[Resenha] O Deus que destrói sonhos

Goutyne
By Goutyne

Uma tentação constante que cerca a vida cristã é a inversão do chamado: a presunção de que Deus precisa abençoar o meu caminho e me seguir em meus planos e sonhos. Essa postura é enganosa e faz parecer que Deus só é fiel quando me abençoa. Mas e se Deus derrubar o meu sorvete, ele deixa de ser fiel? Claro que não. Às vezes, ele só quer chamar a minha atenção para o caminho certo. Eu já testemunhei gente adulta se comportando como criança por não ter a vida que pediu a Deus. Pediu errado! Neste livro, apresento o caminho do discipulado, o caminho para “sonhar” o que Deus já planejou.

A oração do Pai-nosso é a mais perigosa de ser feita porque, de fato, tem o poten-  cial de destruir todos os nossos sonhos: “seja feita a tua vontade”. Quando falo de  sonhos, falo dos nossos mais profundos anseios de termos e sermos algo neste  mundo. É dentro desse anseio que nascem a teologia Good Vibes e a da Xuxa  (aliás, nomenclaturas geniais!).

Bibo, como o grande comunicador e contador de  história que é, conduz o leitor por essa jornada de transformação que ocorre quan-  do nós somos submetidos ao senhorio de Cristo e nossa vontade é deslocada  para o escanteio em face à supremacia da pessoa de Jesus. Passamos, então, a  orar não para que a nossa vontade seja feita, mas para que o pleno governo do  Filho se estabeleça na nossa vida e no nosso mundo. Seja bem-vindo, e prepare-se  para ter a sua vida impactada! 

Nos meus tempos de seminário, ouvi uma frase que não saiu da minha cabeça: “A  vida pastoral é sombria”. Eu me perguntava como algo tão pessimista poderia sair  da boca de um professor tão esperançoso e piedoso. A resposta, segundo ele, es-  tava nas dores e tragédias das pessoas das quais cuidamos. Em O Deus que destrói  sonhos, Rodrigo Bibo de Aquino faz teologia assim, sem ignorar os aspectos som-  brios da vida humana, olhando para o texto bíblico sem ingenuidade triunfalista,  mas como quem enxerga luz, reconhecendo-se num túnel sombrio. Esperança só  é possível com os pés na realidade. Esperança sem realidade é ilusão. Esperança  com realidade manipulada é ilusionismo. 

Nesta obra, meu amigo Rodrigo Bibo resgata os valores bíblicos acerca da vida  cristã. Infelizmente, muito do que se diz “cristão”, na verdade, é falsamente cristão  e até anticristão. Este livro mostra com densidade bíblica e clareza prática — no  estilo inconfundível de seu amado autor — como podemos “andar em amor, como Cristo nos amou” (Efésios 5:2) no mundo contemporâneo. 

Em tempos nos quais equivocadamente as pessoas tentam manipular as Escri-  turas e o próprio Deus em favor de si mesmas, meu amigo Bibo traz verdades in-  convenientes, mas essenciais, da Palavra de Deus, mostrando que Deus não tem  compromisso com nossos sonhos, mas com sua Palavra. Essa leitura vai colocar  o leitor no trilho do discipulado cristão. 

Esta obra é um belo convite à desilusão, um chamamento à vivência do verdadeiro  evangelho em detrimento da manutenção das nossas expectativas ilusórias. Em  meio a uma cultura marcada pelo individualismo, pela autonomia e pelo consumo,  na qual seres humanos buscam significado e propósito, nada como sermos liber-  tos da escravidão de conduzir a nossa própria história e nos encontrar na grande  história de Deus.  Diante de um cenário evangélico brasileiro em grande parte infantilizado, no qual  as Escrituras precisam retomar o seu lugar de proeminência, o autor nos convida  novamente ao privilégio e à responsabilidade do discipulado de Jesus Cristo. 

A obra que você tem em mãos propõe uma reflexão importante sobre as moti-  vações de nosso relacionamento com Deus. Nós o buscamos para que ele realize  nossos sonhos ou por que a vida (temporal e eterna) sem ele seria um agoniante  tombo no nada? E, se o buscamos, fazemos isso apesar de toda e qualquer difi-  culdade ou, quando a coisa aperta, nós nos lançamos a questionamentos e promo-  vemos rusgas birrentas com o Criador?

Afinal, será que estamos dispostos a  permanecer aos pés da cruz na alegria e na tristeza, faça sol ou chuva, ou estabe-  lecemos por base de aliança o recebimento de bênçãos e a realização de sonhos  hedonistas, que só alimentam nossos desejos?  A pergunta central desta obra é: estamos dispostos a seguir Cristo mesmo quan-  do ele, para o cumprimento de seus misteriosos e incompreensíveis propósitos 

eternos, implode nossos planos, estilhaça nossos sonhos, vira ao avesso nossas  ambições e nos diz que “não, pois minha graça lhe é suficiente”? Em dias como os  atuais, muitos enxergam o Criador de todas as coisas como um incansável con-  cessor de mimos. Para eles, um deus que se nega a atender os caprichos de seus  filhos não merece ser adorado. O problema é que essa é uma postura idolátrica,  pois cria um deus que não é o Deus das Escrituras e incentiva um relacionamento  que nada tem a ver com o que o Eterno deseja promover.  O autor lança o desafio: “A reflexão central deste livro é apontar para a neces-  sidade de reconhecer o senhorio de Cristo em nossa vida. Entender que somos  escravos submetidos a uma missão. E essa missão afeta tudo o que somos e faze-  mos”.

Para boa parte dos cristãos brasileiros, essa afirmação é uma ofensa, pois  nos obriga a descer de nossa prepotência e nos põe no devido lugar: filhos, mas  escravos; temos privilégios, mas eles não nos livram das aflições; sonhamos com  nossos desejos, mas o concessor das boas dádivas frequentemente frustra nossas  expectativas. Não há como fugir dessa realidade, e este livro não deixa dúvida  sobre isso.  Convido você a desfrutar da leitura das próximas páginas com um coração hu-  milde e resignado por saber que os pensamentos de Deus são muito mais ele-  vados que os nossos, que os planos divinos não podem ser frustrados e que a  vontade do Eterno é perfeita.

Se baixarmos as armas e nos abrirmos para a real  manifestação do Criador em nossa vida, caminharemos pelos dias com um cora-  ção muito mais capaz de resistir às decepções, sabendo que, na escassez ou na  fartura, Deus segue sendo Deus, bondoso, maravilhoso, digno de louvor, serviço,  honra, glória e majestade.  Este livro lança o desafio: seus sonhos não se realizaram? Ótimo. Confie no  Onipotente, pois ele sabe o que faz. Ele vê o que você não vê. E ele decide o que  fazer sem atentar para nosso coitadismo.Ou, na melhor linguagem “bibotalkiana”,  muitas vezes Deus destrói nossos sonhos simplesmente porque os nossos sonhos podem ser uma bela droga. 

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