Aqui no Brasil, é difícil encontrar uma casa que ainda não tenha energia elétrica e uma geladeira, mesmo nos lugares mais remotos e humildes. Mas a situação é diferente nas áreas rurais do norte da Nigéria, que não são desenvolvidas como Lagos, a metrópole na costa sul do país: não há energia e as pessoas precisavam comercializar tudo que plantavam rapidamente, para não estragar.
Precisavam, no passado. Isso porque um professor nigeriano inventou uma solução bem prática para conservar comida, mesmo sem energia elétrica. Uma thread sobre a “geladeira do deserto”, criada pelo professor Mohammed Bah Abba.
Professor, ceramista e inventor
Mohammed Bah Abba veio de uma família de ceramistas e se tornou professor, mas não se esqueceu de seu povo da zona rural no norte da Nigéria. Graduado em geografia, biologia e química, ele somou sua vivência aos conhecimentos adquiridos com estudos e usou panelas de barro para criar a “geladeira do deserto”.
A ideia é bastante simples e, justamente por isso, impressiona: uma panela de barro menor e mais rígida, onde vão os alimentos, é colocada dentro de outra panela maior, mais porosa; o espaço entre os dois recipientes é preenchido com areia molhada; por fim, um pano molhado é colocado em cima dos potes. A evaporação da água da areia retira o calor do recipiente interno e conserva os alimentos.
O professor Mohammed Bah Abba usou recursos próprios e recrutou ceramistas para criar e distribuir gratuitamente as primeiras “geladeiras do deserto” — chamadas de zeer em árabe. Em 2001, ele ganhou 75 mil dólares em um prêmio de empreendedorismo da fábrica de relógios Rolex — e reinvestiu tudo em seu projeto.
Diversas civilizações em todo o mundo e ao longo da história usaram a evaporação para conservar alimentos — como os Yakchal, da Pérsia, ou os botijos espanhóis. Mas a ideia do professor nigeriano se destaca por ser extremamente prática e portátil, utilizando os recursos que o povo já possuía (areia e panelas de barro) para melhorar sua vida.
Com os refrigeradores zeer, a alimentação local melhorou, a renda das famílias (geralmente chefiadas por mulheres) aumentou e é possível até armazenar medicamentos. O professor criou até campanhas educativas, com atores locais, para tornar sua invenção mais popular. Mohammed Bah Abba faleceu em 2010, aos 46 anos, mas sua “geladeira do deserto” continua sendo utilizada em toda África até hoje.