[Resenha] A Menina do Outro Lado: Volume 5

Redação

E está entre nós o quinto volume da saga de Shiva e Sensei, um mangá fofíssimo trazido pela demoníaca editora DarkSide! O ponto alto da história é, sem dúvida, o relacionamento entre a garotinha e a misteriosa criatura que cuida e a protege. Voltamos a partilhar da vivência desses dois seres tão diferentes, mas que tanto se gostam. Temos revelações, mas muitas perguntas ainda sem respostas!

Retornamos ao mundo praticamente solitário de Shiva e Sensei. Ela é uma garotinha meiga e alegre, criada por Shiva, um ser amaldiçoado, de chifres, que impede a garota de tocar nele. O mistério sobre a maldição que recai em tantas pessoas continua. Ainda que tenhamos algumas revelações. No volume anterior a Tia de Shiva reapareceu. Mas também passou pelo processo de transformação. Enquanto a garotinha desconfia que Sensei esconde algo, Sensei por sua vez tenta descobrir mais sobre sua condição e por que Shiva não se transforma como os outros.

Shiva se ressente com Sensei por perceber que ele não contou tudo sobre a condição da Tia. Há muita tensão na relação dos dois neste volume e temi que a dupla acabasse irremediavelmente quebrada por conta dos segredos mantidos por Sensei. Nagabe investe nessa tensão, então aqui não acontece algo que seja tão relevante para as peças desse quebra-cabeça.

E não tem problema que este volume seja mais contemplativo, menos tumultuado. A vida das pessoas não é feita de surpresas e reviravoltas o tempo todo. E o volume anterior trouxe uma carga emocional muito grande para a dupla que precisava ser extravasada e explicada, sentida por Shiva e por Sensei. Ele precisa ter muita paciência e diálogo para acalmar a menininha que está bem irritada e com razão.

Também não surgem tantos personagens novos neste volume. Ele é todo dedicado aos dois, ao relacionamento de ambos que parece prestes a arrebentar. E o que Nagabe economiza no enredo, ele usa para elaborar os quadros e os incríveis detalhes de árvores, objetos, pessoas, as expressões de seus personagens, a tensão através dos diálogos tensos e gritados pela garotinha.

É um trabalho melancólico, lírico até, pois passamos os últimos cinco volumes preocupados com Shiva e Sensei, se o mundinho deles está sob ameaça, se a garotinha será transformada, sem respostas para questões básicas. Queria muito saber da história pregressa de Sensei, queria mais informações sobre essa maldição. Mas o jeito é esperar pelos próximos volumes!

Por mais estranha que a visão de Sensei seja, quem são os monstros da história? São estes seres esquisitos, desprovidos de uma aparência humana ou são as pessoas dentro dos muros das cidades que, na primeira oportunidade, são capazes de atos abomináveis, reprováveis, até mesmo contra uma criança? O mangá vem lidando muito bem com essa dualidade, deixando essas questões para que a gente vá digerindo aos poucos conforme o enredo se desenrola.

A edição segue a perfeição das anteriores, em capa dura e papel encorpado. A tradução de Mie Ishii e não há problemas de diagramação.

Obra e realidade

A obra de Nagabe traça paralelos com a realidade que até o mais desavisado não deixaria de notar, ainda que muitos possam ignorá-la, achando que nada tem a ver com a atualidade. Vivemos em um mundo onde divergir do plano geral das coisas é ser um criminoso, é ter sua existência contestada. E aí vemos esses dois seres tão diferentes entre si em essência e existência que, entretanto, convivem juntos na harmonia de um lar, como uma família. Como eles conseguem? Simples, aceitando e respeitando um ao outro.

Não só isso, vemos que a essência do mal pode estar muito mais perto do que a gente imagina. Nem sempre é na escuridão que o maligno se esconde, mas ao lado, na casa em frente, na sede do governo, quem sabe em seu próprio quarto? Como aceitar que o mundo é feito de luz e escuridão, inclusive as pessoas?

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