[Resenha] Coração Satânico

Redação

“Sem saber exatamente como, parece que criei um clássico original. A arte, por sua própria natureza, incorpora certo grau de risco e acaso. Minha obra parece prosperar baseada nisso. ” Este pequeno trecho escrito por William Hjortsberg no posfácio de Coração Satânico é a melhor definição da obra em questão. Um clássico do suspense, que completa 40 anos de publicação em 2018, que mantém o mesmo vigor narrativo para fisgar e surpreender os leitores, independente da época em que seja lido.

Coração Satânico se passa em Nova York, em 1959. Harry Angel é um detetive particular contratado para encontrar Johnny Favorite, um músico famoso que desaparecera após a Segunda Guerra Mundial. Psicologicamente transtornado com os campos de batalha, Johnny retornaria aos Estados Unidos em estado catatônico.

Dias depois, ele some do hospital de veteranos, sem deixar rastros. O caso leva Harry Angel a se envolver com seguidores do vodu, assassinos e um cliente que não ousa perdoar velhas dívidas. (Resenha: Coração Satânico – William Hjortsberg)

Coração Satânico é um daqueles genuínos escritos dos anos sessenta e setenta do século XX. Uma história cuidadosamente desenvolvida para nos envolver, mesmo que já antecipemos um ou outro acontecimento. 

O suspense criado nos dá aquela mágica sensação de sermos, nós leitores, os detetives da história. Acompanhamos passo a passo a sequência da investigação sem atropelos, avanços ou sub-enredos. O tema central nunca perde espaço para algum pano de fundo desnecessário e cada personagem tem um exato papel a cumprir.

O detetive Harry Angel é um personagem fascinante, desses investigadores tradicionais que não se furtam a invadir locais, ameaçar pessoas ou usar da força para conseguir descobrir o que precisam (o típico personagem que nossos tempos modernos de politicamente correto não aprovariam). Harry é contratado para encontrar um músico famoso, Johnny Favorite, que desapareceu misteriosamente do hospital em que era tratado. O livro narra essa busca de forma primorosa em uma leitura gostosa em que as páginas se sucedem de forma automática. Não sentimos vontade de parar de ler. É envolvente!

À medida que a investigação avança, Harry descobre que Favorite deixou no passado um rastro de magia negra, envolvimento com seguidores da religião Vodu e mais perguntas do que respostas. Esse é o ponto crucial que distancia Coração Satânico de outros suspenses da época e o aproxima dos clássicos do terror que dominaram as livrarias naquela época. Os rituais narrados no livro ganham um toque sombrio e são coroados por uma descrição minuciosa de uma missa negra. Mais macabro que isso, impossível.

Mesclando suspense com terror em uma narrativa crescente em que as ações vão ganhando contornos cada vez maiores, o clímax da história é aquele tão famoso soco no estômago. Um final surpreendente e à altura da qualidade do mistério criado. Ao unir todos esses ingredientes de forma precisa, sem exageros ou soluções grotescas, William Hjortsberg produzir uma obra-prima que segue impressionando e fascinando diferentes gerações de leitores. É um clássico, e sua leitura é mais que obrigatória para fãs do gênero e para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de se deixar envolver pelas garras do desconhecido.

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