[Resenha] O mundo de Sofia

Goutyne
By Goutyne

O Mundo de Sofia, obra de maior expressão de Jostein Gaarder, foi publicado originalmente aqui em 1991, chegando no Brasil em 1995, e é o maior best-seller da Companhia das Letras, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos só no nosso país.

Como filosofia é um tema considerado árido por alguns adultos, e mais ainda por jovens pela forma que normalmente é tratado, o professor de filosofia Jostein resolveu escrever o livro para introduzir pensadores e teorias através da ficção. E, apesar de intencionalmente ser dirigido aos jovens, nada impede a leitura pelos adultos, ou mesmo a releitura, já que a cada vez é possível retirar novas descobertas.

Um dia, ao voltar para casa, ela encontra uma carta destinada a ela, sem remetente, e dentro um bilhete com uma única pergunta: “Quem é você?”. Depois de uns dias, ela começa a receber outras cartas com outras perguntas curtas, como “De onde você vem?” ou “Como começou o mundo?”. Ela fica curiosa, e tentando entender e responder as perguntas sozinha. Após as cartas, ela começa a receber apostilas de um curso de filosofia, da qual algumas páginas são reproduzidas no livro, e chega a receber uma fita VHS – sim, caros amigos, estamos falando dos anos noventa, quando tínhamos fitas e vídeo cassete.

Ela descobre que quem envia esse material é Alberto Knox, um professor de Filosofia. As aulas começam a ser presenciais – Sofia sai à noite para encontrar o professor, sempre para discutir as questões que chegam a ela: vão passar por Sócrates, Platão, pela filosofia na idade média, até chegar aos pensadores modernos e contemporâneos – ou seja, lhe é apresenta a história da evolução do pensamento filosófico.

Paralelamente aos bilhetes, Sofia começa a receber cartões-postais de um Major do Líbano, destinados a desconhecida Hilde Moller Knag – que por coincidência comemora seu aniversário no mesmo dia que Sofia. Esses cartões vão se tornando cada vez mais enigmáticos, pois o autor deles parece saber tudo a respeito da vida de Sofia.

Somado a isso, Sofia e o Professor começam a perceber que alguém parece controlar esse mundo – e esse é um grande mistério que vai permear o livro e só será descoberto nas cinquenta páginas finais do livro. Então, Sofia e seu professor tentam elucidar esse mistério enquanto discutem filosofia. E o final… Inesperado. Aberto a interpretações, mas não poderia ser de outra forma!

Em uma das conversas iniciais entre Alberto Knox e Sofia Amundsen, é apresentada a seguinte passagem: “…Todas as crianças nascem bem na ponta dos finos pêlos do coelho. Por isso elas conseguem se encantar com a impossibilidade do número de mágica a que assistem. Mas conforme vão envelhecendo, elas vão se arrastando cada vez mais para o interior da pelagem do coelho. E ficam por lá. Lá embaixo é tão confortável que elas não ousam mais subir até a ponta dos finos pelos, lá em cima.”

Só os filósofos têm ousadia para se lançar nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existência. Alguns deles não chegam a concluí-la, mas outros se agarram com força aos pelos do coelho e berram para as pessoas que estão lá embaixo, no conforto da pelagem, enchendo a barriga de comida e bebida.” – Ou seja, quem somos: os ávidos que sobem a superfície através da filosofia, ou os acomodados, que fogem dessas discussões?

Para quem não estudou filosofia, essa pode ser uma leitura densa, e eu sugiro que leia aos poucos – não é um livro de uma sentada só; não é coincidência que, ao final, esse livro certamente estará cheio de marcações. Em alguns momentos, até mesmo o autor sugere reler alguma passagem anterior, quando diz que “Sofia precisou reler aquele capítulo três vezes…” – uma dica sutil de que vale refletir determinada passagem.

Esse é um dos pontos apontados por quem não gostou da leitura, ao dizer que é um livro didático demais. Mas, eu achei que a filosofia foi ensinada de forma criativa e diferenciada daquela estrutura formal, que normalmente costuma afastar o público alvo do livro. Outro ponto favorável é que o autor cria todas as questões em volta do cotidiano de Sofia – ou seja, adolescentes são adolescentes, com as mesmas angústias, seja na Noruega, seja no Brasil.

Apesar de ser um livro voltado para o público infanto-juvenil, não impede que seja lido e apreciado por adultos em busca de uma porta de entrada para as discussões filosóficas. É uma obra de ficção, que dá uma aula sobre história da filosofia. E, com certeza, é um título ainda muito utilizado nas escolas para introduzir essas questões para os jovens, ajudando-os a desenvolver um pensamento crítico e a reflexão, tão importantes em tempos sombrios…

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