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Conheça o mito de Glauco e Cila

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Não só de peixe vive o pescador – os encantos do mar também podem ser fatais. E para quem pensa que mortais não podem virar deuses Glauco e Cila, essa história é para você. Este é mais um conto que toma forma na beira da água, a história de Glauco e Cila, o deus que não aceitou a rejeição.

O mito de Glauco e Cila

Glauco era um mero mortal, praticante e dependente da pesca. Um dia, ao retirar sua rede de volta para a terra, viu que havia pego uma enorme quantidade de peixes e de várias espécies! Dia de sorte. Seguiu o ritual, como de costume. Levando a rede da praia até as folhagens verdes da grama, despejando os peixes ali mesmo.

Este mágico lugar onde Glauco repousou era uma linda ilhota no meio de um rio. Um lugar inabitado, solitário, nunca usado ou visitado por qualquer outra pessoa, senão o pescador. Tudo parecia tranquilo, até os peixes – até então mortos – começarem a mexer suas barbatanas. Como se estivessem na água, eles começaram a reviver e se debateram bastante até chegar à borda. Assim, saltaram e escaparam de volta para sua casa.

Chocado e maravilhado

Glauco, por sua vez, observou a cena, num misto de “chocado e maravilhado” e indagou-se sobre a causa de tal fenômeno: seria intervenção de algum deus? Uma erva diferente com poder especial naquela grama? Atiçado pela curiosidade, resolveu testar. Pegou umas poucas ramas e provou.

O néctar das folhas, no entanto, ao atingir sua língua causou-lhe um efeito inesperado. O pescador viu-se agitado e com um ímpeto incontrolável em se jogar na água, assim lançou-se com tudo na correnteza, despedindo-se terra.

Antes que você pense que Glauco não chegou a lugar algum, o pescador acabou encontrando-se em outro mundo, o mundo dos deuses. Apesar de, até então, ainda pensar ser um mortal. O pescador viu-se recebido e acolhido com grande carinho pelos deuses da água. Dando-lhe as boas-vindas em nome de sua imperiosa sociedade. Assim, com consentimento de Oceano e Tétis, sua esposa e mãe das ninfas marinhas. Soberanos das águas, tudo o que era mortal em Glauco foi levado embora. A água de cem rios caiu sobre ele e. Assim, ele perdeu toda essência e noção da sua consciência e antiga natureza.

Foi toda uma metamorfose: ao despertar, Glauco havia mudado em fisionomia e alma, tornou-se um belo deus. Agora, seus ombros eram mais largos, seu cabelo era esverdeado como os mares e o acompanhava pela água. Além de seus membros inferiores tomarem a forma de uma cauda de peixe, como um verdadeiro tritão. Os deuses dos mares o cumprimentaram e o pescador estava feliz com seu novo destino.

A paixão de Glauco por Cila

Em certa ocasião na costa italiana, Glauco, então um deus, ao vir à superfície, viu uma linda moça na beira da água, procurando por um lugar para descansar e se banhar. Tratava-se de Cila, filha de Crataeis. Ninfa favorita dentre aquelas da água, quem imediatamente roubou o coração e a atenção de Glauco.

Ele conversou com Cila, dizendo palavras que pudessem faze-la ficar, mas a jovem, assustada com a aparência do rapaz, resolveu correr. E correu, até chegar no topo de um costão rochoso, vasto e alto. O lugar era seguro, portanto, ela parou, sem saber se ele era um deus ou um monstro, visto sua cauda de peixe e rosto de homem. Ele podia saber os pensamentos da jovem, chegando próximo a uma rocha e contando a ela não ser nenhum monstro, mas o deus do mar. Onde nem mesmo Tritão ou Palaemon tinham maior poder que ele. Contou-lhe também de sua história enquanto mortal, mas Cila fugiu.

Indignado e com raiva da rejeição, Glauco foi furioso ao encontro de Circe, a feiticeira filha de Hélio, que vivia na ilha em que Ulisses, um dia, chegaria. O deus a cumprimentou e logo implorou por sua piedade, dizendo que era conhecedor do poder de suas ervas. Ele não queria ser curado do amor, nem ao menos de suas feridas causadas pelo escárnio de Cila, senão para que a jovem compartilhasse do mesmo inferno e sofrimento que ele.

A rejeição do rejeitado

Circe, no entanto, encantou-se pelo belo deus e sugeriu a ele procurar alguém que compartilhasse de seu amor, pois ele era merecedor de não precisar procurar por alguém em vão.

De nada adiantaram as palavras de Circe, assim que Glauco respondeu que poderiam árvores nascer no fundo do oceano, algas marinhas crescerem nas montanhas. Mas ele jamais deixaria de amar Cila. Engolindo sua ira e vontade de punir Glauco, por ironicamente ser rejeitada pelo rejeitado. Circe resolveu transferir sua fúria para a pobre Cila. Assim, ela preparou suas famosas ervas de terrível suco, cantando seus feitiços demoníacos, e partiu.

O castigo de Cila

Havia uma pequena baía na costa sul da Itália, em Sicília, onde Cila morava e adorava ir para se refugiar e banhar-se. Em um dia de sol quente. Veio Circe, contaminando a pacífica baía com suas ervas deformadoras, que após liberarem suas essências, passaram pelos encantamentos da feiticeira, que desapareceu. Cila veio para banhar-se, molhando da cintura para baixo de seu corpo, quando ao seu redor ela viu seis bestas monstruosas que latiam, como cães. Aterrorizada e por impulso, ela tentou fugir das bestas, sem perceber que se tratava de seu próprio corpo.

Quando olhou para suas pernas e seus pés, a pobre jovem encontrou mandíbulas. Nada de pernas, mas um pacote de bestas caninas que faziam uma fileira de latidos e barulho. Glauco, por sua vez, lamentou e fugiu arrependido do pedido que fez a. Circe, quem abusou de seu poder de feiticeira e havia sido muito cruel com Cila.

O final da triste história é que a pobre Cila, tornou-se uma criatura cheia de ódio e rancor, que viveu enraizada no mesmo lugar desde o ocorrido. Ela teria encontrado prazer em devorar marinheiros que vinham de encontro aos seus sussurros. Quando teve a chance de expor sua raiva contra Circe. Cila teria roubado Ulisses de seus companheiros e afundado navios galeões. Até hoje, diz-se que Cila foi transformada em um rochedo que ainda existe, o qual os marinheiros passam longe e se afastam.