[Resenha] Misto Quente

Goutyne
By Goutyne

Eu nunca imaginei que um dia em minha vida leria Bukowski, isso porque sempre achei as capas de seus livros nada interessantes e os títulos também. Eu comprei Misto Quente para meu namorado há uns dois anos e ele nunca finalizou a leitura por ser mais fã de jogos do que de livros, e ai então eu acabei lendo ele por uma mini dele. De início achei a leitura bastante tranquila, apesar de uma problemática familiar absurda na história. Ao ler algumas coisas sobre o autor vi que esse livro tem uma pincelada autobiográfica, então o livro teve seus pontos interessantes. Infelizmente Misto Quente não é livro que eu indicaria aos meus amigos, mas eu indico para quem precisa sair um pouco da zona de conforto. Até mesmo por que foi justamente o que aconteceu comigo, mesmo sem eu saber até uns 30% do livro.

O livro irá contar a infância e adolescência de Henry Chinaski, um jovem alemão que vive nos Estados Unidos no período da depressão e pré Segunda Guerra. Sua família é rude em todos os aspectos que se possa imaginar. Com um pai extremamente abusivo Henry acaba passando grande parte de sua infância sendo açoitado por motivos mais absurdos, como não cortar a grama na milimetrarem que seu pai exige.

Sua mãe é uma mulher submissa ao marido e por esse motivo nunca se impôs a respeito do que ele fazia com seu filho e tantas vezes o apoiava (não soube identificar se era por medo ou por concordância). Então não é nenhuma novidade falar que Henry não cresceu em um ambiente acolhedor e amoroso, um ambiente em que os pais prezam pelos filhos e sua felicidade. Esse comportamento de seus pais acabou se refletindo então na pessoa que Henry foi se tornando conforme seu desenvolvimento, na infância e pré-adolescência principalmente. Ele era um jovem que não sentia afeto por ninguém e por isso nunca teve um amigo de verdade; Todos os garotos que tentavam se aproximar dele de alguma forma em algum momento eram afastados pelo jeito brigão do garoto.

Particularmente gosto de histórias assim, pois vejo como uma critica e um reflexo de uma sociedade em que eu não conhecia, ainda mais em um período tão difícil quanto as consequências da crise de 29. Por um lado é curioso colocar em comparação a infância de Henry (que por acaso é a infância de Bukowski) e a infância de Maya Angelou (que foi mais ou menos na mesma época, e eu estou usando a Maya como referencia pois eu li a autobiografia dela então é o que eu posso comparar no momento). Os dois tiveram uma infância extremamente complicada. Ele por ter uma família abusiva e Maya por ter sofrido abuso, além de ser negra e não ter sua família respeitada por isso. E para mim é até bizarro pensar que pessoas como Henry e sua família eram justamente o tipo de pessoas que oprimiam pessoas como Maya Angelou. E eu falo isso já afirmando que o livro irá ter muitos diálogos racistas, passagens em que um detalhe pode passar despercebido mas que podemos ver o racismo ali. Tem também homofobia e muito, mas muito, muito machismo. 

Eu não sei dizer até que ponto a problematização de um livro com teor autobiográfico pode ser feita e vou dizer que entendo que naquela época era muito comum esse tipo de atitude das pessoas em geral, não somente desse autor mas também de muitos outros. Só que não muda o fato de que é incomodo. Principalmente falando como mulher e lendo todas as vezes que Henry afirma que uma mulher (adulta ou não) quer ele, que ela tem intenções com ele, ou que ela é uma puta só por que está usando saia ou algo assim. Para mim foi horrível ler uma passagem onde um amigo de Henry irá transar com uma garota e bate nela, do nada, provavelmente por achar que é assim que os homens fazem sexo (nessa época eles tinham mais ou menos uns 12 anos). 

Me sinto culpada pelos momentos em que o livro me fez rir com as situações absurdas. Vi algumas criticas e em uma delas a booktuber dizia que morria de rir, que o livro é hilário e eu fiquei muito chocada com isso. Pois por mais que tenha sim alguns momentos engraçados, e esses momentos geralmente são quando Henry faz alguma merda no trabalho, ou bebe além da conta e arruma briga por motivos idiotas, ele não é um livro “hilário”. Misto Quente não é um livro com intenção de ser engraçado, pelo menos ao meu ver, mas um livro que deseja tirar todas as máscaras de uma sociedade doente, uma família que sendo parte dessa sociedade ela é tão doente quanto e o circulo vicioso poderá se repetir eternamente e no meio de tudo isso há um jovem que (sendo ele o autor) irá se salvar com alguma forma de arte (Henry acaba escrevendo poemas, contos e tenta escrever romances).

– Você vai comer sua comida! – disse meu pai – Sua mãe preparou essa comida! Você vai comer cada cenoura e cada ervilha em seu prato!
(…)
Comecei a comer. Era terrível. Sentia como se os estivesse comendo, comendo as coisas em que acreditavam, aquilo que eles eram.”

Misto Quente é um bom livro? Bom, não sou uma critica profissional, mas como opinião pessoal eu honestamente não me senti realmente apaixonada pelo livro. Mas talvez seja isso mesmo, um livro em que você não goste, você não se apaixone, mas que você leia e sinta raiva das pessoas e da sociedade que há corrompe, um livro em que todos os confortos serão deixados de lado.

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