[Resenha] Narciso em Férias

Goutyne
By Goutyne

Narciso em Férias, de Caetano Veloso, era um capítulo da autobiografia do autor, Verdade Tropical, também publicada pela Companhia das Letras. A ideia de torná-lo um livro separado partiu do próprio Caetano, não só por ser uma construção literária muito querida por ele, mas também por dizer muita coisa sobre o momento político brasileiro atual. Eu quis ler essas lembranças meio que por curiosidade, por gostar muito das composições dele… Mas como não me animar diante dessas palavras?

Nas quase 168 páginas desse livro, Caetano Veloso narra com detalhes os 54 dias em que ficou preso durante a ditadura militar. Ele foi preso em 27 de dezembro de 1968, e os motivos da sua prisão nunca ficaram exatamente claros, não havia, de fato, nenhuma justificativa oficial – ação que hoje nós carinhosamente apelidamos de abuso do poder, rs.

Acho que não sou a única pessoa a se questionar como aconteciam essas detenções, o que acontecia nas prisões de fato, naquela época. Sabemos que muitas pessoas foram mortas e torturadas física e psicologicamente… E eu sinceramente nem sei se gostaria de saber detalhes sobre isso… Mas fato é que o relato de Caetano Veloso foi suficiente para eu entender pelo menos em partes a tristeza e os absurdos da ditadura. 

Ele conta, inclusive, detalhes muito íntimos, como, por exemplo, ter inocentemente acreditado que seria apenas interrogado e logo voltaria para casa… Ou como foi passar dias em uma solitária minúscula comendo refeições horrendas, sem poder se comunicar com ninguém, sem poder ver a luz do sol… Contou sobre a falta que sentia de Dedé, sua esposa na época, ainda mais levanto em consideração que eram recém casados. E, claro, tudo de forma muito poética. Não esperaria menos dele.

A edição da Companhia das Letras conta com algumas páginas do processo aberto contra o cantor com base no AI-5. Curioso saber que o próprio Caetano só foi saber da existência desses documentos há pouquíssimo tempo, em 2018. Mesmo com os documentos não há justificativa plausível para a prisão, o que volta naquilo que falei anteriormente. Parece uma piada de mau gosto.

Gostei bastante do que li e fiquei marcada especialmente pelo trecho em que ele conta que um dia, sem explicação, foi levado de sua cela por um guarda com uma arma apontada para ele, para um lugar deserto. Ele tinha certeza que ia morrer, mas o levaram no barbeiro para que cortassem o cabelo dele, um símbolo do tropicalismo. Queriam, obviamente, passar a mensagem que sua liberdade estava sendo tirada. Fiquei com aquele gostinho de quero mais, sabem? Como se tivesse faltando alguma coisa… Acho que o jeito vai ser ler Verdade Tropical!

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