Estudiosos egĆpcios argumentam que a rainha nascida no ano 69 antes de Cristo, em Alexandria, no Egito, tinha descendĆŖncia europeia e nĆ£o africana. Um advogado local, inclusive, tenta na justiƧa suspender o lanƧamento da sĆ©rie no Egito.
A rainha Cleópatra, que governou o reino ptolomaico do Egito entre os anos de 51 a.C. e 30 a.C., era uma mulher negra ou tinha a pele clara por pertencer a uma dinastia macedÓnica? A controvérsia, que veio à tona após a exibição, no dia 12 de abril, de um trailer da Netflix retratando a imperatriz como africana, no docudrama Rainha Cleópatra.
Curiosamente, quando se discute a elaboração de alguma obra artĆstica sobre Cleópatra, pouco se fala sobre suas realizaƧƵes como governante no Ćŗltimo grande impĆ©rio egĆpcio, que abrangia toda a costa leste do MediterrĆ¢neo: do Egito ao Chipre, incluindo partes da LĆbia atual e outras Ć”reas do Oriente MĆ©dio.
Recentemente, houve grande polarização nas redes quando as atrizes Angelina Jolie e Lady Gaga foram cogitadas para protagonizar o remake do filme clĆ”ssico de 1963, estrelado por Elizabeth Taylor. De pele clara, a atriz americana teve, na Ć©poca,Ā que usar uma maquiagem especial,Ā elaborada por Alberto de Rossi, para assumir uma aparĆŖncia bronzeada, ficando com uma pele de cor dourada-alaranjada.Ā
Por que a nova Cleópatra é negra?
De acordo com Jada Pinkett Smith, produtora-executiva da sĆ©rie documental African Queens, da qual Rainha Cleópatra faz parte, a ideia da obra Ć© recriar “a verdadeira história da rainha”.
“NĆ£o costumamos ver ou ouvirĀ histórias sobre rainhas negras, e isso foi muito importante para mim, assim como para minha filha e para minha comunidade, para podermos conhecer essas histórias, pois hĆ” muitas delas”, diz a atriz, que tambĆ©m narra o documentĆ”rio.Ā
Segundo o release da Netflix, durante o tempo do reinado da Cleópatra, a população egĆpcia era multicultural e multirracial. Por isso, Ć© bastante improvĆ”vel que alguĆ©m consiga algum dia documentar a verdadeira “raƧa” de Cleópatra. “Alguns especulam que ela era uma mulher egĆpcia nativa, enquanto outros dizem que ela era grega”.
O que dizem os especialistas?
Modernamente, a classificação da humanidade em raƧas Ć© considerada ultrapassada, pois essa divisĆ£o ā fixada pelo naturalista sueco Carl Linnaeus no sĆ©culo XVI ā nĆ£o Ć© mais usado nos meios acadĆŖmicos. AlĆ©m disso, falar em uma raƧa macedĆ“nica Ćŗnica seria incorreto, pois a regiĆ£o abrange a GrĆ©cia, a MacedĆ“nia do Norte, a BulgĆ”ria e a AlbĆ¢nia.
No calor dos debates, um advogado egĆpcio chamado Mahmoud al-Semary ficou tĆ£o incomodado comĀ Cleópatra ser representada pela atriz negra Adele James, que entrou com um processo judicial contra a Netflix, acusando a plataforma de “tentar apagar a identidade egĆpcia”.
Entrevistada pela revistaĀ Time, a professora de Estudos ClĆ”ssicos da Universidade de Denison, Rebecca Futo Kennedy, esclarece queĀ āperguntar se alguĆ©m era ‘negro’ ou ‘branco’ Ć© anacrĆ“nico e diz mais sobre investimentos polĆticos modernosĀ do queĀ tentar entender assuntos antigosĀ em seus próprios termosā. Para a professora, essas visƵes antagĆ“nicas sobre Cleópatra dizem mais respeito a nós. Mas “quem somos nós?”, indaga.Ā