[Resenha] O homem que morreu duas vezes: O novo mistério do clube do crime das quintas-feiras: 2

Redação

Elizabeth, Ibrahim, Joyce e Ron já estão aposentados. Viveram suas vidas, educaram seus filhos e agora moram em um retiro de alto padrão, em Kent, na Inglaterra, chamado Cooper’s Chase. Toda quinta-feira, o grupo se reúne para discutir casos de crimes não solucionados. Eles não têm medo do perigo e jogam contra as regras, o que deixam seus amigos, os policiais Donna e Chris, desesperados para poder fechar seus casos sem cometer ilegalidades.

Um dia, em uma das reuniões do grupo, Elizabeth recebe uma carta. Mas a carta é assinada por alguém que ela sabe que já morreu. E pensa que, quem assinou a carta não apenas conhece seu passado como a conhece muito bem. É quando ela se depara com um antigo agente com quem trabalhou que cometeu uma grande burrada: roubou 20 milhões de libras em diamantes da máfia. E agora a máfia está atrás deles e é o grupo de Elizabeth que vai ajudar a protegê-lo, junto da jovem agente que o escolta, Poppy.

Uma coisa que comentei na resenha do livro anterior é que eu gostaria de saber mais sobre Elizabeth, uma personagem muito inteligente, cheia de artimanhas, que ama profundamente o marido, Stephen, que sofre de demência e que ainda arruma tempo para investigar crimes sem o menor pudor de ir contra as leis. E Osman nos entrega isso! Ficamos sabendo mais sobre o passado de Elizabeth, seu antigo trabalho na espionagem e um pouco mais sobre algumas de suas missões. Imagino que para uma agente secreta se aposentar ela tenha que ser muito esperta, em especial devido aos riscos de tal emprego. E o que faz de sutileza em Elizabeth sobre em Joyce, que parece aquela vovozinha gentil que assa biscoitos para o neto quando eles chegam nos finais de semana. Mas não se engane, Joyce é perspicaz e esperta, sacando coisas que às vezes seus colegas não perceberam.

Ron e Ibrahim também aparecem, ainda que Ibrahim esteja menos evidente do que no primeiro livro. Ron está ainda mais ácido e ligeiro do que no primeiro livro e se preocupa em ver o amigo recluso em casa. Foi interessante a discussão levantada pelo autor de como o mundo pode ser assustador para as pessoas mais velhas, que acabam sozinhas e sem ajuda. Ron está lá por Ibrahim, bem como Joyce e Elizabeth, mas nem tudo será fácil. Será preciso, digamos, burlar algumas leis para poder ajudar o amigo a superar o trauma. Existem outras discussões como a dificuldade deles com a tecnologia e como ela pode parecer boa e confusa ao mesmo tempo que acabaram muito engraçadas.

Enquanto o começo do primeiro livro é meio confuso e o seu final é um tanto aberto, sem grandes resoluções, esse aqui é muito mais tranquilo e, acredito, até melhor escrito, com as coisas em seu devido lugar e um mistério que você quer desvendar junto do grupo. Tudo acontece no seu tempo, sem atropelos, com aquele humor britânico ácido bastante conhecido. Ri alto, por exemplo, quando Ron diz que pombos são todos eleitores do Partido Conservador. Também senti uma carga dramática um pouco maior quando um deles sofre um assalto e acaba hospitalizado e o grupo fará de tudo para colocar o ladrão atrás das grades. Farão de tudo MESMO!

O grupo intrépido então se vê às voltas com vários crimes. E lidarão com eles com sua elegância, perspicácia e inteligência. Além das pulseirinhas da amizade de Joyce, é claro. Mortes suspeitas acontecem e o grupo parte em busca de um assassino implacável que parece estar sempre um passo a frente de todos eles. Suspeitos são vários, mas quem teria a motivação e a oportunidade? A forma como Osman conduz o enredo é muito divertida, apontando para várias direções sem ser óbvio e quando as coisas se resolvem, há uma sensação boa de que tudo acabou como deveria.

A ação aqui não se passa tanto dentro de Cooper’s Chase. Desta vez, a cidade de Fairhaven é o cenário principal para o clube do crime e até gostaria de um mapa que mostrasse as imediações e os locais onde os eventos acontecem. A escrita ágil de Osman e as tiradas sarcásticas do grupo fazem do livro uma leitura saborosa e impossível de largar. Li o ebook e não o livro físico, mas não encontrei problemas de revisão ou diagramação. A tradução é de Jaime Biaggio e está ótima!

Obra e realidade

Comentei na resenha anterior que adoro livros com personagens mais velhos. Minha personagem Rosa, a capitã do cargueiro comercial Amaterasu, é uma saudável senhora de 90 anos (mas com carinha de 45) em um futuro onde a humanidade conseguiu expandir a longevidade, ainda que não tenha conseguido abolir a morte. Com uma sociedade como a nossa, que cada vez fica mais velha, nossa forma de enxergar a velhice também está mudando.

Li outro dia que os 60 são os novos 40. Pessoas com mais de 60 anos estão voltando para a faculdade, viajando, abrindo negócios, escrevendo livros. Aquele estereótipo de idosos jogando dominó na praça está começando a mudar, dando espaço para pessoas ágeis, cheias de vida e que entendem que ainda têm muito o que viver. E viver é algo que os membros do clube do crime, certamente, estão fazendo!

Compartilhe Este Post
Follow:
Goutyne, curiosidade e conhecimento! explore o mundo sem sair do sofá. Vamos explorar!