[Resenha] Na escuridão da mente

Redação

Histórias de terror envolvendo casos de possessão dominaram as livrarias na década de 1970. Embalados pelo sucesso de O Exorcista, de William Petter Blatty, diversos autores exploraram esse desconhecido em obras de grande impacto e qualidade como O Demônio de Gólgota, de Frank De Felitta, ou O Bebê de Rosemary, de Ira Levin, por exemplo. O

bviamente também tivemos a cota de tramas que transitavam do trash ao ridículo absoluto e, neste caso, vou me abster de exemplificar. O fato é que histórias envolvendo entidades demoníacas que se apoderavam de seres humanos tiveram sua época de ouro na literatura e mostraram seu poder de atrair o interesse do grande público tanto em sucesso de vendas quanto de bilheterias.

A vida dos Barrett é virada do avesso quando Marjorie, de 14 anos, começa a demonstrar sinais de esquizofrenia aguda. Depois que os médicos se mostram incapazes de deter os acessos bizarros e o declínio de sua sanidade, o lar se transforma em um circo de horrores, e a família se vê recorrendo a um padre da região. Acreditando que seja um caso de possessão demoníaca, o padre Wanderly sugere um exorcismo e entra em contato com uma produtora que está ávida para documentar tudo.

Com o pai de Marjorie desempregado e as dívidas se acumulando, a família hesitantemente aceita, sem imaginar que A Possessão se tornaria um sucesso imediato. Quinze anos depois, uma autora best-seller entrevista Merry, a irmã mais nova de Marjorie. Ao se recordar dos acontecimentos de sua infância, uma narrativa alucinante de terror psicológico é desencadeada, levantando questões sobre memória e realidade, ciência e religião… e sobre a real natureza do mal. (Resenha: Na Escuridão da Mente – Paul Tremblay)

Ausente das obras de terror de qualidade há uns bons anos, o mistério da possessão reaparece no livro vencedor do Bram Stoker Award 2015. Na Escuridão da Mente, de Paul Tremblay, é uma joia rara da ficção sobre exorcismos na atualidade. Uma trama construída e desconstruída em uma narrativa envolvente, com muitas dúvidas e poucas explicações. É como se estivéssemos de olhos vendados sendo guiados pelo corredor que ilustra a capa do livro. Em cada quarto que paramos, nossa venda é rapidamente erguida. Apenas o suficiente para vermos, de relance, uma cena ou acontecimento. E logo seguimos em frente. Com isso, nunca temos certeza de nada e o autor, genialmente, ainda estimula essas dúvidas em algumas passagens sensacionais da obra.

Na Escuridão da Mente não é um livro para dar sustos, mas sim para causar perturbação. É o declínio de uma família, já abalada por problemas financeiros e emocionais, como espetáculo midiático e com o apoio da Igreja. E um declínio mostrado do ponto de vista de uma garota de oito anos de idade, o que torna a história ainda mais incômoda. Essa mesma garota que, já adulta, desconstrói parte do que viveu e joga nas nossas mãos a missão de decidir o que de fato os Barrett viveram naquelas semanas. Aja psicológico para lidar com toda essa tensão.

Dialogando com grandes obras de terror da literatura e dos cinemas, e cheio de referências a fatos e personagens da atualidade, Paul Tremblay inova no gênero, fugindo da obscuridade tradicional para colocar a possível possessão demoníaca em meio a câmeras, celulares e toda a histeria que episódios como esse causam na sociedade. É uma experiência de leitura única e que satisfaz com sobras aos fãs do gênero. É o tipo de história que, sem nenhum exagero, poderia acontecer com qualquer um de nós e isso é assustador!

Compartilhe Este Post
Follow:
Goutyne, curiosidade e conhecimento! explore o mundo sem sair do sofá. Vamos explorar!