[Resenha] Hibisco Roxo

Goutyne
By Goutyne

No final de 2019 iniciei a leitura de Hibisco Roxo pois queria ler um romance da Chimamanda, já que amo seus textos de não-ficção; E com minha participação em diversos grupos de leitura coletiva acabei abandonando a leitura pois este seria um dos livros selecionados para 2020, entretanto uma outra LC acabou colocando Hibisco Roxo na lista de Abril e vi a oportunidade de terminar o livro antes do que tinha planejado, até porque eu ainda estava com esse livro em minha mente querendo saber o que ocorreria com Kambili e sua família.

Hibisco Roxo irá nos apresentar a jovem nigeriana Kambili. Sua família é muito rica e seu pai é um homem  de grande influencia em sua comunidade, pois é muito católico e ajuda a todos os necessitados, é dono do principal jornal local e de diversas fábricas alimentícias; Entretanto dentro de casa a imagem que ele faz na sociedade se desfaz. Um homem muito rígido com os filhos e violento com a esposa e já foi, por diversas vezes, o causador dos abordos que ela teve ao longo do casamento; Com os filhos sempre exigiu religiosidade e disciplina com os estudos. E é sobre esse arco que a história irá se desenvolver, principalmente após Jaja (irmão mais velho de Kambili) se negar a tomar a hóstia na Missa de Ramos, o que para seu pai foi o absurdo.

Naquele instante, percebi que era isso que tia Ifeoma fazia com os meus primos, obrigando-os a ir cada vez mais alto graças à forma como falava com eles, graças ao que esperava deles. Ela fazia isso o tempo todo, acreditando que eles iam conseguir saltar. E eles saltavam. Comigo e com Jaja era diferente. Nós não saltávamos por acreditarmos que podíamos; saltávamos porque tínhamos pânico de não conseguir.

Eu acho que, até o momento, não tinha lido nenhum livro sobre intolerância religiosa e hipocrisia religiosa como Hibisco Roxo. Acho que a principal intenção de Chimamanda não foi essa, e sim mostrar a influencia que os brancos teve na Nigéria, principalmente em relação a cultura e religião, mas junto com isso anda esses dois aspectos que citei.

O pai de Kambili é um homem tão exemplar e amado na sociedade, principalmente na sociedade católica e pelo próprio clero que seria impossível pensar que ele é tão ruim dentro da própria casa e em relação ao seu pai (que não mora com ele, mas sofre com a indiferença do filho por seguir a religião local). As atitudes desse homem narrada pela sua filha mais jovem não é boa de ler. Sabe quando você lê ou assiste um filme de terror e fica se remexendo com medo do próximo susto? Foi mais ou menos isso que senti ao ler as coisas que esse homem fazia aos filhos, e sempre que eles estavam reunidos, mesmo em um jantar, eu já morria de medo de um ato de violência.

Por odiar o personagem do pai de Kambili eu odiei todos os momentos em que ela demonstrou admiração e amor pelo pai, eu não consigo entender como ela poderia ser assim. É amor ou medo? Talvez um pouco dos dois, apesar de tudo. Mas gostei muito do desenvolvimento da personagem na trama, pois ela passou por um processo longo até entender que aquilo não era certo, que aquilo não acontecia em todas as casas, que seu pai sendo um homem bom fora de casa não anulava ele ser um homem ruim dentro de casa e consegui compreender que apesar de tudo isso ela ainda conseguia ama-lo por ele ser seu pai e mais nada. Kambili é muito expressiva conosco e sua narrativa é emocionante.

Eu amei esse conhecimento da cultura Nigeriana através da família da tia de Kambili, assim como alguns aspectos históricos; Mas é muito triste ver através de uma autora nigeriana (e não haverá ninguém melhor para nos contar isso do que uma autora nigeriana) o quanto nós, brancos, mudamos tanto um país e um continente com nossas imposições, sendo uma delas a religião. O livro debate muito isso e aprendemos junto com Kambili.

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