[Resenha] Procurando Jane

Redação

Hoje trago para vocês a resenha do livro Procurando Jane, da autora canadense Heather Marshall. Coincidência ou não realizei a leitura deste livro em meio a todas as noticias sobre aborto e adoção que vimos nos últimos dias na mídia. Não vou entrar em detalhes dessas histórias, pois acho que qualquer pessoa que usa a internet esse últimos dias devem ter visto ao menos uma chamada desses casos e em meio a tudo isso eu estava lendo essa obra que nos dá justamente pontos de vista em relação a maternidade e ao desejo ou não de ser mãe em um mundo que em poucos lugares oferecem um procedimento seguro para as mulheres.

O livro é narrado em terceira pessoa e conta a história de três mulheres que vivem em tempos diferentes. A primeira é a Dr.ª Evelyn Taylor (por volta dos anos 60 até os dias atuais), que quando era jovem foi obrigada a ficar por meses em uma espécie de casa de acolhimento para mulheres grávidas e que ao final da gravidez davam a criança para adoção (tantas delas sem nenhum consentimento). Após passar por esse trauma horrível ela estuda medicina e na sua jornada profissional acaba conhecendo um médico que a ensina a fazer aborto seguro nas mulheres e a partir dai ela passa a viver uma vida dupla para ajudar outras mulheres.

A segunda é Nancy Mitchell (por volta dos anos 80 até os dias atuais), uma estudante que acaba descobrindo que é adotada e acaba vivendo com esse segredo por muitos anos. Nancy teve o seu primeiro contato com o aborto quando uma prima a pede para acompanhar até um médico que fará esse procedimento, porém as condições do lugar eram horríveis e a situação gera um trauma enorme em Nancy. Ao longo de sua vida ela passa a trabalhar com a Dr.ª Taylor na então chama Rede Jane.

Por último temos Angela (dias atuais), que está tentando engravidar há alguns anos e vê todas as suas tentativas frustradas. Em um dia normal de trabalho ela encontra uma carta destinada a Nancy, que foi entregue por engano no local onde Angela trabalha, e acaba se envolvendo em uma procura pela filha perdida de uma mulher chamada Margareth e histórias da Rede Jane, há muitos anos extinta desde que o aborto foi legalizado no Canadá.

“Ela passa as mãos na barriga, pensando no bebê que vai estar em seus braços no outono, imaginando como seria ser separada do filho, morrer sozinha sem saber o que aconteceu com ele.”

Eu sei que foi uma apresentação de personagens longa, mas é importante entender qual o papel de cada mulher dentro dessa trama, pois todas acabam se conectando em certo momento da história. Todas foram muito bem desenvolvidas e, para mim, a Nancy foi a que mais se destacou em muitos aspectos. Ela passou pelo momento de descobrir sua adoção e carregar esse segredo por anos e passou pelo trauma do aborto de formas diferentes e ainda assim ela conseguiu ter forças para ajudar outras mulheres com palavras de consolo e acolhimento.

Sobre a Rede Jane eu fiquei bastante curiosa para saber mais como funcionava as redes reais que existiram (e ainda existem em alguns países), mas o livro não se aprofunda muito nisso e aí uma pesquisa deve ser feita. Inclusive, recentemente, a HBO lançou um documentário que se chama The Janes e fala sobre essas redes de apoio e mulheres (ainda não lançado no Brasil). No livro a Dr.ª Evelyn faz os procedimentos de forma segura em diversas mulheres de forma gratuita e algumas dessas mulheres nós podemos conhecer um pouco. Tem a mulher que já tem filhos demais, outra que só é muito jovem para ter um filho no momento, outra violentada e por aí vai. Sempre vai existir motivos para as mulheres precisarem realizar esse procedimento e infelizmente ainda em muitos países esses procedimentos serão feitos de formas clandestinas (muitas vezes com “carniceiros).

Eu gostei muito dessa história e vejo que a autora tomou muito cuidado para contar essas histórias. Ainda que elas não tenham sido inspiradas em pessoas reais elas são muito reais. Todo mundo conhece alguém que engravidou cedo demais, ou que foi violentada e até mesmo casos de contraceptivos que falham e a mulheres precisa cuidar de uma criança indesejada sem uma opção segura. Enfim, diversos casos em que a mulher sempre é a responsável, sabe? Leitura recomendada.

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