[Resenha] Moletom, de Júlio Azevedo

Redação

A liberdade de ser, estar, amar. De viver a vida à nossa própria maneira, do jeito que quisermos, com quem queremos estar, dividir, compartilhar. Infelizmente, para muitos, essa “liberdade”  está longe de ser realidade numa sociedade ainda conservadora e preconceituosa. Felizmente, porém, para todos, a literatura cumpre um papel cada vez mais inclusivo e representativo, onde os leitores, principalmente os jovens, conseguem encontrar histórias e personagens com os quais se identificam e se relacionam. Moletom, de Julio Azevedo, publicado pelo selo Globo Alt, da Globo Livros, com certeza, é uma dessas histórias.

O livro conta a história de Pedro, que decide sair de casa para fugir de algo sobre o qual não tem controle e recomeçar. Ele só não contava conhecer Lucas nessa nova cidade, onde ficará hospedado na casa da tia. Angustiado por tudo o que aconteceu e que o obrigou a sair para poder viver a própria vida e ser ele mesmo, Pedro precisará enfrentar tudo aquilo que o atormenta e os sentimentos despertados (que ele tentava evitar), por causa de Lucas.

Moletom é um livro que você lê em um dia. Literalmente. E não apenas porque, de fato, é uma leitura rápida. Mas é porque simplesmente não dá para interromper a história de Pedro e Lucas. Não dá para não querer chegar até o final para saber o que vai acontecer com os dois e como ambos vão lidar com tudo o que está acontecendo em suas vidas. O livro é baseado no trabalho de Julio, que ele compartilhava nas redes sociais. Em entrevista o escritor e poeta – de apenas 18 anos – também contou que a história é 50% autobiográfica. E isso mexeu ainda mais com o meu coração, me aproximou ainda mais daqueles personagens e me fez querer abraçar e ser amiga do Julio. Que narrativa sensível, profunda e emocionante.

A obra aborda a temática LGBT de uma maneira bastante lúdica, porém, ao mesmo tempo, pesada também. E isso o próprio Julio explicou que foi de propósito, porque ele queria mostrar esse lado mais sombrio e pesado que a comunidade LGBT tem que enfrentar no seu dia-a-dia. Mas Moletom não cede ao drama ou aos clichês. Pelo contrário. Através das poesias e ilustrações de Julio, aliadas ao seu texto extremamente delicado, o leitor se envolve cada vez mais com aqueles dois personagens e com os seus corações. E que final, minha gente! Que final!

Acho muito difícil falar de Pedro sem citar Lucas porque os dois estão tão intimamente ligados e representam tanta coisa um para o outro, que eu mesma me sinto mal em “separá-los”, ainda que seja para descrevê-los nesta resenha. Eles precisavam um do outro. Precisavam se encontrar para se redescobrirem, para entender um ao outro e consequentemente eles mesmos. Precisavam um do outro para fortalecê-los, para lidar com os seus próprios dilemas, incertezas e inseguranças, mas principalmente para enfrentarem juntos essa luta diária pela liberdade, pela vida e pelo amor. Um complementa o outro. Um engradece o outro.

Como qualquer adolescente, eles não são perfeitos. Longe disso. Eles erram, tentam se adaptar e serem aceitos. Eles têm medo. Mas, diferentemente de outros jovens, esse medo, esse receio não vem apenas dos conflitos resultantes da adolescência, mas de um preconceito tóxico e mortal que assola a nossa sociedade. Eles não deveriam passar por isso. Não deveriam querer fugir por não estarem dentro de um “padrão” egoísta e completamente equivocado. Não deveriam ter medo de ser quem são. De amar quem eles querem amar. Mas é isso o que acontece e a divisão do livro em suas perspectivas é fundamental para entendermos melhor essa realidade e a maneira como isso afeta cada um deles.

Ao mesmo tempo que Moletom aquece o coração, ele também o deixa bem pequenininho.  Mas é um livro extremamente importante não apenas para os jovens e para a comunidade LGBT, mas para todos aqueles que acreditam no amor em todas as suas formas e nuances. Sem qualquer rótulo, padrão ou distinções. Um amor livre de julgamentos. E é, acima de tudo, um livro fundamental para aqueles que ainda não entenderam isso.

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