[Resenha] VOX: O silêncio pode ser ensurdecedor

Goutyne
By Goutyne

Quando VOX foi lançado houve um grande murmurio em relação a este livro, divulgação pesada e muitas blogueiras resenhando e falando bem desta obra, que falando a grosso modo pode ser vista como O Conto da Aia desse inicio de século. Sim, pode falar que estou sendo presunçosa, eu até estou um pouco (até porque, vamos combinar, que O Conto da Aia é um clássico muito, mas muito, bom).

O negócio é que VOX tem uma premissa muito forte, uma premissa que pode chocar mulheres como eu (feminista, com opiniões sobre o patriarcado, e uma “estudante” do feminismo, por assim dizer), uma premissa que por mais absurda que seja ainda assim pode acontecer em algum momento (ou algo semelhante). Tá, tá, pode me chamar do que quiser, mas é só olhar para o mundo e ver como algumas posições politicas conservadoras estão cada vez mais em ascensão, é só olhar para a maior potencia mundial (que inclusive é onde a história do livro se passa) e você irá entender um pouco. Maaaaas vamos ao que interessa, né?

Em VOX, após uma eleição democrática onde a extrema-direita conservadora (e religiosa, diga-se de passagem) assume o poder um novo decreto é estabelecido, onde as mulheres devem deixar de trabalhar para cuidar da casa e da família e são impedidas de falar através de um contador de palavras que fica no braço como uma pulseira.

As mulheres podem falar somente 100 palavras por dia e caso exceda esse número um pequeno choque que aumenta a freqüência a cada conjunto de palavras é ativado. Assim como as mulheres, os homossexuais também tem seus direitos tomados, indo em prisões-colonias sem poder falar uma única palavra. A protagonista era uma Dra em Neurociência e tinha um estudo sobre afasia e após um ano de sua pesquisa interrompida o governo a procura para continuar seus estudos e assim poder curar o irmão do presidente.

Jean sempre foi uma mulher comum. Ela estudou, se esforçou muito para chegar até onde chegou, tem um bom marido e bons filhos, mas Jean nunca foi uma mulher que se preocupou com questões politicas. Ela nunca questionou o governo, nunca exerceu seu direito de votar (lembrando que nos EUA o voto é facultativo) e tudo isso a assombra agora que ela vê todos seus direitos sendo tomados.

Sim, ela se sente culpada de uma certa forma pois sabe que se tivesse lutado no passado possivelmente a situação não teria chego ao extremo como chegou. Jean é uma mulher imperfeita, assim como todos nós, e acredito que por isso que a autora colocou um aspecto negativo dela que pode “chocar” as leitoras. Não vou falar o que é, pois seria um spoiler, mas é algo que é ruim para uma pessoa ser, mesmo que a vida seja toda uma merda (e não era para Jean antes do decreto).

Bom, deixando a protagonista de lado, a autora soube elaborar uma boa história, apesar de ter dado a impressão de ter se perdido no meio do caminho por causa dos conflitos pessoais de Jean, e não de tudo o que estava acontecendo do governo/país. Pode ser sido a sua intenção, mas para mim não funcionou muito bem, pois ao abordar mais questões pessoais de Jean e deixar as questões politicas de lado ela esqueceu de que os leitores procuram informações sobre esse sistema, procuram entender de verdade o porque de ele funcionar e como foi que as pessoas passaram a aceitar isso (no caso do livro a autora já pressupôs que todos os homens héteros vão simplesmente aceitar que calem as mulheres, o que não é bem assim, já que mesmo que a maioria seja macho escroto, como gostamos de chamar, muitos ainda seriam contra).

À partir desse meu ponto de vista eu senti que a obra estava lenta no inicio e corrida no final, o que foi péssima escolha, pois o final em que precisávamos de mais informações e detalhes sobre os acontecimentos e ela cortou esses detalhes na mudança de capítulo. Então veja bem, ao final de um capítulo o personagem X estava vivo e no inicio do próximo já estava sendo enterrado, entende? Acredito que nenhum leitor gosta de ler algo assim.

Concluindo, com uma premissa incrível VOX é um livro que deve sim ser lido, principalmente por pessoas céticas em relação a politica e governo conservador,  mas que em contrapartida tem algumas falhas em sua execução e pode desagradar aos leitores mais exigentes. De qualquer forma é um livro necessário pela sua abordagem principal e nos mostrar uma realidade que poderá nos tomar aos poucos.

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