[Resenha] Anne de Green Gables

Redação

Eu conheci a história de Anne de Green Gables através da série exibida pela Netflix, logo que a produção estreou. E me encantei perdidamente pela ruivinha tagarela e sonhadora, que trazia uma visão tão ingênua e sensível do mundo à sua volta. Por isso mesmo, assim que acabei a primeira temporada, corri para buscar informações. E, qual não foi a minha surpresa – aliás, surpresa nenhuma porque, pela essência da história eu já desconfiava, faro de leitora, né, gente? -, descobri que a história era uma adaptação de uma série de livros homônima, escrita por L.M. Montgomery. E obvimante eu precisava ler, apesar de evitar ler os livros depois de assistir às adaptações. E escolhi a edição maravilhosa da editora Martin Claret para começar a minha coleção e me aprofundar nessa jornada tão incrível de Anne.

Neste primeiro volume, Anne de Green Gables, conhecemos a órfã Anne – com “E” no final, faz favor -, uma garotinha de 11 anos que, após um equívoco entre as partes interessadas, acaba sendo adotada por um casal de irmãos, Matthew e Marilla Cuthbert, e se muda para a propriedade deles, Green Gables, na Ilha do Príncipe Eduardo. Sonhadora, idealista e dotada de uma imaginação fértil e um vocabulário extenso e incontrolável, ela vê a sua vida mudar para sempre, além de transformar também a vida de todos.

Uma das coisas que mais me encanta nessa história é a perspectiva de Anne em relação a tudo. Por pior que tenha sido a sua vida, antes de Green Gables, por maiores que tenham sido os seus desafios e provações ainda tão jovem, ela nunca perdeu o interesse pelas coisas. Ela nunca perdeu a sua capacidade de sonhar, de admirar e de ver o lado positivo da vida. Isso é lindo, emocionante e inspirador. E, ainda que inicialmente seja cansativo acompanhar a sua imaginação e a velocidade de seus pensamentos – gente, algumas falas de Anne chegam a ter DUAS PÁGINAS SEGUIDAS! -, é impossível não se apaixonar por ela. Não se emocionar com a sua paixão pelo mundo e pelo conhecimento, pelos livros. Por seus ideais. Pelo seu olhar, até então, infantil e leve de ver e entender a realidade.

A evolução de Anne, no entanto, se deve muito também a Matthew e Marilla. Esses irmãos introspectivos e conservadores que viram sua vida pacata e praticamente metódica virar do avesso com a chegada da garotinha efusiva e impulsiva. Mesmo com suas manias, receios e insegurança, Matthew e Marilla mostraram o coração enorme que possuem e, mesmo com o susto inicial de se verem responsáveis por Anne – quando esperavam adotar um menino – nunca se omitiram nem se opuseram (Marilla, talvez, tenha precisado de um pequeno empurrão) a abrir a sua casa e o seu coração para uma garotinha órfã.

E, mesmo sem qualquer jeito ou prática, souberam criá-la com muito carinho, afeto e ternura. E foram recompensados com uma família e com o lindo amadurecimento de Anne, que sempre soube demonstrar toda a sua gratidão e principalmente o seu amor por eles. Anne, por sua vez, também recebeu todo o amor, atenção e cuidado que lhe foram negados em seus primeiros anos de vida. E, assim como Anne, também é possível perceber a evolução dos irmãos, em como eles começam a se abrir não só para Anne, mas para a vida em si. Como eles também começam a enxergar as coisas sob outra perspectiva. Uma perspectiva mais doce.

Tudo em Anne de Green Gables parece intenso, como a sua protagonista. Sua amizade com Diana, suas ambições, seu esforço para se provar, suas criações e idéias. E é impossível não absorvermos tudo isso. Não sermos influenciados por Anne. Talvez, sua tendência ao drama possa parecer exagerada e forçada? Sim. Contudo, é preciso entender e respeitar esse lado de Anne. Alguém que soube compreender o lado sombrio da vida e transformá-lo em histórias e fantasia. Ah, se todo mundo tivesse essa capacidade!

Neste primeiro volume, acompanhamos Anne dos seus 11 aos seus 16 anos. Vê-la crescer e começar a se transformar numa mulher íntegra e determinada é tão bonito. Principalmente por saber que ela, ainda assim, nunca irá desistir dos seus sonhos, muito menos da sua visão idealista nem perder a sua essência curiosa. Aliás, por mais que Montgomery tenha escrito esta história em 1908, é impressionante como a autora aborda questões e incita debates muito à frente de seu tempo. Esse também é um dos pontos que me fascinaram na narrativa. Feminismo, sororidade, representatividade. Anne de Green Gables explora aspectos sociais muito importantes, de maneira séria e respeitosa.

Para quem, como eu, assistiu à série antes de ler os livros, digo, com toda a certeza, que não só vale a pena começar esta leitura, como é extremamente necessário. E não apenas porque há diferenças entre as histórias – aliás, eu achei ótimo porque, mesmo com aspectos semelhantes, senti como se estivesse lendo algo praticamente inédito. Mal posso esperar para ler os outros volumes!

O fato é que esta história é um alento. Um sopro de esperança e de leveza em meio a tempos tão turbulentos. Anne de Green Gables traz empatia, solidariedade, amizade, amor. Nos faz embarcar nessa jornada romântica junto a garotinha ruiva que, mesmo tão jovem, mostra mais sabedoria e entendimento do mundo do que muitos adultos. Como seria mais fácil se todos nós pudéssemos ter um pouco de Anne em nossas vidas e em nossos corações.

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