[Resenha] A História do Futebol para quem tem pressa

Redação

Quando eu tinha sete anos meu pai me levou a um jogo do Palmeiras para tentar me convencer a ser Palmeirense. Não deu muito certo, pouco tempo depois minha mãe São Paulina me acordava de madrugada para assistir o Mundial de Clubes em que o São Paulo participava. O ano era 1992 e nunca mais parei de ver futebol! Mais do que ver, gosto de saber das táticas, questões técnicas e também do passado desse esporte maravilhoso, assim não poderia deixar de conferir A História do futebol pra quem tem pressa do Márcio Trevisan.

A obra é um verdadeiro apanhado de pontos mais interessantes da história do futebol internacional e principalmente nacional, contendo alguns fatos curiosos, como a origem na China, passando pelos Maias, chegando na Europa e no Brasil por Charles Miller. O autor também aborda o tema do preconceito no esporte, uma vez que até hoje, infelizmente, jogadores negros sofrem de racismo em campo, algo que acredito que a FIFA ainda precisa ter uma maior atenção. 

A narrativa desse livro tem gosto de gritar GOOOOOLLLL no mais alto e bom som, que em momento nenhum tem um tom “professoral”, mas sim de alguém querido te contando uma história cheia de emoção e que, mesmo sem querer, você já ouviu uma parte ou outra durante a vida. Para quem não conhece a emoção a que me refiro, basta dizer que: a narrativa é super fluida e tem um tom envolvente e leve, que deixam a leitura informativa e fluida na medida certa. Não é escrita em um tom popularesco, mas sim com uma linguagem a qual o português se orgulharia, sem cair em um eruditismo desnecessário. Então prepare-se para ler um texto escrito em uma qualidade excelente, que beira a narrativa de uma partida em quem ganha é o leitor.

Temos a história das Olimpíada que era considerada um título mundial, diferente do que é hoje, tornando o Uruguai um grande campeão. E gostei de saber a história de Jules Rimet, o mais importante presidente da FIFA, que tinha como objetivo promover a paz entre todos os povos usando o futebol, uma tarefa nada fácil e apesar da dificuldade, conseguiu organizar a primeira Copa do Mundo. Achei bem interessante a rivalidade da Europa com América Latina, fato que existe até hoje. E a história das Copa me ajudou a entender que ganhar o torneio no passado realmente era muito diferente de hoje. Existia todo o problema da distância entre os países (no caso da América do Sul atravessar um oceano), a quantidade muito menor de participantes e não eram exatamente profissionais. Daí o questionamento de muitos (eu me incluo nessa) sobre os número do Pelé. 

Nos primeiros capítulos vemos que futebol era algo que começava a nascer em vários locais do mundo de modos muito diferentes, porque me trouxe a certeza que era algo predestinado a acontecer. Adorei saber sobre porque é atribuído a Inglaterra a “paternidade” do futebol moderno e como algumas regras foram sendo “criadas” conforme a necessidade do esporte e não por vontade de algum “cartola” (dirigente, diretor ou presidente de time de futebol).

Claro que temos números e tabelas. Ah! Quem adora futebol ama tabelas, mesmo que não entenda nada sobre elas, basta ter seu time no topo para o mundo ficar um pouco melhor, risos, e já advirto que você, leitor(a)m vai se ver no mínimo procurando pelo nome BRASIL nelas. Outro ponto alto dessa história para quem tem pressa são os grandes nomes do esporte, dentro e fora de campo. Com certeza você vai abrir um sorriso ao ler os grandes nomes que você conhece e se emocionar com a data do fim de jogo para alguns desses nomes.

O autor coloca de forma precisa e informativa a história do esporte, e também porque ele ultrapassa em muito as linhas do campo e toca a vida de muitos. Com a história vamos vemos os atos de “Rebeldia” em ter negros pobres e operários no time, como as guerras e mudanças no mundo acompanharam as transformações desse esporte em algo mundial e porque uma criança em um campo de refugiados é um grito de esperança. 

As formações do time em campo, nome das funções que cada jogador assume e também as mudanças de nomenclaturas ajudam tanto a quem sempre assiste aos jogos, quanto aquela pessoa que quer entender um pouco mais do jogo que mantém aquela pessoa querida presa à televisão, rádio ou internet por 90 minutos ou mais, e não entende muito a reclamação de um 5-3-3 ou fulano como ala e não centroavante.

Com parte do livro dedicada ao futebol no Brasil, vemos como saiu dos times do eixo Rio-São Paulo para ganhar os “campos” de todo o país. Futebol é algo que para muitos, como para mim, significa amigos, família e muito, muito amor envolvido. E independente do time, no Brasil é constantemente ligado à mudança de vida, do menino que começou no terrão e ganhou o mundo, mudando não só sua história, mas a de toda sua família. Se você parar por um minuto e começar a ver ESSE lado do futebol, vai entender porque nós torcemos tanto pelo jogo, que para alguns é uma ponte para uma vida melhor. E por mais que sejam poucos que alcancem o topo desse sonho, um que consiga e mude a vida de tantos já fez valer a pena a torcida.

A única nota que eu lamento que não tenha existido nesse livro é um extra sobre a perda lamentável, repentina e ainda dolorosa do time da Chapecoense no acidente (eu diria assassinato, mas enfim) aéreo que trouxe a maior dor que o futebol e os brasileiros já experimentaram. Ainda me recordo das palavras de Caio Júnior antes do voo: “Se eu morresse hoje, morreria feliz”. Lamento que você tenha ido, mas não na lamento que tenha ido feliz.

A edição está linda, com tabelas, ilustrações e fonte e diagramação impecáveis. A encadernação é ótima e a revisão foi perfeita sem erros de ortografia ou digitação. Mesmo em páginas brancas a leitura não sofreu qualquer problema e as orelhas em tamanho maior, trazem mais informação, conteúdo e beleza ao livro.

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