[Resenha] Feios – Feios – vol. 1

Redação

Feios é uma daquelas distopias onde o romance prevalece em toda a trilogia, porém isso não deixa a obra ruim. É claro que atrapalha em alguns momentos, mas o que seria das nossas protagonistas sem o amor

Tudo o que Tally queria é ficar perfeita, porém quando sua amiga Shay foge em busca dos Enfumaçados o sonho de Tally praticamente se desfaz. As autoridades a obriga ir atrás da amiga e traze-la de volta, caso contrário ela nunca será perfeita. Alienada como Tally é não consegue imaginar a sua vida como feia para sempre, sem os seus amigos que já passaram pelo processo, sem as festas, sem a luxuria, e tudo o mais. Contra sua vontade ela vai atrás de Shay. A sua viagem é muito esclarecedora para o leitor – e para Tally também – sobre como é o seu mundo; Como as cidades ficaram após a destruição que nós – os Enferrujados – fizemos. Na nova edição do livro que a Galera Record lançou da para ter uma breve ideia de como é, porém durante a leitura eu sempre me lembrava das imagens promocionais do filme Eu Sou a Lenda (aquelas onde tem as cidades). Um pequeno problema com a viagem de Tally é que ela é um pouco longa, mas não é parada ou tediosa. Nisso eu devo parabenizar o autor, já que ele criou diversas situações em que o leitor fica apreensivo sobre o que vai acontecer em seguida sem se entediar.

Ao chegar, finalmente, ao seu destino Tally se vê rodeada de Enfumaçados, pessoas que por vontade própria se refugiaram na natureza e lutam contra o governo e a cirurgia da perfeição; Todos os Enfumaçados são refugiados das cidades, com exceção de David. Ele é nascido e criado na natureza e nunca teve contato com as cidades e/ou os Perfeitos. A presença de David serve para mostrar ao leitor o que, de verdade, é a perfeição, já que todos nós com certeza já idealizamos uma versão perfeita de nós mesmos.

Quem nunca sonhou em ter um nariz perfeito, uma boca mais carnudinha, os olhos mais levantados e não apenas no rosto mas em todo o corpo? Todos dizem “o que vale é o que a pessoa é por dentro” mas sempre vemos defeito em alguém, conhecido ou não. David, por ser nascido longe da civilização, não tem essas vaidades ou pensamentos. Ele sempre viu as pessoas pelo que elas são de verdade e não é diferente quando conhece Tally. Não vou ficar falando sobre o relacionamento de Tally e David pois não acho pertinente, pelo menos no primeiro livro da trilogia. Eles se conhecem e se conectam de alguma forma, porém a força do relacionamento vemos muito mais adiante. 

A questão principal é que com os Enfumaçados, Tally finalmente tem a oportunidade de descobrir a verdade sobre seu governo e a cirurgia e decidir se vai ou não querer voltar para realizar o seu grande sonho. Mesmo com a pequena semente de duvida plantada por Shay no inicio do livro, Tally ainda não se viu convencida de que a vida seria boa sem a transformação. Pode parecer algo idiota da minha parte, porém eu acredito que uma das coisas que podem deixar uma distopia mais interessante é quando o leitor se questiona se a maneira como o governo encontrou para resolver os problemas da humanidade é certo ou não.

E eu fiquei com essa duvida grande parte da leitura desse primeiro volume. Nós sabemos como nossa sociedade atual é, nós sabemos muito bem que estamos nos destruindo aos poucos justamente por causa dessa grande diferença que temos e não digo diferenças apenas nas aparências e sim social, racial, crenças, etc. Aparentemente, tendo um mundo onde não existe essas diferenças podemos acha-lo perfeito. É até utópico pensar dessa forma, certo? E não fica muito longe do que o livro nos mostra inicialmente. Portanto acho que nessa narrativa somos todos um pouco Tally e por isso fica tão difícil julgar as suas atitudes como sendo errada (e eu falo desde o inicio do livro).

Feios é o tipo de livro que você pode ler em um dia (ou duas tardes/duas madrugadas), pois a narrativa de Scott é tão fluida que não vemos o tempo passar, e mesmo nos momentos mais chatinhos temos informações ou acontecimentos que nos deixa curiosos para o próximo capítulo. Para quem adora distopias é uma ótima indicação, principalmente por conta da reflexão que eles nos propõe durante a leitura.

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