[Resenha] Sol e tormenta (Sucesso do TikTok): Volume 2

Redação

A cada volume que passa eu sinto mais dificuldade para avaliar o trabalho da Leigh Bardugo. Isso porque o romance não chega a ser ruim. Só que o leitor fica com aquela impressão de que mais poderia ser feito. É como se a autora fosse colocada em um entroncamento e tivesse duas opções de caminho: um mais tortuoso, problemático, mas que pode recompensar no final ou um mais tranquilo que segue reto até o destino final. E a autora acaba sempre optando pelo segundo caminho. Isso me incomoda porque eventualmente vemos flashes da criatividade da autora.

Bem, vamos à escrita. Bardugo continua a empregar a narrativa em primeira pessoa pela perspectiva da protagonista, Alina Starkov. Vou falar sobre a personagem a seguir. Em alguns momentos da narrativa, a autora tenta ousar algo diferente. No capítulo 2 e no penúltimo capítulo, a autora usa uma narrativa em flashes. A personagem está desacordada em ambos os momentos e é como se a personagem apenas visse acontecimentos momentâneos ocorrendo em sua frente. Só que tudo isso é misturado com a confusão da personagem ao estar naquela situação. Então a narrativa mistura elementos reais com situações alucinatórias.

Eu adorei isso. Entendo que não é algo que ela possa fazer a todo o momento, mas eu gostaria de ter visto a autora experimentar mais. Fiquei muito em dúvida se colocava 1 ou 2 corujas… porque me incomoda o ritmo reto e direto da narrativa dela. Não existem firulas narrativas ou até mesmo subplots (tá… tem o subplot da Genya com o David… nossa… faz uma baita diferença…). Apesar de a escrita manter essa qualidade dinâmica, novamente, isso não significa que o livro é bom. Terminei o livro em 3 dias? Lindo. Se deve ao tipo de escrita empregado. Fica o mérito pelo fato de as sentenças serem bem encadeadas e os ganchos narrativos impelirem o leitor adiante. Mas, novamente: me incomoda o fato de a autora não ter tentado algo diferente. Mudar perspectiva, alterar o estilo de escrita, empregar fluxo de consciência, funil de enredo… Qualquer coisa.

A minha birra com a Alina Starkov diminuiu. Gostei de como a autora evoluiu a personagem de maneira natural. Sim, a personagem continua tendo algumas recaídas em que demonstra sua ingenuidade, mas isso é natural em uma personagem que está ganhando escopo e profundidade na história. A personagem ainda me incomoda e não me convence completamente, mas se tornou aceitável como protagonista. Teve um momento quase no final do segundo volume que eu achei que a personagem iria regredir (logo após a festa e a discussão com Maly), mas tudo fazia parte do clímax da história e para nos apresentar alguns elementos de enredo. A personagem ainda precisa crescer mais para assumir um protagonismo maior, mas a autora fez eu repensar a sua habilidade de composição de personagens.

O que a autora mais se destaca é nos personagens secundários. Quando o personagem não precisa ficar o tempo todo na ribalta, ela consegue dar profundidade à personalidade e às escolhas de cada um. Maly é um personagem chato neste segundo volume. Claro que quando ele chega ao Pequeno Palácio e o distanciamento com Alina começa a aumentar, vemos que o personagem começa a crescer porque vemos sua fraqueza. Se eu posso dizer que alguém é um herói na história, certamente é Maly. Concordo até com a posição narrativa de apresentar Maly como um herói e Alina como uma espécie de ícone. Porque isso é o que a autora realmente deixa transparecer em vários momentos da história. E como o Nikolai contribuiu para o enriquecimento da protagonista. A inserção do personagem foi perfeita. Um personagem bravateiro e malandro, mas com um passado estranho que a protagonista luta para descobrir. Suas motivações nem sempre são as mais nobres, mas você fica naquela de que o personagem nada mais é do que um justiceiro, um nobre vigarista.

O grande tema deste segundo volume é responsabilidade. Alina terá a capacidade de se responsabilizar por Ravka? Ao receber a alcunha de Sol Koroleva ou de Sankta Alina, ela deixa de ser apenas uma Grisha para se tornar um símbolo. Mas, como um símbolo precisa de comportar diante das pessoas? Ela deseja realmente esse papel? Quando ela vê o que sua vida vai se tornar, sua percepção do Darkling começa a mudar. Nem tudo é preto no branco.

As escolhas que ela precisa fazer ao longo deste segundo volume são difíceis e vão exigir mais da personagem. O Darkling aparece sempre como uma sombra por trás das escolhas da protagonista. Aliás, acho que a ideia da autora de fazer com que Alina e o Darkling fossem duas faces diferentes da mesma moeda caiu por terra. Não consigo comprar o Darkling como uma escolha plausível. Entendi que a autora tentou fazer isso no primeiro volume ao nos apresentar duas opções para a paz: a paz através do controle ou a paz através da escolha. O Darkling não possui motivos nobres até este segundo volume. Eu torço para que no terceiro a autora abrace um pouco mais este plot com o antagonista. Gostaria de ver um antagonista que eu pudesse cogitar aceitar. Daria uma outra cara para a trilogia.

A ambientação continua boa, mas me incomodou o fato de a autora ter tido momentos de liberdade para explorar outras regiões de seu mundo, mas isto ficou pouco utilizado. Qual foi o motivo para nos levar a Novyi Zem? A personagem não ficou nem quatro capítulos no lugar. Eu estava começando a gostar da maneira como ela descrevia o lugar, até um pouco mais atenta do que no primeiro volume. A riqueza da cultura local estava me conquistando e aí… bum… somos levados de volta para Ravka.

E aí são mais de 25 capítulos novamente em Ravka e Os Alta. Posso entender este segundo volume mais como um estudo de personagens do que por uma ambientação mais rica. Ela manteve aquele ambiente soturno e gélido que se assemelha à Rússia dos Romanov. As intrigas políticas, as festas intermináveis, a traição que espreita a cada esquina. Ah, mas tem o mundo congelado com montanhas elevadas, tundras e permafrost. Sim… tem… mas não precisava nem ser uma corte russa para isso. Bastava um mundo congelado. Gostei também das partes que se passaram no Mar Real. Foram realmente interessantes e até mesmo a descrição de como funciona a vida dos marinheiros chamou a atenção. A questão é: Sturmhond é o único corsário do mundo ou existem outros?

Enfim, gostei mais deste segundo volume do que do primeiro, mas ainda sinto que a autora permanece muito em uma avaliação mediana. Não sinto a riqueza de escrita e mundo como em autoras como a Mary E. Pearson, a Victoria Aveyard ou a Sarah J. Maas. A personagem evoluiu consideravelmente em relação ao primeiro volume e o acréscimo de novos personagens deu uma riqueza maior e ajudou à protagonista a alcançar um novo patamar. A ambientação ficou um pouco para trás e eu gostaria de ter visto mais do mundo da autora. Sinto que ela confinou a história apenas a Os Alta.

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