[Resenha] Manifesto do Partido Comunista

Redação

Esta obra, denominada por muitos de “o pequeno livro” foi e continua sendo livro de cabeceira de muita gente, suas ideias contagiaram o século XX e continuam muito presentes (mesmo que por meio de espectros). Escrito, no contexto europeu de meados do século XIX, no auge da marcha capitalista que atingia o continente inteiro, este manifesto tenta mobilizar o maior número possível de pessoas dentre os proletários, intelectuais e políticos, a fim de acabar com a burguesia e implantar Estados Comunistas no mundo inteiro.

Para isto, o Comunismo precisava vencer as potências e tradições em vigor: o Papa, o Czar, Metternich (um estadista austríaco), Guizot (Primeiro-Ministro francês), as alas radicais francesas e os policiais alemães. Todas as estruturas conservadoras e opressoras precisavam ser demolidas.

O Manifesto é o esboço de uma reunião de comunistas em Londres, publicado em 1848. Os autores fazem uma releitura da história, tomando como chave interpretativa a luta de classes, que apesar da diversidade, podem ser reduzidas ao conflito entre burgueses e proletários. Os burgueses sendo os capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção; e os proletários, sem meio de produção, vendiam sua mão de obra barata.

A primeira parte do Manifesto salienta a tensão e disputa entre burgueses e proletários. Marx e Engels passam a ideia de que o capitalismo estrito “fez da dignidade humana um simples valor de troca” e que possui uma visão meramente econômica de mundo, defendendo a “liberdade de comércio, sem escrúpulos.” Em outras palavras, as relações familiares foram transformadas em relações de dinheiro.

O que a burguesia deseja, segundo os autores, é ocupar todo o globo terrestre “impelida pela necessidade de ampliação de seus produtos” (p. 111). Descrevem os burgueses como espécimes de um proto-globalismo, os quais precisam ser combatidos (como se os comunistas, de facto, estivessem preocupados com o nacionalismo e a defesa das barreiras nacionais). Afirmam que a burguesia criou um mundo segundo sua imagem e semelhança” (p. 113), um mundo prioritariamente econômico. Porém, à medida que foi explorando os proletários, a burguesia forjou a arma que seria empunhada contra suas próprias vísceras.

Esta arma consiste no crescimento alarmante do número de funcionários das fábricas e empresas que se disseminaram por toda a Europa durante e após a Revolução Industrial. Nas palavras de Marx e Engels Para os autores, a burguesia se acomodou aos mesmos moldes das estruturas opressoras, não dando condições à classe trabalhadora de se emancipar e de possuir dignidade. Desta maneira, a única classe capaz de realmente ocasionar uma revolução seria o proletariado.

Para que esta estratégia fosse otimizada, eles exploraram o lupemproletariado (das camadas mais baixas e miseráveis da sociedade), aumentando consideravelmente o número de simpatizantes e militantes (que de maneira irônica, foram explorados pelos marxistas) da revolução proletária (nada que não se faça hoje, aumentando o número de dependentes diretos do governo, pessoas abaixo do nível da pobreza que precisam de uma bolsa estatal para sobreviver).

Chega um momento, entretanto, em que a burguesia tem que alimentar o proletário (é o que já ocorre em terras nacionais) e não mais ser alimentada por ele. Neste momento acabou-se toda a esperança. O caminho está aberto para a Revolução. Na parte II, os autores fazem uma correlação entre comunistas e proletários. Afirmam que os comunistas, de maneira geral, defendem os interesses dos proletários (em nível internacional). Eles não escondem suas pretensões: a formação do proletariado como classe, derrubada da dominação burguesa e conquista do poder político pelo proletariado.

Aqui temos um bom exercício de leitura. Falando de maneira retórica, os autores apontam as acusações feitas pelos burgueses contra o comunismo: “Cuidado! Os comunistas querem acabar com a propriedade privada”. A resposta comunista é que tal acusação é hipócrita, uma vez que os proletários não possuem propriedade privada e que apenas um décimo da população (que não são os proletários) a possuem. Nas palavras de Marx e Engels: “Em uma palavra, censurai-nos porque nós queremos suprimir vossa propriedade. Realmente, é isso que queremos.” (para poder gerar condições iguais, a fim de que todos tenham suas propriedades). Ou seja, o que eles querem eliminar, de maneira radical, é o conceito de propriedade nos moldes burgueses e capitalistas (ou seja, no final das contas querem mesmo tal eliminação – no Brasil, isto fica bem claro por meio do MST e MTST. Se, no entanto, a propriedade privada for dos medalhões do Comunismo, então, tal propriedade é sacrossanta).

Outra acusação burguesa: “os comunistas querem eliminar a família”. A resposta dos comunistas: “Queremos eliminar a família nos moldes burgueses (família baseada apenas no capital, no ganho, no lucro)”. Querem retirar a educação da influência da classe dominante para a sociedade inteira (mas, não existe uma força homogênea coletiva que domine a educação. Ou seja, eles dominarão a educação. Nada que não já ocorra em nosso país).

O próprio manifesto já aponta a sua relação direta com a comunidade das mulheres (de cunho feminista), a saber mais uma força para desestabilizar a cultura e a família burguesa.

No Manifesto fica bem claro quem é o povo (é o proletariado); e é este povo que deve se levantar como classe dominante (eis aí o conceito de democracia tão defendida pelo comunismo). Um proletariado que dominará politicamente para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia (classe odiada e inimigo a ser abatido pelo Comunismo. Se você quiser ter uma noção hodierna disto assista ao vídeo em que a senhora Marilena Chauí afirma com todas as letras: “Eu odeio a classe média”[i]).

Todas estas manobras, por fim, visam centralizar todos os instrumentos de produção na mão do Estado (posto que na mão da burguesia tem sido um desastre, como se os proletários todos pudessem chegar ao poder, sem miséria e sem mais classes oprimidas). Mas, observem como se conquista a democracia no Estado Proletário: por meio da “intervenção despótica no direito da propriedade e nas relações burguesas de produção.” Então, declaram como fazer isto: expropriação da propriedade fundiária, imposto progressivo forte, abolição do direito de herança, confiscação das propriedades de emigrantes e rebeldes (pensou na situação da Venezuela? “Acertô, mizerávi”), centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e monopólio, centralização do sistema de transporte nas mãos do Estado, aumento das fábricas nacionais (estatais), obrigação de trabalho para todos, unificação do trabalho agrícola e industrial, educação pública e gratuita para todas as crianças (onde eles ditarão as matrizes curriculares, às custas do dinheiro dos contribuintes), fim do trabalho infantil (não há Economia que suporte o emprego de tal estratégia). Eis aqui a grande utopia: a classe burguesa uma vez suprimida gerará as condições ideais para o fim da luta de classes (é mais ou menos por aí, só que no caso do Estado Comunista, a parte da utopia que não foi contada, na época de Marx e Engels, é que o Estado nivelaria todos por baixo).

Eis a base do Manifesto: Fim violento da classe média, estatização absoluta, controle das mídias, do ensino e dos meios de produção. É lógico que os resultados das tentativas de implantação desta Paraíso Proletário deu-no-que-deu: mais de 100 milhões de mortos. E quando não conseguem o tão sonhado paraíso, emitem aquela velha ladainha de um “projeto que ainda não se realizou”, como afirma Cláudio Reis. O que nos causa espanto é que só a posteriori é que se reconhece isto, pois no auge da implantação comunista venezuelana, tentando desenhar, os marxistas brasileiros declaram total apoio a Maduro, mesmo que os efeitos nefastos da fome, destruição, pobreza e genocídio já sejam critérios suficientes para anatematizar o regime de Maduro.

Enquanto houver esperanças da verdadeira revolução, o lema comunista é: “continuemos unidos, ganhando terreno e dizimando nações. Se ao final, não der certo, tente outra vez. Um dia, conseguiremos companheiros!”

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