[Resenha] Jo Nesbø – O fantasma: 9

Redação

Embora minha última experiência com Jo Nesbø não tenha sido das melhores, O Fantasma veio para me relembrar o motivo de eu simplesmente amar essa série do autor. Não só isso, o nono volume da série protagonizada por Harry Hole tanto ganhou o posto de meu favorito, até então, quanto me deixou maluca pela leitura de Polícia, volume seguinte, de forma que nem Boneco de Neve ou O Leopardo havia me deixado.

Harry Hole, ao longo dos volumes, não apenas combate o crime como também seus próprios demônios. Agora, há três anos afastado de seu cargo como investigador, ele se vê obrigado a retornar a Oslo para uma investigação paralela, já que Oleg, o filho do amor de sua vida (e quase um filho para ele), foi acusado de matar um traficante de drogas. É quando o ex-policial mais uma vez se vê em meio ao mundo do crime e, dessa vez, perseguindo fantasmas muito mais assustadores do que a figura de um só homem pode ser.

O Fantasma já começa impactando. A narrativa do livro, majoritariamente em terceira pessoa, assume a perspectiva de diferentes personagens ao longo da trama a fim de serem apresentadas ao leitor diferentes cenas que compõem a história e que não seriam possíveis, caso tivéssemos apenas a visão, limitada, de Harry Hole. Porém, a primeira perspectiva do enredo é a de uma ratazana, que se alimenta do corpo ao redor de cuja morte a história acontece.

Só aqui já temos não só o tom da narrativa, como também a habilidade e criatividade do autor em ir além do que está sendo contado. Jo Nesbø nos proporciona acompanhar um enredo, mas também senti-lo e visualizá-lo de forma muito mais significativa do que uma simples descrição pode proporcionar. O livro traz, também, passagens em primeira pessoa narradas pela perspectiva do traficante assassinado, como se fossem seus pensamentos antes da morte, a partir dos quais pouco a pouco vamos compreendendo sua trajetória, que o levou a ser assassinado.

Talvez o que eu mais tenha gostado no livro seja o forte fator interpessoal nele. Uma das características mais marcantes da série está justamente no fato de suas personagens serem tão complexas, e isso se faz mais uma vez presente. Contudo, o caso aqui talvez seja um dos mais pessoais para Harry Hole, e todas as implicações nele também o são. Dessa maneira, temos um Harry, dessa vez, que não está lidando com seus demônios, mas sim com seus fantasmas – e esses, talvez, sejam ainda mais assustadores. Como há essa carga muito forte na trama, acredito que, aqui, a leitura prévia dos demais volumes da série se faça necessária, ainda que os livros normalmente possam ser lidos independentemente uns dos outros. É através deles que o leitor é capaz de construir, juntamente do protagonista, tanto suas relações pessoais quanto sua própria personalidade.

Se a trama como um todo (tão complexa e bem amarrada como nos demais livros) já havia me conquistado, principalmente pelo fator interpessoal do enredo, O Fantasma se definiu como meu preferido da trama até então pelo seu final. Não só a curiosidade sobre a resolução do caso é mantida até o fim, como ela também é capaz de surpreender, nos deixar absolutamente insanos pela continuação e, de certo modo, emocionar. Não é algo que te faça derrubar lágrimas, mas que mexe com as emoções por todos os significados, expectativas e relações que criamos com e sobre as personagens.

Se em algum momento cogitei não prosseguir com a leitura da série de Jo Nesbø, O Fantasma fez essa hipótese cair por terra. Um thriller policial completo, recheado de suspense, ação, emoção, com uma trama bem amarrada e personagens extremamente complexas e bem desenvolvidas.

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