[Resenha] Viajante de Cinza

Goutyne
By Goutyne

O poder da imaginação é explorado ao extremo nessa magnética HQ! Viajante de Cinza de Carlos Trillo e Alberto Breccia mostra a realidade de um presidiário que só possui os poderes de sua própria imaginação para fugir da loucura.

Viajante de Cinza de Breccia e Trillo, Viajero de Gris no original, é uma HQ argentina originalmente publicada entre 1978 e 1980 que traz as aventuras do prisioneiro Cornelius Dark. A obra foi trazida para o Brasil pela editora Comix Zone e reúne todas as aventuras de Cornelius. A obra possui capa dura e 96 páginas.

Cornelius Dark é um prisioneiro que já tentou fugir diversas vezes. A obra não explora qual foi seu crime mas deixa claro que é possível que ele seja inocente. O personagem sofre com os isolamentos em solitária que ocorrem por conta de suas tentativas falhas de fuga. Os outros presos dizem que ele está “desesperado” pela liberdade.

A insanidade bate à porta de Cornelius que recorre a técnicas absorvidas de um antigo livro. O ensinamento? Fugir da realidade através da imaginação. Nesse caso existe uma ambiguidade que permeia toda a obra: estaria o personagem principal escapando no sentido figurado da palavra (aqui podemos dizer que é um “escapismo literário”) ou ele realmente aprendeu uma técnica que permite a ele viajar no tempo e no espaço?

O mais interessante é que conforme a obra avança vemos que talvez a diferença não seja realmente relevante e sim a sensação de saciedade que o fato gera..

A história de Cornelius é dividida em 6 capítulos. Em cada um dos capítulos o personagem se depara com um momento histórico diferente. Breccia e Trillo acertam ao escolher passagens históricas sem nenhuma similaridade entre si – temos a Revolução Francesa mas também temos o combate de Wan Tai contra os Mongóis.

Cada um dos contos tem uma espécie de “moral da história” diferente. O recurso acaba encaixando muito bem com a proposta  e acontece quase que de forma natural.

Se a obra de Breccia e Trillo tem algum defeito é, na minha visão, não desenvolver mais a figura de Cornelius. Sabemos nada sobre o protagonista e ele acaba sendo muito mais um recurso para explorar ideias diferentes (necessidade da guerra, escapismo literário, desonestidade no amor e nos negócios e etc.) do que um protagonista que evolui com o passar dos contos.

Pessoalmente, gostaria de saber mais sobre o personagem que parece tão justo e honrado mas se encontra na cadeia (em tese, local para pessoas com comportamento oposto em algum ponto da vida).

Viajante de Cinza de Breccia e Trillo é uma HQ de leitura rápida e é um ótimo material para quem não conhece o trabalho de Alberto Breccia. A aparente simplicidade do roteiro esconde lições de moral valiosas e deixa o leitor procurando evidências das viagens de Dark: estaria ele delirando ou não?

E no fim, pensando que ele sempre retorna a cadeia, será que existe mesmo alguma diferença? Uma obra simples e autocontida que impressiona pela linda arte!

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