[Resenha] O Conto da Aia

Redação

Existem livros que você lê e pensa meu deus, eu amei esse livro e existem outros que você lê e fica meu deus do céu, o que foi que eu acabei de ler???? e acho que eu nem preciso falar que tive essa reação ao ler O Conto da Aia, o livro que deu origem a série de sucesso The Handmaid’s Tale. E existem inúmeros pontos da obra que podem ser apontados em um texto se referindo à ela mas eu vou apontar os que mais me chamaram a atenção nesta primeira leitura (pois é um livro que eu pretendo ler novamente daqui há alguns anos).

O livro é uma distopia, porém ela se passa no final dos anos 80 ou inicio dos anos 90. A protagonista, que é apresentada por nós somente como Offred, é uma mulher de 33 anos que tinha um vida comum com marido e filha, um trabalho e até certa independência financeira. Até que o país sofreu um golpe de estado e as coisas foram mudando gradativamente, principalmente para as mulheres.

Primeiro suas contas foram bloqueadas, então o emprego, e por mim qualquer autonomia por si mesma devendo estar sempre acompanhada de seu marido e fazendo coisas somente com a autorização dele. Para nós parece um absurdo, correto? Mas o pior de tudo é que, ainda hoje, existem sociedades que vivem dessa forma. Como se não bastasse a sociedade acaba sendo dividida com princípios religiosos e, claro, financeiro. Então a personagem acaba se tornando uma Aia, que é uma mulher enviada à uma família somente para ser a genitora da criança dessa família (para explicar melhor: a Aia precisa ter relações sexuais com o homem da casa, na presença da esposa dele, para gerar uma criança).

Parece surreal? Bom, de fato é. A premissa me deixou de queixo caido e, claro, curiosa. Eu queria saber o que essa personagem pensava, suas reações e até porque a sociedade foi sendo destruída dessa forma. A jornada de Offred não é uma jornada que faz o leitor sofrer (não tô dizendo que é boa, pelo contrário, mas ela não faz lamentações que impactam o leitor no sentido emocional). Em alguns momentos fiquei um pouco impressionada com o quanto ela foi manipulada pelos novos pensamentos da sociedade, julgando as mulheres que outrora era como ela, tinha liberdade de se vestir como queriam e fazer o que bem entendiam.

Ela chegou em um ponto que seus pensamentos são confusos e que algumas de suas histórias fogem da sua própria realidade, como se fosse possível que ela contando de uma forma diferente pudesse ser então uma história diferente. Offred é filha de uma mãe feminista e protestante, uma mulher que durante toda a sua vida lutou pela liberdade feminina e de seu próprio corpo. Ela cresceu no meio de mulheres assim, mulheres fortes e independentes e vendo-a se entregar as novas normas da sociedade, não apenas por uma questão de sobrevivência, é um pouco frustrante (mas compreensível). Acho que é um pouco obvio que para mim o que mais marcou neste livro foi a protagonista e sua história, muito mais do que sua jornada propriamente dita. Neste momento foi o que mais me fez pensar sobre o quanto nós mudamos para sobreviver ou nos adaptar as novas realidades.

Tudo que silenciado clamara para ser ouvido ainda que silenciosamente

Uma grande diferença deste livro com outras distopias, talvez com as distopias que estamos acostumadas a ler nos últimos dez anos, é que a protagonista não faz parte de uma grande revolução e mudança. Na verdade ela apenas faz parte da primeira geração de mulheres que estão sendo usadas e as sociedade esta muito longe de ser uma sociedade livre, mas que haja sim grupos rebeldes que tentam ajudar.  Offred tem um pequeno deslumbre disso mas não faz nenhuma grande diferença, a não ser contando suas próprias histórias.

O Conto da Aia é um livro que vai ter impacto diferente em cada leitor, mesmo que seja um hino feminista atual.

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