primeiro contato com a ótima série escrita por Jo Nesbø.

Um ladrão de bancos está as soltas pelas ruas de Oslo e cabe a Harry Hole descobrir sua identidade e capturá-lo. Enquanto isso, o detetive não vê problemas em aceitar o convite de Anne, uma ex-namorada, para jantar, mas no dia seguinte, ele se vê em casa, sem lembranças da noite anterior e com todos os indícios de que teve uma recaída e bebeu. As surpresas não param por aí. No mesmo dia, o corpo de Anne é encontrado e tudo indica que ela tenha cometido suicídio, porém Harry começa a receber emails de alguém que sabe que ele esteve com a moça na noite anterior. Alguém que talvez tenha sido responsável por sua morte e que pode estar tentando incriminá-lo. Precisando solucionar os dois casos, Harry também continua insatisfeito com as respostas para a morte de sua ex-parceira, assassinada em uma investigação meses antes.

A meu ver, existe uma pequena trilogia dentro da série Harry Hole que se forma a partir do assassinato de Ellen Gjelten, parceira de longa data e amiga do detetive. O interessante é que a morte de Ellen acontece em “Garganta Vermelha”, sendo investigada por Harry em “A Casa da Dor” e provada em “A Estrela do Diabo” (livros 3, 4 e 5 da série, respectivamente). Interessante também é que o crime é testemunhado pelo leitor, de forma que Nesbø não faz suspense com a identidade do assassino, criando expectativa em ver Harry descobrir e lidar com isso.

No meu caso, li “A Estrela do Diabo” antes de todos os outros da série e por isso já sabia o desfecho do caso desde o início. Mas Nesbø cria personagens e conflitos tão interessantes nessa sub-trama que um dos meus maiores interesses na série era preencher as lacunas do assassinato de Ellen. Isso se deu com “A Casa da Dor”, já que “Garganta Vermelha” foi o livro que li depois de “A Estrela do Diabo”. Para minha surpresa, Harry não investiga a fundo o assassinato nesse livro. Seu foco está em outros casos (“A Casa da Dor” é o livro mais “profissional” de Hole), mas a morte da ex-parceira nunca sai da sua cabeça. Confesso que eu esperava mais desse arco, mas ao finalizar a leitura, percebi que o autor prepara terreno de maneira espetacular para o que vem pela frente.

Surpresa veio também na forma dele que é um dos meus detetives favoritos da literatura policial contemporânea e, conhecendo Harry Hole, nada poderia me surpreender mais do que vê-lo quase feliz. Digo “quase” porque Hole é alguém cheio de demônios, mas que nesse livro parecem estar quase todos adormecidos. Seu alcoolismo está sob controle, o relacionamento que vive com a mulher que ama está em uma ótima fase e o trabalho vai como o esperado. O personagem está menos “dark”, mas nem por isso perdeu sua essência e é ótimo poder acompanhar uma fase diferente de sua vida (mesmo sabendo que ela não irá durar muito tempo. Pelo contrário. No livro seguinte ele estará mais perto do fundo do poço do que nunca). Isso prova que Nesbø não força características vazias em seu protagonista e sim deixa que ele viva a sua vida (que, como a de todo mundo, tem momentos e momentos). A série não ganha o nome do detetive apenas porque tem ele como protagonista, mas sim porque é a sua jornada, a sua história. Por ser um detetive, ele investiga casos, mas jamais está ali apenas para nos dar as respostas de um crime.

Ainda assim as respostas são fantásticas. Como todos os outros livros de Nesbø, “A Casa da Dor” inicia lento, mas com uma trama envolvente que se revelará bem amarrada e surpreendente. Com dois casos paralelos – o do Magarefe (assaltante de bancos que recentemente assassinou uma mulher sem necessidade) e da morte de Anne (uma artista em busca de sua obra-prima que foi ignorada pela família cigana) – ambos conseguem ser interessantes, tomar seus próprios rumos e trazer reviravoltas inesperadas (uma delas absolutamente genial).

Não considero “A Casa da Dor” um dos melhores livros da série, mas sem dúvida acrescenta elementos interessantes à jornada de Harry Hole.

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