[Resenha] Eu, Tituba — Bruxa Negra de Salem

Goutyne
By Goutyne
Resenha Eu Tituba — Bruxa Negra de Salem scaled

Tituba foi uma mulher escravizada que viveu em um dos períodos mais conturbados da história: A Queima das Bruxas de Salem. Ela era escrava de um pastor e, pouco tempo após eles se instalarem em Salem, as crianças começaram a sofrer de algo que era considerado por todos como algo do diabo. Devido à sua cor de pele, Tituba foi inicialmente culpada e posteriormente outras mulheres (e alguns homens) também foram acusados.

Essa é uma parte da história que muitos já ouviram falar, mas não conhecemos todos os detalhes a fundo, seja pela falta de registros daquela época para contar essa história ou pelo racismo que escondeu a história de Tituba. No entanto, Maryse Condé se inspirou na história de Tituba, a Bruxa Negra de Salem, e transformou em um romance biográfico, que é incrível, triste e tão real quanto você ler esse texto agora.

A partir de agora, quando eu mencionar Tituba, estarei me referindo à personagem do livro, então algumas coisas podem não ser reais, pois a autora quis dar uma história para ela.

Tituba nasceu em Barbados como resultado de um estupro, o que a fez sentir que sua mãe nunca a amou como deveria. Ela também questionava como uma mulher escravizada poderia amar sua filha, fruto de um estupro cometido por um homem branco, e como essa mulher poderia correr o risco de perder a filha a qualquer momento.

Ela foi criada por seu padrasto, que a batizou e lhe deu todo o afeto que ela poderia desejar na infância. No entanto, uma tragédia ocorreu e Tituba perdeu os dois e se viu sozinha novamente. Uma mulher a acolheu e ensinou a Tituba tudo o que sabia sobre a natureza, incluindo a cura com ervas. Após ficar sozinha novamente, Tituba decidiu seguir sua vida sozinha, continuando seus estudos e ajudando os outros. No entanto, ao conhecer um homem e se apaixonar, ela deixou tudo para trás para ficar com ele.

Infelizmente, a vida de Tituba piorou depois que ela se juntou a John, um escravizado que sempre viveu na casa dos brancos e desconhecia a realidade dos seus semelhantes. Esse relacionamento foi, de longe, a pior parte do livro e a que mais me deixou indignado.

Eu tinha vontade de gritar para Tituba deixar esse homem e voltar para sua vida anterior, onde ninguém a incomodava e ela era livre. No entanto, devido a esse relacionamento, ela foi obrigada a “aceitar Deus”, a se converter ao cristianismo, além de sofrer humilhações. Para piorar, depois de um tempo, ambos foram vendidos para um pastor que estava indo para a “América” e Tituba passou a ser responsável pelos cuidados da casa.

Ela se apegou às filhas do pastor e tentou cuidar delas da melhor forma possível, especialmente da mais jovem, que era facilmente influenciada pelas outras meninas da vila. Aos poucos, a menina passou a ver em Tituba uma figura maligna e a acusou de causar tormento através de bruxaria. Tituba se tornou um alvo fácil para acusações de bruxaria por ser uma mulher negra. Ela passou meses na prisão, sofreu torturas e mesmo assim não perdeu a esperança de que poderia sair dali com vida, de que um dia voltaria a Barbados, sua amada terra natal.

Para uma escravizada, a maternidade não é uma alegria. Ela acontece em um mundo de servidão e abjeção, trazendo ao mundo um pequeno inocente cujo destino será impossível de mudar.

A história é extremamente triste, não apenas por ser um livro, mas porque sabemos o que ela sofreu lá dentro e, ao refletir, lembramos de todas as mulheres que foram injustamente acusadas de bruxaria. Tituba foi uma das primeiras a ser libertada, pois acabou confessando que estava envolvida em bruxaria e tinha contato com o maligno. Ela justificou que, como uma escravizada, a única coisa que sabia fazer era obedecer, pois nasceupara servir, não importando a quem.

Maryse Condé deu a Tituba uma história que historiadores ignoraram por puro racismo, afinal, quem queria contar a história de uma escravizada negra? O final do livro foi romanticizado, já que ninguém sabe ao certo o que aconteceu com ela depois de ser libertada da prisão. No entanto, pessoalmente, acredito que ela merecia mais, merecia ser feliz e livre, merecia viver em paz consigo mesma e não cair em novas armadilhas. Talvez eu não tenha compreendido completamente o significado do final por não fazer parte daquela realidade. De qualquer forma, o livro é emocionante, traz reflexões e revela mais uma parte dolorosa da história dos escravizados.

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