[Resenha] Um Prazer Fugaz – As Cartas de Truman Capote

Redação

O primeiro contato que eu tive com a escrita de Capote foi através de uma coleção de seus ensaios. Desde então, cresceu em mim o desejo de consumir mais obras deste renomado autor. Seguindo a minha missão de ler tudo o que for possível do escritor, minha segunda aquisição foi uma coleção de suas cartas intitulada Um Prazer Fugaz – As Cartas de Truman Capote, organizadas por Gerald Clarke e publicada pela editora LeYa. Clark é responsável pela biografia do literato que foi adaptada para o cinema em 2006, rendendo o Oscar de melhor ator para Philip Seymour Hoffman no papel de Capote.

O título da obra resume perfeitamente a leitura. Senti um verdadeiro prazer ao ler todas aquelas cartas! O livro possui mais de 500 páginas e, mesmo assim, eu queria mais! Clarke afirma que Capote escrevia suas correspondências como se ele estivesse tendo uma conversa com o seu destinatário, e eu concordo plenamente. Era como se estivesse dialogando pessoalmente com ele.

A maneira com que Capote escreve para os seus amigos é extremamente afetuosa, sempre chamando-os com um apelido afável. Foi algo muito agradável de se ler. Uma vez que você se tornava amigo dele, ele seria seu amigo por toda a vida. Mas, se a amizade acabasse, não tinha volta. Não considero suas respostas completamente indelicadas quando ele precisava escrever ou responder a algum pedido de alguém que ele não gostava porque ainda existia uma presença de classe nelas. A expressão “dar um tapa com luva de pelica” cabia muito bem nestas situações!

Fiquei surpresa com a quantidade de amigos famosos que ele tinha, como Tennessee Williams (Um Bonde Chamado Desejo) e Harper Lee (O Sol é Para Todos), que era sua amiga desde a infância. Consigo imaginar Capote e Williams sentados em um restaurante em Paris com uma xícara de café sobre mesa e um cigarro na mão conversando sobre os mais diversos assuntos, ou então Capote e Lee entrevistando os detetives do caso que resultou na obra A Sangue Frio.

Minha parte favorita foi a terceira parte (1959-1966 Quatro Assassinatos e um Baile em Preto e Branco), em que Capote toma conhecimento dos assassinatos que o levam a escrever A Sangue Frio. Estava muito curiosa para descobrir como tinha sido o processo de escrita deste livro. Capote leva alguns anos para terminar a obra e dá para sentir a sua exaustão nas cartas.

“Pode parecer pretensioso, mas sinto uma grande obrigação de escrevê-lo, embora o material me deixe cada vez mais sem forças e entorpecido, bem, na verdade, horrorizado – tenho sonhos pavorosos toda noite,” (pg. 353), escreveu ele em sua carta para Donald Windham, seu amigo e também escritor. Eu não tinha noção de quanto tempo levou para finalizar o livro, seis anos, apesar de imaginar que poderia ter levado um tempo maior do que o esperado, uma vez que Capote precisava aguardar o resultado das várias apelações dos acusados para poder concluir sua obra.

A última parte foi muito triste de ler. Sua desilusão com a vida e a carreira é perceptível. Ele se tornou cada vez mais, e de maneira extremamente pública,dependente de drogas e álcool, e suas cartas se reduziram consideravelmente, tanto que esta é a menor parte da obra, somente 36 páginas, se comparada com a segunda e maior parte, com 236 páginas.

Me peguei diversas vezes sorrindo ao ler suas cartas. Foi uma forma muito divertida e interessante de conhecer um pouco mais sobre Capote e me deixou intrigada para conhecer mais e melhor sua vida e principalmente sua obra. Estou especialmente curiosa para ler A Sangue Frio, agora. Espero e torço para que este livro seja a minha terceira aquisição de suas publicações.

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