[Resenha] O Clube dos Oito

Redação

Uma das primeiras coisas a se fazer quando nos embrenhamos pela leitura de uma obra de suspense é checar a que tipo de público ele se direciona. Isso evita frustrações e expectativas que vão além da realidade que a obra entrega. Faço esse alerta porque O Clube dos Oito é um excelente suspense, porém uma obra young adult (YA), ou seja, ele não tem nenhum compromisso em nos entregar um mega thriller de mistério a Sidney Sheldon. O suspense aqui tem um jeitão leve, descontraído, extremamente bem-humorado e com a marca de um autor pra lá de consagrado, mais conhecido por suas Desventuras em Série.

Como um grupo de jovens estudantes bem-educados acabou se envolvendo num escândalo que chocou um país? Por que tantos especialistas em comportamento juvenil têm algo a dizer quando o assunto é o Clube dos Oito? Até quando inúmeras manchetes de jornal e programas de TV sensacionalistas vão explorar o caso nos mínimos detalhes?

Para fazer com que a verdade venha à tona, Flannery Culp, a dita líder do Clube, decide tornar público o diário que manteve ao longo do seu desastroso último ano de ensino médio. Agora que está presa por cometer um assassinato, a garota tem tempo de editar o que escreveu e revisitar a rotina que levava ao lado de seus sete melhores amigos. A narrativa de Flan, permeada de professores da pior índole, um amor não correspondido, aulas complicadas e jantares pomposos, comprova que ela pode até ser uma adolescente criminosa — mas, pelo menos, é uma adolescente criminosa muito inteligente. (Resenha: O Clube dos Oito – Daniel Handler)

A grande qualidade de O Clube dos Oito está no estilo debochado e descontraído com que a protagonista, Flannery Culp, conta sua história. O livro se assemelha a um diário em que Flan (a personagem, não o doce) traz a sua versão para os terríveis fatos que desembocaram no assassinato que a levou à prisão.

Isso mesmo, Flan é acusada de ter matado o garoto por quem tinha interesse. E sua narrativa tenta esclarecer para o grande público, já saturado pela cobertura sensacionalista da mídia, o que realmente aconteceu. Narrativa essa carregada de um humor ácido e sarcástico que arranca gargalhadas durante a leitura.

Sendo uma obra com personagens adolescentes, O Clube dos Oito é recheado do clima escolar, fofocas, intrigas, personagens clichês e todos os ingredientes que compõe tradicionalmente as narrativas do gênero. E Daniel Handler sabe magistralmente construir esses cenários e dar vida a personagens que, por mais que encarnem clichês, refletem facilmente o ambiente de um Ensino Médio.

Não esperem encontrar diálogos ou cenas com total compromisso com a realidade. Nem acredito que o autor tenha se preocupado com isso. Há sequências improváveis e atitudes bizarras dos alunos. Mas é tudo válido e se encaixa direitinho na ficção que ele construiu.

Outra qualidade bem interessante é a forma como a mídia é retratada. Programas de televisão com especialistas invadem partes dos capítulos para tentar explicar o que levou ao comportamento daqueles adolescentes. Nada muito diferente do que assistimos exaustivamente em certos canais da tevê aberta no Brasil. Mas atenção, O Clube dos Oito foi publicado nos Estados Unidos em 1999!!! Para completar o show de criatividade de Handler, cada capítulo termina com uma sequência de questionamentos para avaliarmos o comportamento de Flannery ou determinadas situações. Em resumo, é uma obra muito gostosa de ser lida.

Único porém que pesa, na minha avaliação, é que o livro acabou se estendendo além da conta. Acho que algumas partes poderiam ter sido suprimidas para dar mais agilidade para a narrativa e evitar um desgaste rápido de alguns temas que acabaram ficando repetitivos. Mas, nem preciso dizer, isso faz parte do meu gosto pessoal e não interfere em nada na qualidade.

Quem já curtiu e se apaixonou por tudo de errado que aconteceu com os Baudelaire, vai reconhecer facilmente o estilo de escrita e certamente vai se amarrar em O Clube dos Oito. Para os desafortunados que ainda não leram Desventuras em Série, O Clube é uma excelente oportunidade para conhecer Daniel Handler e embarcar de vez no seu universo.

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