[Resenha] Howl’s Moving Castle: 1

Redação

Entre as conversas de fãs de fantasia sempre surge a pergunta “De onde se inspiraram os livros de fantasia?”. E a resposta é sempre a mesma, relacionando-os aos contos de fada. Mas, as obras de fantasia dos dias de hoje estão muito distantes de suas origens, tendo adotado características próprias. Algumas são épicos de ação enquanto outras adotam particularidades únicas se focando em algum discurso desejado pelo autor. O Castelo Animado é uma obra que retoma essa proximidade com os contos de fada.

Sophie Hatter é a mais velha em uma família de três irmãs. Sophie e Lettie são filhas de outro casamento enquanto Martha, a mais nova é filha de Fanny. A família Hatter herdou um negócio de chapeus de seu pai, porém Fanny não se interessa muito pelo negócio. Após alguns fracassos no comércio, Fanny decide tirar as filhas do colégio e enviá-las para que estas sejam tutoradas por amigo e conhecidos da família.

Lettie é enviada para a Senhora Fairfax onde esta poderá aprender a ser uma feiticeira e quem sabe conseguir um bom marido graças aos contatos da Sra. Fairfax. Já Martha é enviada para a confeitaria Cesari onde poderá aprender uma profissão e conseguir um emprego honesto sendo uma aprendiz. Já Sophie, por ser a mais velha, fica com Fanny cuidando da loja de chapeus. Sophie sempre foi a mais responsável e obediente da família, diferente da revoltada Lettie e da sonhadora Martha.

Sophie consegue se destacar na chapelaria criando chapeus diferentes que são apreciados por seus consumidores. Mas, quando a Bruxa das Terras Desoladas vai até a chapelaria, Sophie se desentende com ela e a bruxa transforma Sophie em uma velha. Assustada, Sophie foge de casa e vai se refugiar no estranho castelo do Bruxo Howl que diz ser um lugar que se move.

Ao entrar no castelo, Sophie conhece Calcifer, um demônio do fogo que faz um acordo com ela: se ela conseguir desfazer o feitiço posto por Howl nele, o demônio jurou desfazer o feitiço de envelhecimento. E será a partir daí que Sophie irá passar a viver no castelo para tentar aprender a desfazer o feitiço posto em Calcifer.

A história entende a magia como algo natural nesse mundo. Me faz pensar no realismo mágico tão típico da literatura sul-americana. No realismo mágico, as histórias são baseadas em fatos do cotidiano com a exceção de algum elemento de magia ou do fantástico que tornam a história fantasiosa. Aqui o leitor rapidamente percebe que as pessoas deste mundo lidam com naturalidade com a habilidade de Howl ou da Bruxa de se transformar ou de enfeitiçar alguém. Aliás, a ideia de um castelo capaz de se mover também é normal. Quando Sophie é enfeitiçada, ela se assusta em um primeiro momento, mas depois rapidamente entende o que lhe aconteceu. E que seria necessário pedir ajuda a outro bruxo.

Esta é uma história sobre responsabilidades. Sophie é uma pessoa tão responsável que ela vê com naturalidade o fato de ser submissa. Para ela não existe outra vida. Ela não pensa em si mesma. Quando ela foi designada para a chapelaria, ela entendeu que essa era a obrigação dela por ser a mais velha. Ela não realizou que Fanny poderia estar explorando-a e sua habilidade para confeccionar chapéus.

Tanto é que quando Sophie desaparece, Fanny vende o negócio porque não compreende os meandros dele. O encontro entre Sophie e Howl é um choque porque Howl é o completo oposto de Sophie. Howl é uma pessoa egoísta e um total mulherengo. Para Sophie, o fato de Howl gostar de paquerar as mulheres apenas por causa do jogo da admiração é um absurdo. Em nenhum momento, Sophie parou para pensar que poderia haver um motivo maior.

Aliás, este é outro tema presente em O Castelo Animado. Por ser uma menina muito certinha, Sophie julga o caráter dos outros muito rapidamente. Em determinado momento da história, Howl acusa Sophie de agir sem pensar. E isso vai muito dessa característica de Sophie de julgar pela capa. Posteriormente, o leitor percebe que as motivações de Howl vão muito além. Aos poucos vamos compreendendo a história de Howl e sua família no País de Gales, sua relação com a bruxa e seu interesse repentino pela própria Sophie. Calcifer dá algumas pistas ao longo da história, mas Sophie, cega com seus julgamentos, não é capaz de perceber.

A escrita de Diana Wynne Jones é muito gostosa. É um livro, de certa forma ingênuo, porém existe uma profundidade em suas linhas que tornam o enredo mais reflexivo. Mesmo voltado para um público mais jovem, ele possui mensagens para os adultos. Eu fui surpreendido agradavelmente pela obra, apesar de ela não ter me parecido muito marcante. Achei que Diana Wynne Jones trabalhou muito no caráter de Sophie e deixou para se focar apenas no final nos demais personagens. A descrição da personalidade de Howl acabou sendo corrida. Achei até que a autora acabou enrolando muito antes de realmente começar a história. Fiquei preocupado a partir da metade final do livro porque não sabia qual era o objetivo último da história. O embate entre Howl e a Bruxa só se delineia bem no final quando este é iminente.

A ambientação também ficou um pouco de lado. A maior parte das cenas se passam no castelo de Howl. A autora poderia ter explorado mais o seu universo literário. Por exemplo, o rei não me pareceu tão importante assim. O impacto de Howl se tornar um mago real não me soou tão impactante assim porque eu não era capaz de perceber qual era a diferença agora. Para Howl ser obrigado a procurar o príncipe Justin não precisava ele se tornar um mago real, bastava o rei obrigar o mago a fazê-lo.

O Castelo Animado foi uma leitura rápida e interessante que me surpreendeu. Os personagens não são tão memoráveis assim, mas o ritmo da história é rápido e dinâmico. Quando você menos espera, a história chega em seu ápice. Este é um livro que se tornou uma animação do Studio Ghibli que pretendo resenhar também. Quem tiver a curiosidade, busquem na seção do Sudio Ghibli.

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