[Resenha] Quarto de despejo – Edição comemorativa

Goutyne
By Goutyne
Resenha Quarto de despejo Edicao comemorativa

Esta obra completa tem mais de 60 anos desde sua publicação. “O Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” foi escrito por Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra que teve apenas dois anos de estudo – o suficiente apenas para aprender a ler e escrever – e viveu na extinta favela do Canindé, na cidade de São Paulo.

Como o próprio nome sugere, a obra foi escrita no formato de um diário. Nele, a autora relata seu sofrimento ao viver à margem da sociedade, compartilhando seu barraco com seus três filhos: Vera Eunice, José Carlos e João José.

Carolina, mãe solteira, sustentava sua família recolhendo papelão nas ruas de São Paulo.

Muitos aspectos deste livro chamaram minha atenção. Apesar de ter estudado formalmente por apenas dois anos, Carolina escrevia seus textos de maneira simples, mas com muita sensibilidade. Os textos foram publicados exatamente como foram escritos, havendo, portanto, inúmeras palavras grafadas fora da norma culta da língua portuguesa, mas isso não diminui o brilho do trabalho dessa mulher; pelo contrário, traz ainda mais sensibilidade ao texto.

Outro ponto que me chama muito a atenção é a capacidade da autora de analisar as situações de forma crítica. Ela faz comentários sobre políticos da época e destaca como a favela era um espaço esquecido dentro da cidade.

Aproveitando esse gancho, é possível perceber que, mesmo 60 anos depois, muita coisa continua da mesma maneira que ela descreve no livro. Além da relação com o espaço da favela, outro elemento muito presente no texto é a fome.

São inúmeros os momentos em que a escritora relata a fome, não apenas a sua, mas a fome de outras pessoas, dos filhos, vizinhos e de outros catadores de papel. Em alguns relatos, ela expõe a triste realidade de quem não tem o que comer e acaba consumindo alimentos inadequados.

Apesar de não gostar da favela, da fome, da pobreza, Carolina também demonstra um traço forte de solidariedade para com as pessoas que vivem na comunidade. Em muitos momentos, ela e seus filhos são hostilizados pelos vizinhos, mas mesmo assim, em muitos outros momentos, ela presta ajuda a esses mesmos vizinhos.

Embora não tenha conhecimentos acadêmicos ou escolares, a autora demonstra uma visão crítica muito lúcida sobre o papel dos governos da época. Ela faz críticas que vão além do senso comum.

A violência enfrentada pela população periférica fica explícita desde o começo. Não apenas a violência física, mas a violência social, moral e, claro, física também. É triste olhar para essa história que já tem 60 anos e perceber que a situação dessa população que vive à margem da sociedade continua tão ruim, ou até pior, do que era naquela época.

Quarto de despejo - Edição comemorativa

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