[Resenha] A Corrente – Adrian McKinty

Redação

Sabe quando um livro te pega pela ideia? Foi o que aconteceu comigo com A Corrente. Quando eu soube sobre o que ele se tratava fiquei muito chocado, pois achei genial. Porém, a medida que fui remoendo o assunto, fiquei pensando em diversos “problemas” que a ideia teria e fui ficando curioso sobre como o autor as resolveria. Então resolvi finalmente ler e hoje trago para vocês o que eu achei!

Nesta história temos Rachel, uma mulher que está tentando reconstruir sua vida após sobreviver a um câncer e a um divórcio. Ela está prestes a começar a dar aulas como professora de filosofia quando seu mundo desmorona outra vez. Sua filha, Kylie, de 13 anos é sequestrada enquanto ia para a escola e os sequestradores dão as seguintes orientações para ela ter a filha de volta:

  • 1 – Pagar o resgate depositando uma quantia de bitcoins em uma conta na “Dark Web”;
  • 2 – Sequestrar outra pessoa que seja importante o suficiente para que alguém se importe em salva-la também (dentro das regras da corrente e não chamando a polícia);
  • 3 – Manter a pessoa sequestrada em cativeiro até que alguém pague pelo resgate dela e sequestre outra pessoa para continuar a corrente de crimes;

Rachel fica totalmente desnorteada com o que precisa fazer. Teme chamar a polícia, pois sua filha está nas mãos de uma outra mãe que também teve o filho sequestrado e não teria piedade de matar Kylie para salvar o próprio filho. Rachel não tem com quem contar, o ex-marido está incomunicável e, mesmo que não estivesse, ele não era confiável, pois com certeza chamaria a polícia. Então ela começou a fazer o que pediram, até o momento que Pete, um ex-militar, irmão do ex-marido de Rachel e que um tio muito chegado de Kylie, entra na jogada para ajuda-la a sequestrar outra pessoa. Como se tudo isso não fosse o suficiente, Rachel descobre que seu câncer voltou.

Minhas Considerações

Quando eu vi a proposta do livro eu achei muito impressionante. A ideia de sequestrar alguém e forçar quem se importa com essa pessoa a sequestrar outras seguindo uma corrente, enquanto o organizador de tudo só tem o trabalho de recolher o dinheiro e inspecionar se não há ninguém querendo quebrar as regras é bem chocante. O problema é que é uma ideia que da margem para muitos furos se a narrativa não for tratada com cuidado. E era isso que me preocupava quando peguei para ler.

*início de spoilers*

Por exemplo, a primeira coisa que me perguntei foi: quando a Rachel sequestrar outra criança, e a sequestradora da Kylie tiver o filho dela de volta, o que impediria ela de chamar a polícia, devolver a Kylie pra Rachel e quebrar a corrente? Para isso o autor usou o recurso de dar ao organizador/dono da corrente um “poder ilimitado”, que faz com que as vítimas tenham medo de quebrar as regras e acabar sofrendo as consequências sendo perseguidas e assassinadas. Outro problema que as vítimas teriam é que, neste ponto, onde a corrente tinha certa vulnerabilidade, elas já haviam se tornado sequestradoras. Por mais que tenham sido forçadas a tal ato, seriam condenadas por isso. O autor foi bem inteligente em construir a narrativa.

Este livro teve apenas um problema que foi o responsável por eu ter dado quatro estrelas e não cinco. Ele é dividido em duas partes. A primeira, narrando a história da Rachel é perfeita, nada a reclamar. Porém, a segunda parte, onde é narrado o pós sequestro e a vida dos criadores da corrente, estragou um pouco pra mim. Parte do meu desgosto pode ser culpa minha mesmo, pois estou muito acostumado com histórias onde o culpado/assassino já nos é apresentado desde o início, não é um personagem apresentado no meio/final. E foi isso o que aconteceu neste livro. Apesar da criadora da corrente ter participado anonimamente da primeira parte, é somente na segunda que ela aparece e sabemos mais sobre ela. Eu particularmente não gosto desse formato, mas isso é gosto meu, não um problema em si.

Ainda sobre a história ter sido separada em duas partes, eu não gostei do formato. Pareceu que o autor escreveu a primeira parte como um conto e depois escreveu a segunda avulsa para dar um fim na organização da corrente, aproveitando os personagens da primeira história. Essa quebra foi meio frustrante pra mim, já que a primeira parte estava tão alucinante. Acho que se as duas partes fossem uma só, porém mais mescladas, teria funcionado melhor. Por exemplo, introduzir na história mais cedo o professor que queria quebrar a corrente e começar a narrar o passado dos criadores da corrente antes também. De forma que o livro se tornasse uma coisa só. Na real, eu nem sei se neste formato que sugiro ficaria melhor, apenas imagino que ficaria.

Recomendo bastante para quem gosta de thrillers, pois o autor consegue nos deixar com o coração na mão o tempo todo. É uma trama que não tem como você pensar “eu faria tal coisa no lugar dela”, pois é muito difícil imaginar sua própria reação numa situação tão absurda como essa. Afinal não se trata só de salvar uma pessoa querida para você, se trata de destruir a vida de outras pessoas inocentes e ainda fazer isso de forma inteligente e calculista para não ser pego pela polícia. Eu, definitivamente, não teria a menor condição de fazer tais coisas.

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