[Resenha] Redoma, de Meg Wolitzer

Redação
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Num primeiro olhar, Redoma, de Meg Wolitzer, publicado pela Editora Alt, pode parecer mais um livro sobre uma adolescente que precisa reconstruir a sua vida após uma perda. Mas a forma como a história se desenvolve foge um pouco do clichê do gênero e, através do uso dos diários, os personagens são obrigados a confrontar os seus medos e a superá-los.

Jam Gallahue é uma jovem que, após a morte do namorado, Reeve Maxfield, perde totalmente o ânimo para viver. Por isso, os pais dela decidem enviá-la para um internato de adolescentes “emocionalmente frágeis”. No início, ela odeia a sua nova rotina, mas, depois de ser selecionada para a lendária aula de “Tópicos Especiais em Inglês”, da misteriosa Sra. Quenell, tudo começa a mudar. Lá, Jam e outros quatro alunos, com históricos de traumas ainda piores, são apresentados à obra A Redoma de Vidro, de Sylvia Plath. Uma escolha inusitada, devido à fragilidade da turma, porém essa leitura coletiva irá mudar a vida destes adolescentes.

A narrativa de Redoma parece bem clichê – e, de certo modo é -, mas, a partir do momento que entramos nas aulas da Sra. Quenell, tudo muda. A trama ganha uma certa imprevisibilidade e conquista o leitor com inúmeros mistérios – as circunstâncias da morte de Reeve, os traumas dos outros alunos, o poder dos diários – a serem desenvolvidos. Impossível parar de ler! Além disso, quando menos se imagina, a história tem algumas reviravoltas. Surpresas até o fim.

É interessante observar as variadas formas como a depressão pode se apresentar entre os adolescentes. Assim como a dificuldade de se expor o problema, até mesmo entre aqueles que compartilham sentimentos semelhantes. Redoma mostra que a doença não tem idade e precisa ser levada a sério.

O texto em si foi o único ponto que não me deixou plenamente satisfeito. Em alguns momentos, poucos, a narração em primeira pessoa atrapalhou a fluidez. Alguns acontecimentos com outros alunos acabaram ficando muito superficiais. Jam, narradora de Redoma, apenas menciona o que aconteceu. Faltou um pouco de detalhamento, de emoção. Um problema comum em tramas que utilizam primeira pessoa. Entretanto, este pormenor não ofusca o brilho da obra, que tem uma história excelente. No fim, isso é o que importa.

O trabalho de Meg Wolitzer é incrível. É nítido todo o cuidado e a preocupação que a autora teve para tratar este tema tão delicado com os jovens. Ela é muito sutil ao abordar a depressão e, por mais que seja uma temática pesada, busca trazer uma certa leveza e mensagem positiva, fundamentais para o público em questão. As últimas páginas de Redoma foram tão inspiradoras que marquei várias passagens.

Redoma é, de certo modo, uma homenagem à poeta e escritora Sylvia Plath, apesar de não ser uma releitura do clássico A Redoma de Vidro. Redoma apresenta a figura de Plath para os jovens: sua trajetória, a importância do seu trabalho, a força do seu texto. Não debate profundamente a questão da depressão sob o viés do paciente, como Plath, no entanto, traz o diário como forma de libertação e faz isso de modo mágico.

A depressão é um problema sério e tem que ser debatido com todos os públicos. Respeitando os limites de abordagem para cada faixa etária, claro. Redoma é um ótimo exemplo para o público jovem. Com uma história envolvente, a obra fala sobre aceitação, amizade, mudança e superação. Uma leitura contagiante que traz uma mensagem muito bacana e positiva.

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