AriDante (apelido que o livro ganhou por ter um título imenso) narra a historia de dois amigos no verão de 1987. De um lado temos Aristóteles: calado, rebelde, mal-humorado e extremamente antissocial.
Do outros temos Dante: jovial, aventureiro, excêntrico e poético. Ambos se conhecem à beira de uma piscina em um dia muito quente e, à partir de então, vários passeios de bicicleta, corridas matinais e acidentes graves vão acontecer.
A amizade improvável entre duas pessoas tão opostas vai florescendo dia a dia; um aprendendo com o outro. Até que, claramente, alguém precisa se mudar para longe. Porém, essa distância não será o fim da amizade, mas o início de sentimentos, sensações e descobertas que até então estavam camuflados por hormônios e ansiedade. Será que a maturidade vai trazer o esclarecimento necessário para que eles entendam o que sentem um pelo outro?
Indo direto aos aspectos positivos da história, a escrita é lindamente poética, com passagens que merecem uma marcação para serem lidas depois. A narrativa é lenta e sem um clímax definido, uma vez que vai retratar o desenrolar dessa amizade ao longo dos quase dois anos que a historia conta. Porém, isso não torna o livro maçante, na verdade o autor conseguiu tornar esse fato uma fonte de curiosidade para o leitor (O que vai acontecer a seguir?).
Como todo livro de temática LGBTQIA+, passa pela linha clichê do autoconhecimento e aceitação que uma outra pessoa nos causa quando ficamos apaixonados. Porém, a história é narrada do ponto de vista de Ari, que não tem uma boa autoconsciência de sua sexualidade.
Ele está tão imerso em problemas familiares e empregando tanta energia em ignorar o mundo ao redor que nem percebe quem é e o que quer. Esta é a diferença do livro para a linha clichê: mostrar o quanto negligenciamos a nós mesmos afeta nosso humor, nossa vontade e nossas perspectivas.
Outro fato é a diferença entre os dois núcleos familiares narrados: em ambos existe o amor, porém em um está escrachado e no outro encoberto por segredos. Mais uma vez o impacto familiar é retratado como um fator importante para a construção do caráter, da segurança e da saúde mental.
Dos aspectos negativos, os personagens centrais são insuportáveis e inverossímeis. Dante é irritantemente alegre e de bem consigo mesmo, o que seria impossível de ocorrer uma vez que ele é um adolescente gay, excêntrico e que vive nos anos 80.
Claro que não é uma utopia de ocorrer, mas trazendo para a realidade comum, ele sofreria bullying ou exclusão por parte dos colegas de escola. Acredito que o autor poderia ter retratado essas coisas, mas feito um Dante que não se deixa influenciar por elas.
Já Aristóteles é o típico adolescente chato, respondão, que carrega uma nuvem de chuva escura de estimação, que odeia tudo e todos. Ele passa a maior parte do tempo se abstendo de responder ao carinho e amizade que Dante e os pais oferecem. Ele tem atitudes deliberadamente negligentes e egoístas. Ele não age como age por impulso e falta de sabedoria, mas sim por escolha própria.
Bom, o livro tem seus altos e baixos e possui sim algumas discussões necessárias como homofobia, transtorno de ansiedade, dependência emocional e TEPT. Eu recomendo a leitura. mas com expectativas baixas. A linguagem poética é o grande ponto alto da obra.