[Resenha] Justiça a Qualquer Preço

Redação

Estreando nova casa editorial no Brasil, John Grisham, best-seller absoluto e um de meus autores favoritos, envereda por um de seus caminhos preferidos, o da crítica a grandes corporações. Justiça a Qualquer Preço, contudo, derrapa na falta de ação e embates de tribunais tão comuns em sucessos de vendas anteriores do autor. O resultado é um livro mais descompromissado que não envolve a ponto de devorarmos as páginas como acontece na quase totalidade de sua extensa obra.

Mark, Todd e Zola ingressaram na faculdade de Direito porque queriam mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor. Fizeram empréstimos altíssimos para pagar uma instituição de ponta e agora, cursando o último semestre, descobrem que os formandos raramente passam no exame da Ordem dos Advogados e, muito menos, conseguem bons empregos.

Quando ficam sabendo que a universidade pertence a um obscuro operador de investimentos de alto risco que, por acaso, também é dono de um banco especializado em empréstimos estudantis, os três se dão conta de que caíram no grande golpe das faculdades de Direito. Então eles começam a bolar uma forma de se livrar da dívida esmagadora, desmascarar o banco e o esquema fraudulento e ainda ganhar alguns trocados no caminho. Mas, para isso, precisam abandonar a faculdade, fingir que são habilitados a exercer a profissão e entrar em uma batalha contra um bilionário e o FBI. (Resenha: Justiça a Qualquer Preço – John Grisham)

Justiça a Qualquer Preço foge dos advogados estabelecidos para focar em um trio de estudantes que se vê às voltas com uma impagável dívida contraída para financiar sua faculdade de Direito.

A situação atinge o intolerável quando esbarram em uma grande trama montada justamente para fisgar jovens como eles, que sonhavam em se formar como advogados e ganhar fortunas nas grandes firmas, mas que no fim das contas acabam endividados e sem nenhuma perspectiva de conseguir sequer passar no exame da Ordem dos Advogados. O trio decide então cair na marginalidade atuando de forma ilegal nos tribunais de forma a ganhar alguma grana.

O enredo de Justiça a Qualquer Preço é aparentemente promissor e possui as qualidades narrativas que tão bem conhecemos do trabalho de Grisham. Mas falta um tempero a mais e ficamos com a sensação de que o autor não se entregou tanto quanto estamos acostumados.

Excetuando a abordagem coadjuvante sobre a questão da deportação de imigrantes, provavelmente influenciada pelas políticas do atual presidente norte-americano, a trama principal com os três estudantes e seus pequenos golpes nos tribunais, por mais que de fato possa acontecer no dia a dia, não convence. E a principal ausência, os embates jurídicos, prejudicou muito, do meu ponto de vista, o envolvimento dos leitores com a trama.

Como leitor voraz da obra de John Grisham, coloco Justiça a Qualquer Preço no nível de obras medianas, de criação mais descompromissada, como A Confraria, O Advogado e A Intimação, por exemplo. São tramas que possuem seus méritos, mas que não trazem o mesmo fôlego que nos fazem consumir trezentas páginas em dois dias. No caso de Justiça a Qualquer Preço, os pequenos golpes aplicados pelos estudantes predominam em quase toda a obra, e a investigação contra a empresa da qual foram vítimas, e que eu acreditava ser o eixo em torno do qual o livro giraria, não acontece.

O trio de protagonistas, embora mergulhados em dramas e problemas pessoais interessantes para dar sustância à história, não angaria nenhuma simpatia dos leitores. Nem acho que esse era o objetivo do autor. No fim, ao virar a última página, fica a sensação de que a obra toda trouxe uma grande crítica à falta de escrúpulos de todos, sem exceção. Mesmo os personagens principais passaram bem longe do ideal de mocinhos e a tal justiça a qualquer preço, título da obra em português, em nenhum momento fez sentido. Aos fãs de Grisham, é um livro para ser lido e anexado à galeria de obras meio-termo; já para quem está estreando, esta certamente não é a melhor forma de desbravar o autor.

PS: Acredito que, por seu histórico, a Editora Arqueiro vá conferir a John Grisham um tratamento à sua altura, algo que a Rocco embora se esforçasse não vinha conseguindo em tempos recentes. Entretanto, fica uma dica/pedido. Justiça a Qualquer Preço tinha seu nome em inglês como The Rooster Bar, algo que poderia ter sido mantido na versão brasileira (como a Suma já faz em algumas obras de Stephen King). “O Bar Rooster” faz total sentido quando lemos o livro, mas “Justiça a Qualquer Preço” é um nome completamente distante do que a trama narra. Meu pedido/dica é esse: não tenham medo de manter nomes em inglês quando for necessário. Os fãs e leitores brasileiros já são maduros o suficiente para aceitar isso.

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