[Resenha] Big Baby, de Charles Burns

Redação

Desde criança, sou fascinado pelo terror. Não sei ao certo explicar quando começou esta paixão ou a razão pela qual se desenvolveu. Talvez, seja pela curiosidade sobre o sobrenatural ou pelo simples prazer de superar o medo. Enfim, não tenho estas respostas, mas, até hoje, adoro o gênero e o consumo nos mais diferentes formatos. Os quadrinhos foram a minha última descoberta. Com Black Hole, publicado pela a DarkSide Books, entrei neste sombrio mundo. Gostei tanto da Graphic Novel de Charles Burns que naturalmente busquei os outros trabalhos do autor. Foi aí que cheguei no título Big Baby, também publicado pela caveirinha.

A Graphic Novel Big Baby reúne quatro histórias escritas e desenhadas por Burns, entre 1983 e 1992, centralizadas no personagem Tony Delmonte – cujo ofensivo apelido dá título para obra e proporciona um mergulho profundo no personagem, em seus dilemas e imaginação.

A publicação abre com a primeira aparição de Big Baby, em uma narrativa de duas páginas, e, depois, segue com histórias mais elaboradas, como A Maldição dos Toupeiros – onde a curiosidade infantil é o ponto de partida para uma trama de violência doméstica e homens toupeira; Peste Juvenil – que apresenta um mundo às voltas com possíveis seres alienígenas bizarros e jovens infectados (um preâmbulo a Black Hole); e finaliza com Clube de Sangue – uma narrativa que mistura acampamento de verão, histórias de fantasma, violência e intrigas adolescentes.

Comparada à Black Hole, a minha experiência com Big Baby foi algo mais intenso. Nostálgico. Justamente por me remeter à paixão de infância pelo terror. Porém, a identificação não foi apenas neste ponto. O livro fala sobre bullying – em uma época em que não se existia o termo -, aborda a necessidade de pertencimento, de provar a masculinidade, lealdade e coragem. Por mais ficcional que seja, Burns retrata o universo típico de um garoto. De certo modo, me vi, sobre muitos aspectos, em Tony. 

Burns consegue refletir no protagonista a essência e a complexidade da transição da infância para a adolescência. Apesar de brincar, Tony tem interesses em histórias de terror, ver revistas de mulheres peladas, explorar o mundo, se descobrir. Tem a ingenuidade de uma criança e uma imaginação fértil, que o impede de enxergar os problemas reais da sociedade. O verdadeiro terror está ali (na violência, incluindo a doméstica, no alastramento de doenças sexualmente transmissíveis), mas o personagem vive em um mundo de monstros, alienígenas e fantasmas. 

A qualidade que mais admiro no trabalho de Charles Burns é a crítica feita, através do terror, aos reais problemas da nossa sociedade. Em A Maldição dos Toupeiros, por exemplo, vemos o machismo e a violência contra a mulher retratados em uma narrativa da década de 1980 (não é recente, tem mais de 30 anos!). Em Peste Juvenil ou Black Hole, aborda a liberdade sexual, preconceito e exclusão. De certa forma, no geral, em Big Baby, podemos ver a crítica aos próprios produtos do terror. Tony é totalmente influenciável pelas produções midiáticas e isso contribui para a sua imaginação e o modo como ele encara o mundo. 

A edição da Darkside ainda conta com um epílogo, que contextualiza o personagem e a obra. Para quem é fã de Charles Burns e de Big Baby, como eu, um excelente bônus para fechar a leitura.

Big Baby é uma trama nostálgica que aborda o universo imaginativo e aterrorizante da juventude. Fala de medos, mudanças e inseguranças sob a perspectiva deste personagem único. Uma obra fascinante para ler em uma tacada só. O único problema é a vontade que fica de querer mais histórias de Tony Delmonte.

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