Porque as cidades não querem receber Jogos olímpicos

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By Goutyne
Porque as cidades não querem receber Jogos olímpicos

Em outubro de 2014, Oslo, a capital norueguesa, retirou (não querem) sua candidatura para sediar os Jogos olímpicos de Inverno de 2022, tornando-se a quarta cidade, após Estocolmo (Suécia). Lviv (Ucrânia) e Cracóvia (Polônia) a mudar de ideia sobre a empreitada.

A decisão foi sintomática em um tempo no qual diversas cidades estão optando por não receber o megaevento, antes extremamente disputado. A questão é: por quê não querem?

Os grandes custos continuam sendo o principal argumento de governos locais e, embora defensores do projeto tentem rebater destacando os possíveis benefícios financeiros (como o fomento ao turismo). Mas está cada vez mais difícil provar os verdadeiros ganhos dos investimentos exorbitantes necessários para preencher as exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Além disso, a própria falta de confiança na organização, pouco transparente, tem desmotivado potenciais candidaturas.

As desistências envolvem tanto os Jogos olímpicos de verão quanto os de inverno, que acontecem sempre dois anos após o evento tradicional, mas com esportes disputados no gelo e na neve.

As desistências dos Jogos olímpicos de 2024

As desistencias dos Jogos olimpicos de 2024

BOSTON (EUA)

Entre os planos da cidade para receber os Jogos olímpicos, estava criar dois bairros inteiros. A população, no entanto, mas não apoiava o projeto e se organizou no movimento No Boston Olympics. Em julho de 2015, consultas públicas puseram fim à ideia.

HAMBURGO (ALEMANHA)

A cidade alemã desistiu de sediar a edição de verão da maior competição esportiva do mundo após um referendo feito com a população em novembro de 2015. Mas entre os votantes, 51,6% foram contra.

“Esse não é um chamado para boicotar a participação dos atletas americanos nos Jogos olímpicos. Se você quer esquiar na neve falsa de um país que é um pesadelo de direitos humanos, tudo bem, mas os EUA deveriam parar de fazer o jogo sujo do COI ao sediar o evento, porque os Jogos olímpicos perderam seu propósito”, escreveu o site “Outsideonline” mas após a desistência de Boston.

A cidade sede da Olimpíada de 2024 será em Paris, Budapeste e Los Angeles, em anúncio feito pelo Comitê Olímpico Internacional em Lima, no Peru. Conseguir uma cidade sede para a Olimpíada de Inverno sempre foi uma tarefa mais difícil do que para a edição de verão dos jogos.

A desistência histórica de Denver, em 1972

A desistência histórica de Denver, em 1972

Tanto que, há mais de 40 anos, o COI ofereceu a possibilidade a Denver, capital do Colorado, a chance de sediar os Jogos olímpicos de 1976. Na ocasião, a mídia local e diversos políticos celebraram a escolha. Mas afinal, o Estado do Colorado tentava levar o megavento para lá há mais de 20 anos.

Em 1972, porém, um político carismático chamado Dick Lamm começou a fazer oposição pública à ideia e, a partir de um referendo, a população decidiu não incorrer nos custos necessários para a realização dos Jogos olímpicos. O COI acabou transferindo o evento, de última hora, para Innsbruck, na Áustria.

Porque não querem sediar uma Olimpíada

Existem algumas hipóteses para a recusa, entre elas, o alto custo de organização do evento, que ultrapassa dois dígitos bilionários. Para algumas nações, os contrapontos, como a criação de empregos, não são vantajosos: eles são na maior parte temporários e, no caso da Noruega, cujas taxas de desemprego são bem pequenas, esse efeito é mitigado.

Há outra questão levantada, ainda, que depõe contra a hospitalidade: as exigências do próprio Comitê Olímpico Internacional. Na ocasião em que Oslo retirou sua candidatura, a revista norueguesa “VG” publicou um artigo no qual listava algumas das exigências do COI, mas entre elas, drinks à vontade nos camarotes dos estádios e uma festa com o Rei.

A organização tem passado por escrutínio público devido à sua estrutura. A diretoria é feita por nomes indicados e não eleitos, e segundo um levantamento do think thank britânico One World Trust, é a organização internacional menos transparente, numa lista de 30 associações.

“Durante anos, cidades viam a Olimpíada como uma etiqueta de prestígio e patriotismo para se buscar. Mais recentemente, tanto nos Estados Unidos como em outras nações democráticas, mas os jogos têm sido vistos como uma fonte de escoamento de recursos financeiros, que encontra hostilidade dos cidadão preocupados com a corrupção e o mal uso de recursos públicos”, escreveu o jornal americano “National Post” sobre a questão.

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