[Resenha] Kindred – Laços de Sangue

Redação

Esse foi o primeiro livro que li na leitura coletiva da Abandonados da LC, mesmo não tendo participado ativamente das atividades propostas pelo grupo por conta das minhas férias consegui terminar a leitura no prazo certinho. Não é para menos, já que o livro é maravilhoso (mesmo com algumas pontas soltas que irei explicar ao longo do texto).

Dana é uma mulher negra que vive em 1976. Ela e seu marido Kevin, um homem branco, estão de mudança para uma nova casa depois que um livro dele faz certo sucesso e ele passa a ganhar um pouco mais de dinheiro. O livro, na verdade, começa um pouco antes disso, com uma cena onde Dana simplesmente narra seu braço preso em uma parede e depois no hospital, obviamente sem o braço.

Isso fica confuso até o final do livo. Durante a arrumação da mudança misteriosamente Dana viaja no tempo, para meados de 1800, onde a escravidão ainda existia, e lá ela salva uma criança branca de se afogar, que ela descobre mais tarde ser Rufus, um de seus ancestrais. Após a primeira vez Dana fará várias viagens exaustivas contra a sua própria vontade e nessas viagens coisas horríveis irá acontecer com ela e pessoas que, ela sabe, ser de sua família. 

Eu não fui pesquisar a fundo sobre o real significado da obra que a autora escreveu. Claro que vai falar sobre a escravidão e todo o sistema da época, mas ainda há uma questão ética muito grande a ser tratada neste livro., dentre tantas outras que eu posso não ter me identificado porque não é o meu lugar de fala. Então eu vou falar aqui sobre o que eu achei, minhas impressões pessoais, e se algo estiver errado sinta-se a vontade para me corrigir, vir conversar no privado, e tudo mais, pois a vida é um aprendizado né.

Primeiro, como leitora, fiquei sem entender o motivo que levou a viagem no tempo. Há uma forte ligação entre Dana e Rufus, que é um ancestral da protagonista, e o fato de ela fazer essas viagens sempre que ele está em uma situação de perigo mostra que, de uma forma ou de outra, essa família deveria existir.

No ínicio da leitura eu acreditava que a presença de Dana na vida de Rufus iria mudar a forma como ele enxerga a escravidão, assim como as pessoas negras escravizadas e/ou livres, mas infelizmente é uma situação que Dana tem pouca influencia, já que ele vive nesse ambiente e época e é totalmente influenciado por ele, então para Rufus é normal um homem branco estuprar uma escrava, assim como é normal um escravo ser açoitado se tentar fugir, dentre outras coisas. Ao longo das viagens que Dana faz a convicção do que ele acredita fica mais e mais evidente, pois ele vai ficando mais velho e vai vivendo essa vida para se tornar o dono da fazenda de seu pai. Há pequenas situações em que Rufus me deu impressão de que seria diferente, mas infelizmente eu estava errada.

Ao mesmo tempo que deseja mudar toda a situação escravagista, Dana sabe que é impossível fazer isso, e apesar de todo o sofrimento ela sabe que não pode mudar aquele ambiente, pois se fazer algo poderá deixar de existir no futuro. Então ela tenta ser uma pessoa neutra naquele ambiente. Apesar de ser uma escrava (ela é livre, mas vive como uma escrava) Rufus tem um grande carinho por ela e a trata com mais benevolência, mas quanto mais velho ele fica mais ameaçador ele se torna, Danta tanto sabe disso que se preparar para o pior cada vez mais. Por causa dessa relação dos dois Dana acaba sendo mal vista entre os escravos da fazenda, onde eles a julgam por ficar tão próxima das pessoas brancas dali, mas claro sem entender o real motivo. Ela tem medo, muito medo, não somente por si, mas por Kevin (que em certo momento viaja com ela) e pelas pessoas que ali vivem e que poderiam sofrer muito mais algumas coisas se não fosse por ela. O pior de tudo mesmo é ver Dana sendo “cúmplice” dos estupros contínuos de Alice, a genitora de seu ancestral. Ao mesmo tempo que Dana odeia o que esta acontecendo com moça pensa que não deve mudar o passado. Por mais que ela tente dizer a Alice que ela tem escolha de ir ou não a Rufus, ela sabe e Alice faz questão de dizer que não há escolha, ela é uma escrava e assim a opção é essa, ou ser açoitada, ou até mesmo morrer. Sinceramente eu não sei o que eu faria nessa situação toda.

Ela havia feito a coisa mais segura, aceitado uma vida de escravidão por sentir medo. Era o tipo de mulher que poderia ser chamada de “aia preta” em outras casas. Era o tipo de mulher que seria desdenhada durante a militante década de 1960. A aia preta, o lenço na cabeça, a versão feminina do Pai Tomás; a mulher assustada e sem poder que já tinha perdido tudo o que poderia perder e que sabia tão pouco sobre a liberdade do Norte quando sabia a respeito do viria a partir de agora. 

É fato que o livro irá te prender de um jeito que nenhum outro te prenda. Dana é a protagonista forte que todos procuramos na literatura, e não é para menos. Mas é bom estar preparada para essa leitura, por ela é um pouco forte demais, pode ser um gatilho para algumas pessoas. Entretanto eu indico fortemente, principalmente em leituras coletivas e clube do livro. O debate que esse livro gera pode ir para várias vertentes.

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